Subordinação completiva A subordinação completiva (substantiva ou integrante) aproxima-se às expressões nominais (sintagmas nominais) que desempenham a mesma função sintáctica. Assim, na seguinte frase, o SN na função de objecto directo é substituível por uma oração completiva que, concomitantemente, desempenhará a mesma função sintáctica do objecto directo: O Pedro, no Dia das Piadas, inventou uma mentira. O Pedro, no Dia das Piadas, inventou que tinha mil euros na loteria. Nesta frase, o sintagma nominal, uma mentira e que tinha mil euros na loteria desempenham a mesma função do objecto directo. As orações completivas são seleccionadas pelo predicador da oração subordinante, cujo núcleo pode ser verbal, adjectival ou nominal. Consequentemente, a complementação denomina-se complementação nominal (ter a ideia de que + F^-) e complementação adjectival (ser capaz de+F^-) e complementação verbal (prometer que + F^-). As orações completivas podem ser finitas, caso o verbo conjugado ocorre nos modos indicativo ou conjuntivo, ou não finitas, caso em que o verbo ocorre no infinitivo flexionado ou não flexionado. Classificação das orações completivas de acordo com a função sintáctica De acordo com a função sintáctica da oração completiva, estas classificam-se em: subjectivas, objectivas (directas, indirectas, objectivas oblíquas), predicativas, apositivas e com a função de agente da passiva. Orações completivas de sujeito As orações completivas de sujeito (tradicionalmente denominadas subjectivas) exercem a função de sujeito e podem ser substituídas por um sintagma nominal na mesma função, ou por um pronome demonstrativo neutro (isso, isto, aquilo), mas nunca por um pronome pessoal clítico, como mostram as seguintes frases: É claro que não tenho medo. É claro isso. ou Isso é claro. *É claro-o. As orações completivas subjectivas podem ocorrer em posição pré-verba ou pós-verbal. No primeiro caso, as orações comportam-se como ilhas fortes e ocorrem tipicamente quando são seleccionadas por verbos inferenciais e causativos, como: demonstrar, ilustrar, indicar, mostrar, reflectir, revelar, significar, sugerir, entre outros com um sentido semelhante. A sua posição corresponde ao seguinte gráfico: F^+ SN SV conj F^- V SN Que haja desinteresse, reflecte o não envolvimento de todos neste projecto. sujeito predicado objecto directo São exemplos destas construcções as seguintes frases: Que tenham aparecido tantas pessoas na manifestação, indica o grau do descontentemento dos trabalhadores. Que haja desinteresse, reflecte o não envolvimento de todos neste projecto. A posição pré-verbal nestas construcções reflecte a ordem típica de palavras na oração, que, normalmente, é iniciada pelo sujeito, seguido de predicado e complemento directo. Este exemplos citados são substituíveis pelo sintagma nominal com o núcleo nominal facto: O facto de que tenham aparecido tantas pessoas na manifestação, indica o grau do descontentemento dos trabalhadores. O facto de que haja desinteresse, reflecte o não envolvimento de todos neste projecto. Às orações completivas de sujeito na posição pré-verbal pertencem, de acordo com a sintaxe luso-brasileira, também as que são introduzidas pelo pronome relativo quem como ilustra o seguinte exemplo. Quem canta, seus males espanta. Quem sabe, não esquece. A sintaxe portuguesa, contudo, considera estas frases como relativas com antecedente não expresso (ver mais adiante – capítulo de orações relativas). As orações completivas de sujeito, predominantemente se encontram na posição pós- verbal, funcionando como ilhas fracas. Esta posição pós-verbal, contudo, não reflecte a posição canónica do sintagma nominal na mesma função, o que, às vezes, leva incorrectamente a interpretá-las como objectivas. É possível que o João não venha à festa. É verdade que o João está doente. F^+ SV SN V conj F^- É possível que o João não venha à festa. predicado sujeito Para identificar a função de sujeito das frases completivas, é possível aplicar os mesmos testes de controle que existem para a identificação da função do sintagma nominal. Didaticamente, podem ser utilizadas as perguntas: Quem é que...? ou O que é que.....? A resposta a esta pergunta será o sujeito. Assim, no período: É possível que o João não venha à festa. identificaremos a oração completiva de sujeito ao responder à pergunta O que é que é possível?, obtendo a resposta certa: que o João não venha à festa. Orações completivas de objecto directo As orações completivas de objecto directo, denominadas tradicionalmente objectivas, são sempre seleccionadas por verbos transitivos e podem ser substituídas por um pronome demonstrativo neutro isso em posição pós-verbal ou pelo pronome clítico acusativo –o. O João sabe que estamos à espera dele. O João sabe isso. O João sabe-o. Em geral, estas orações completivas são seleccionadas por verbos transitivos directos ou ditransitivos, ocorrendo, consequentemente, em posição pós-verbal, como mostra o seguinte esquema gráfico: F^+ SN SV D N V SN conj F^- O João sabe que estamos à espera dele. sujeito predicado objecto directo Muito esporadicamente estas orações podem ocorrer também em posição pré-verbal da mesma maneira como o seu homólogo nominal: Estas construcções têm um valor enfático, estilisticamente marcado, sendo pouco habitual na linguagem corrente. A sua posição atípica pode levar a confundir a sua função de objecto com a de sujeito. Que ela fez o exame, todos sabemos. As orações completivas são, tipicamente, introduzidas por um complementador que, como ilustram os casos acima mencionados. Ao mesmo tempo, quando são seleccionados por verbos de inquirição (investigar, perguntar), verbos declarativos (dizer, decidir) ou epistémicos (saber), podem igualmente ser introduzidas pelo complementador se: O teste de sangue vai mostrar se o condutor conduziu sob o efeito do álcool. A Irene pergunta se pode trazer os filhos para a festa. A polícia ignora se o condutor se adormeceu ao conduzir o autocarro. Algumas orações completivas de objecto directo podem ser introduzidas por conjunções adverbiais ou pronomes indefinidos: quando, como, qual, de onde, etc: Estas orações, contudo, são interpretadas como relativas livres, de acordo com a sintaxe portuguesa (ver o capítulo de orações relativas). Sei como ele perdeu a vida. vs. Sei-o. Detesto (a) quem mente. vs. Detesto-o. Perguntou-me quando foi isso. vs. Perguntou-mo. Nalguns casos, quando a oração completiva está no modo conjuntivo, ocorre a supressão do complementador. Este uso verifica-se, quase exclusivamente, na escrita, sobretudo em correspondências formal (linguagem comercial, jurídica, etc), como ilustram os seguintes casos: Requeiro (-) seja enviado o Processo a outra instância. Solicito (-) me seja enviado o parecer por correio. Para além da supressão, verifica-se, curiosamente, na linguagem coloquial, o fenómeno de reduplicação do complementador na oração subordinada, que consiste na repetição do complementador que à direita do sujeito da oração subordinada ou à direita de uma expressão adverbial. Eu acho que ele que não tem um grande queda para estudar. Acho que uma pessoa que deve desfrutar da vida Estavam convencidos de que lá fora que se vivia melhor. Telefonou que hoje que os preços são melhores. Orações completivas de objecto indirecto As orações completivas de objecto indirecto, denominadas orações substantivas objectivas indirectas segundo a terminologia tradicional, são incluídas, pela sintaxe portuguesa, entre as orações relativas livres, uma que contêm um pronome relativo. Para mostrarmos a heterogeneidade classificatória, contudo, incluiremos aqui também a classificação tradicional. Estas orações são seleccionadas por verbos transitivos indirectos e podem ser substituídas por um pronome clítico dativo me, te, lhe, nos, vos, lhes. Canonicamente, estas orações, tal como o sintagma nominal homólogo, encontram-se em posição pós-verbal. O livro foi enviado a quem o tinha pedido. Pagou a quem ele tinha prometido. Mandou a carta a quem queria. F^+ SN SV D N V SN F^- O livro foi enviado a quem o tinha pedido. sujeito predicado objecto indirecto Orações completivas oblíquas As orações completivas oblíquas são intepretadas, de acordo com a tradição luso-brasileira, como orações completivas indirectas, não sendo tomada em conta a diversificação das construções prepositivas. São introduzidas por uma presosição (salvo a e para), regida pelo verbo da oração principal e a conjunção que. F^+ SN SV D N V SNp P conj F^- sujeito predicado objecto oblíquo Estas orações podem ser substituídas pelas forma tônicas de um pronome demonstrativo neutro (isso, isto, aquilo) que é a única que é compatível com preposições. Nunca podem ser substituídas por um pronome clítico dativo ou acusativo, como ilustram os seguintes exemplos: O João concordou com que a Maria o acompanhe. O João concordou com isso. *O João concordou-o. Entre as preposições que introduzem orações completivas oblíquas, pertencem, entre outras, as seguintes: · preposição a: regida pelos verbos acostumar-se , arriscar-se, aspirar, atender, conduzir, dever-se, habituar-se, inclinar-se, , levar, opor-se, resistir, tender; · preposição com: concordar, conformar-se, contar, contentar-se, fazer; · preposição de: aperceber-se, arrepender-se, discordar, duvidar, envergonhar-se, esquecer-se, gostar, lembrar-se, precisar, queixar-se, recordar-se; · preposição em: acreditar, apoiar-se, assentar, basear-se, confiar, insistir, consistir, reisidir, estar interessado; · preposição por: ansiar, bater-se, esforçar-se. Em contextos muito exactos, as preposições podem ser, facultativamente, suprimidas. Muito frequentemente é omitida a preposição de, como ilustram os seguintes casos: Portas discorda que a direcção do partido dê liberdade de voto aos militantes . Passados 11 anos, convenceu-se que viverá muitos mais . Mas o treinador do FC Porto concorda que a sua equipa «não fez nada» . Este fenómeno de supressão pode ser explicado pelo facto de que a preposição de tem um contributo semântico muito reduzido na oração, e, na maioria dos contextos é practicamente desprovida do significado. No caso de outras preposições, cujo valor semântico é significativo, estas não se suprimem, com a excepção de alguns casos muito limitados, como são os seguintes: insistir, confiar, ansiar. Este fenômeno é chamado queísmo e é facultativo: O árbitro insistiu (em) que o jogo prosseguisse . Confio (em) que a morte não acontece. Anseiam (por) que o novo treinador consiga transformar as pérdidas da equipa em vitórias; Por outro lado, na linguagem falada, observa-se com alguma frequência a cocorrência de uma preposição que antecede a oração completiva oblíqua. Uma vez que a preposição desnecessariamente presente é, geralmente, a preposição de, este fenômeno é denominado dequeísmo. Contudo, o dequeísmo pode afectar também outras preposições e a sua ocorrência pode ser explicada pelo seu uso no sintagma preposicional: *Penso de que o árbitro favoreceu os nosso adversários. Penso na artbitragem do jogo de ontem. *Acredito de que os eleitores confiarão em nós. Acredito numa nova victória eleitoral. Ao mesmo tempo existem restrições no que respeita às possibilidades combinatórias dos verbos regidos por uma preposição que seleccionam frases completivas interrogativas introduzidas por uma preposição. Nestes casos, a preposição do verbo é suprimida. *Ele não se lembra de a que horas chega. Ele não se lembra m (-) a que horas chega. Caso estas orações não sejam introduzidas por uma preposição, a preposição pode ser facultativamente utilizada: Não me lembro (de) onde pus os óculos. Não me informaram (de) quantas pessoas vêm. Orações completivas predicativa, apositiva e de agente da passiva As orações completivas ainda podem desempenhar a função predicativa, apositiva e a de agenta da passiva, como exemplificam as seguintes construcções: Quem mais reclama é quem menos sabe. (função predicativa) Ele me disse apenas isto: não me aborreça! (função apositiva) Este trabalho foi escrito por quem entende esta matéria. (função de ag.da passiva) A primeira e a terceira frase, contudo, podem ser interpretadas com relativa livres com antecedente não expresso, uma vez que contêm o pronome relativo quem. Modo nas orações completivas A selecção do modo nas orações completivas prende-se, directamente, com o estatuto sintáctico das orações. A modalidade de dicto (da oração subordinante), dicta, tipicamente, a modalidade de ré (da oração subordinada). Como relação de modalidade existente entre as unidades oracionais do mesmo período é directa, os romanistas checos atribuem-lhe o nome de períodos directamente modais. Existem vários tipos de modalidades definidos pela teoria linguística contemporânea: uns implicam crença, capacidades e necessidades internas dos indivídios, outros implicam obrigação e permissão ou volição. Em todas esta áreas, manifesta-se, como elemento oranizador, o a dicotomia de dois mundos: possível e hipotético x factual e real. Assim, existem quatro tipos de modalidade básicos. 1. O primeiro valor modal indicado designa-se como modalidade epistémica, o qual se prende com diferentes graus de certeza ou com a avaliação de probabilidade acerca do conteúdo proposicional da frase. Neste pode exprimir-se certeza, ou possibilidade, probabibilidade, dúvida: Creio que o Deus existe. É provável que o Deus exista. É possível que o Deus exista. O Pedro duvida que o Deus exista. 2. O segundo valor modal prende-se com a capacidade ou a necessidade interna, psicológica ou física, do sujeito de realizar alguma acção: saber, ser capaz, precisar, necessitar: “Ela é capaz de estudar toda a matéria num único dia.” 3. O terceiro valor modal é chamado modalidade deôntica. Esta implica um acto de permissão ou autorização, e de imposição de uma obrigação: Tens de me dizer a verdade. A professora permitiu aos alunos que fizessem um intervalo. 4. O quarto valor modal é designado como modalidade desiderativa, e tem a ver com a expressão de volição ou do desejo, como mostram os seguintes exemplos: Eu quero passar as férias no Algarve. Espero que estejas bem. A modalidade pod ser realizada por verbos auxiliares modais (dever, poder, ter que, haver de, desejar, querer, esperar, etc), por adjectivos modais na posição predicativa (obrigatório, permitido, enceessário, possível, provável, proibido, bom, desejável, etc.), por advérbios modais, como possivelmente, talvez, eventualmente, dificilmente, certamente, obrigatoriamente, inveitavelmente, oxalá, desejavelmente, etc. e também, por modos verbais. MODOS VERBAIS Os modos do português são o imperativo, o conjuntivo e o indicativo. O condicional (futuro do passado) e o futuro (futuro do presente) do indicativo também podem veicular certos valores modais epistémicos (de probabilidade, sobretudo). Em orações completivas finitas podem ocorrer os modos do indicativo e do conjuntivo. O seu é restringido, no período, às regras de compatibilidade modal. INDICATIVO O modo de indicativo veicula os valores de modalidade epistémica positiva, isto é, ocorre em contextos que expressam a crença de alguém na verdade da frase. Assim, o indicativo ocorre nas orações completivas seleccionadas pelos predicadores nominais, verbais e e adjectivais que incluem: · modalidade epistémica expressa pelos verbos “de actividade mental”, como aceitar, achar, acreditar, calcular, compreender, considerar, certificar, crer, descobrir, entender, fingir, ignorar, imaginar, pensar, prever, reconhecer, saber e supor. Ex: Ele sabe que a Ana mora em Lisboa. · expressões declarativas, por exemplo acrescentar, admitir, afirmar, alegar, assegurar, assumir, concluir, concordar, confessar, criticar, declarar, decidir, dizer, insinuar, jurar, negar, observar, pedir, pregar, proclamar, prometer, entre outros: Ex: Prometo que te vou visitar amanhã. O Paulo negou que foi visitar a mãe. · expressões que introduzem um cenário imaginário: fingir, imaginar, sonhar, supor, entre outros: Ex: Ele sonhou que estava de férias. · expressões de crença: crer, acreditar, ter a certeza, concluir, tirar a conclusão, confiar, convencer, verificar, ser verdade, ser certo, ser claro, ser evidente, ser lógico, óbvio. Ex: Tenho a certeza de que está em casa. Consecutio temporum – dependência temporal Existem, em português, normas de correlação, de correspondência temporal ou, ainda, de consecução dos tempos verbais (em latim, “consecutio temporum”), determinadoras de harmonização quanto ao uso das formas dos verbos. A gramática latina chamava a esta correspondência entre os tempos e modos pelo nome consecutio temporum Normalmente, numa oração composta articulada com determinados conectivos subordinativos, estabelece-se uma relação modal directa ou paralela entre a oração principal, cujo verbo está flexionado normalmente no modo indicativo, e as subordinadas, conjugadas em algum tempo do conjuntivo ou do indicativo, de acordo com a modalidade da oração principal. Nas orações subordinadas com indicativo, devem ser respeitadas as regras relativas à transposição temporal que ocorre no caso do discurso indirecto. Discurso relatado – nas completivas com indicativo A localização ou ordenação temporal do discurso relatado caracteriza-se pela reprodução de enunciados já produzidos pelo locutor. Discurso relatado é um discurso indirecto. Por meio de um discurso indirecto relata-se um discurso directo (uma pergunta, uma resposta, um diálogo, etc.). O discurso indirecto consiste na transmissão diferida de palavras geralmente anteriormente pronunciadas. O autor do discurso indirecto incorpora no seu próprio discurso frases suas ou de outro locutor, construindo orações subordinadas e alterando a forma como foram inicialmente proferidas. No plano formal, na escrita, o discurso directo é marcado pelos dois pontos, o travessão, a mudança de linha, o uso de exclamações, de interrogações, de interjeições, de vocativos, de imperativos, e pelo uso da 1.ª e da 2.ª pessoa do discurso. No discurso indirecto ocorre o relato do que foi dito, respeitando-se o conteúdo, mas alterando-se a forma. Essa reprodução é afectada por uma modalização, a qual pode variar desde a reprodução mais neutra, através dos verbos: dizer, telefonar, avisar, afirmar, (por.ex. A Ana disse que ia ao cinema) até uma interpretação avaliativa mais forte, expressas pelos verbos de modalidade deôntica, desiderativa ou de necessidade interna. O discurso indireto implica também uma transposição ao nível da dêixis pessoal, temporal e espacial. Seguem-se alguns exemplos desta transposição: · Os pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos na 1.ª e 2.ª pessoas gramaticais no discurso directo passam à 3.ª pessoa no discurso indirecto. Ex: Discurso directo: Ela perguntou: Quer comprar alguma coisa? Discurso indirecto: Ela perguntou se queria compar alguma coisa. · Dependência temporal – consecutio temporum: Quando os verbos da oração subordinante do discurso indirecto são em qualquer tempo de pretérito (salvo o pretérito perfeito composto), as dependências temporais afectam gramaticalmente os predicadores da frase completiva do seguinte modo: a) Os verbos no Presente no discurso directo passam a Pretérito Imperfeito no discurso indirecto: Discurso directo: A dona Ana está em casa? - perguntou o Roger. Discurso indirecto: O Roger perguntou se a dona Ana estava em casa. b) Os verbos no Pretérito Perfeito no discurso directo passam a Pretérito Mais-que- Perfeito no discurso indirecto: Discurso directo: A Teresa foi jogar ténis. - disse a Maria. Discurso indirecto: A Maria disse que a Teresa tinha ido (fora) jogar ténis. c) Os verbos no Futuro do presente no discurso directo passam a Futuro do Passado (Condicinal) no discurso indirecto: Discurso directo: Onde irão passar as férias? perguntou ela. Discurso indirecto: Ela perguntou onde iríamos passar as férias. · Os demonstrativos este, esta, isto, esse, essa, isso, isto passam a aquele, aquela: Discurso directo: Comprei este livro.- disse o Roger. Discurso indirecto: O Roger disse se que tinha comprado aquele livro. · Os vocativos desaparecem ou passam a complemento indirecto da oração subordinante: Discurso directo: Dona Ana, onde pus os óculos? perguntou o Roger. Discurso indirecto: O Roger perguntou à dona Ana onde tinha posto os óculos. · Os advérbios de lugar aqui, cá no discurso direto passa a ali ali, além, acolá, lá no discurso indirecto: Discurso directo: Mãe, deixo-te aqui o dinheiro. - disse o Roger. Discurso indirecto: O Roger disse à mãe que lhe deixava ali o dinheiro. · advérbios de tempo agora, já, imediatamente, hoje, ontem, na véspera, amanhã, logo no discurso directo passam a então, naquele momento, logo, naquele dia, no dia anterior, no dia seguinte, depois: Discurso directo: Ontem fui ao teatro.- disse o Cleberson. Discurso indirecto: O Cleberson disse que no dia anterior tinha ido (fora) ao teatro. É de notar que estas transposições gramaticais se prendem com o facto de o conteúdo proposicional da frase subordinada ser reproduzido num momento anterior ao momento de enunciação. Assim, no eixo temporal, temos que distinguir quatro situações. 1. Na primeira situação, o predicador da F^1 que selecciona a oração completiva F^2^ (a qual ora exprime simultaneidade F[s], ora posterioride F[p], ora anterioridade F[a], relativamente frase subordinante F^1) está temporalmente localizado fora do momento de enunciação P (presente). Neste caso, realizam-se todas as transposições gramaticais acima referidas. São exemplos desta primeira situação todos os casos acima citados. __________F^1_______ ________P_______ F[a]^2 F[s]^2 F[p]^2 2. Já na segunda situação, o predicador da F^1 que selecciona a oração completiva F^2 (F[a]^2, F[s]^2 , F[p]^2 ) está temporalmente localizado dentro do momento de enunciação P (presente). Neste caso, não se realizam nenhumas transposições gramaticais acima referidas. __________F^1=P_______ F[a]^2 F[s]^2 F[p]^2 Ela disse (agora mesmo) que às dez horas vamos sair. Ela perguntou (agora mesmo) se encontrámos a Maria. Ele telefonou (agora mesmo) que foi buscar o Pedrinho à escolinha. 3. São exemplos do terceiro caso frases que contêm verdades universais (frases gnómicas) que não são afectadas pelas dependências temporais, não tendo em conta o momento de reprodução: __________F^1_______ ________P= F^1_______ F[a]^2 F[s]^2 F[p]^2 Ele disse que Galileu descobriu que a Terra é redonda. O Pedrinho disse que a Terra gira em torno o Sol. Ao mesmo tempo pertencem a estes casos situações, em que as proposições das frases F[s]^2, F[p]^2 se sobrepõem ao momento presente. Neste caso são incluídas as frases completivas cuja relação temporal (com a frases subordinante) é de simultaneidade ou de posterioridade: F[s]^2, F[p]^2 . Ela disse (há dois meses) que no próximo ano vai trabalhar para a Austrália. Ela disse (há dois meses) que este ano está a tirar um curso de lingua portuguesa. ?Ela disse (há dois meses) que este ano comprou um carro novo. 4. São exemplos do quarto situações, em que o momento de reprodução é imediatamente anterior ao momento presente, apesar de a oração principal se encontrar num dos tempos pretéritos: __________ _______ ________P_ F^1_______ F[a]^2 F[s]^2 F[p]^2 Ele disse há um bocado vai comprar um carro novo. O Pedro estava a dizer há um bocado irá à Turquia. A Guida acabou de dizer que não conseguiu ir ao correio. Outro tipo do discurso relatado é o discurso indirecto livre, em que a voz do narrador e a voz do personagem se confundem, sendo uma espécie de intersecção entre o discurso directo e o discurso indirecto. Trata-se de um enunciado livre de subordinação sintáctica, não possuindo, portanto, as conjunções integrantes típicas do discurso indireto, o que permite aproximá-lo do discurso directo. Estas construcções apresentam transposições ao nível da dêixis pessoal, temporal e espacial que são típicas do discurso indireto, como mostra o seguinte exemplo: Agora era tarde, pensou. Partia amanhã e não conseguira desfazer o equívoco. Quando voltasse, na próxima semana, teria uma parte a comunicar-lhe que prescindiam dos seus serviços. Estas operações enunciativas são tratadas no quadro da análise do discurso, especificamente à luz do conceito de polifonia. Consecutio temporum nas orações com conjuntivo O modo conjuntivo, por outro lado é seleccionado por predicadores verbais, noninais e adjectivais que incluem: · expressões volitivas, factivas e causativas, como, por exemplo: desejar, esperar, preferir, pretender, querer, recusar, tencionar e tentar: Ex: Desejo/ prefiro/ quero/ que me leves de carro para o trabalho. · expressões com um sentido directivo ou declarativo de ordem: exigir, mandar, pedir, sugerir, mandar um pedido, mandar uma sugestão; Ex: Ele disse que entrasses logo. · expressões avaliativas que implicam uma atitude do falante perante um dado estado de coisas: aborrecer, angustiar, animar, censurar, comover, criticar, culpabilizar, deplorar, desagradar, desculpar, desgostar, desinteressar, detestar, emocionar, entristecer, evitar, gostar, humilhar, impressionar, incomodar, lamentar, maçar, ofender, perdoar, perturbar, preocupar, reprovar, sagradar, seduzir, suportar, surpreender, achar bem, achar mal, ser insoportável, lamentável, triste, entre outros: Lamento/é triste/acho mal/comove-me... que o João tenha decidido sair do país. · verbos de asserção mental quando têm algum negador – não achar, não estar certo de, descobrir, não ter a certeza de , não prometer, etc.Ex.: Não acho que o filho esteja preocupado com os trabalhos de casa. Não prometo que chegue a horas. · expressões que exprimem dúvida: Ex.: Duvido que tenha razão. · expressões associadas ao domínio do incerto ou do hipotético: ser provável, ser possível. Ex.: É possível que tenha mentido.. É provável que tenhamos que pagar uma multa. Há predicadores associados à expressão de valores de crença que não têm um comportamento homogêneo, admitindo quer o indicativo quer o conjuntivo na oração completiva. É o caso dos verbos como acreditar, imaginar, crer que seleccionam, tipicamente, o indicativo na coração completiva, mas que podem remeter para o domínio de hipótese, certeza não absoluta ou suspeita. Assim, o indicativo indica um elevador grau de certeza, enquanto que o conjuntivo indica uma reduzida confiança na veracidade da proposição expressa, como ilustram os seguntes exemplo: A polícia pensa que a testemunha mentiu. (elevado grau de certeza) A polícia pensa que a testemunha mentisse/tenha mentido. (reduzido grau de certeza) Consecutio temporum nas orações completivas com conjuntivo Nas orações completivas com conjuntivo, as regras relativas à dependência temporal são mais formalizadas, mais firmes. Há dois factores mais importantes que determinarão o tempo gramatical verbal do predicador da oração completiva: · o tempo em que se encontra o predicador da oração principal F^1. · a relação temporal que existe entre a oração principal e a subordinada. Esta pode ser de três tipos: simultaneidade, posterioridade e anterioridade. Dividimos este tipo de períodos em dois tipos como mostra o seguinte quadro: oração F^1 oração F^2 finita subordinante modo: indicativo imperativo subordinada modo: conjuntivo 1 presente do indicativo futuro do presente imperativo pretérito p. composto 1A relação temporal entre F^1 F^2: simultaneidade ou posterioridade ^ conjuntivo do presente 1B relação temporal entre F^1 F^2: anterioridade^ conjuntivo do pretérito conjuntivo do imperfeito 2 tempos pretéritos (salvo PPC) futuro do passado (condicional) 2A relação temporal entre F^1 F^2: simultaneidade ou posterioridade ^ conjuntivo do imperfeito 2B relação temporal entre F^1 F^2: anterioridade Conjuntivo do mais que perfeito No primeiro tipo deste período (1A e 1B), podem ocorrer dois modos na oração principal ndicativo (no presente ou futuro) e imperativo. O predicador da oração subordinada, de acordo com a relação temporal entre as duas frases, ou ocorre no conjuntivo do presente (que exprime a relação temporal de simultaneidade ou de posterioridade) ou no conjuntivo do pretérito ou do imperfeito (ambos exprimem anterioridade), sendo o conjuntivo do imperfeito estilisticamente marcado no sentido de enfatizar o valor modal do predicador da oração principal. Lamento que não possas vir à festa. (tipo: 1A) Lamento que não tenhas podido/pudesses vir à festa. (tipo 1B). Não se pode confundir o caso de 1A com 1 B sob pena de desinterpretação temporal. Enquanto a proposição da frase 1A é temporalmente localizada no momento presente, eventualmente posterior ao momento de enunciação, a proposição da frase 1B é localizada no momento anterior ao momento de enunciação, como mostram os seguintes diágramas: Tipo 1A __________________________F^1= Presente (Lamento)______________ F[simultâneo]^2 F[posterior]^2 (que não possas vir à festa.) Tipo 1B __________________________F^1=Presente (Lamento)_______ F[anterior]^2 (que não tenhas podido/pudesses vir à festa). No segundo tipo (2A e 2B), o predicador da oração principal ocorre no pretérito do indicativo ou no futuro passado (condicional), sendo a predicador da oração subordinada utilizado, de acordo com a relação temporal entre as duas frases, no conjuntivo do imperfeito (que, neste tipo de período, exprime a relação temporal de simultaneidade ou de posterioridade) e no conjuntivo do pretérito perfeito composto (que exprime a relação temporal de anterioridade). Lamentava que não pudesse vir à festa. (tipo: 2A) Lementava que não tivesse podido vir à festa. (tipo 2B). Não se pode confundir o caso de 2A com 2B sob pena de desinterpretação temporal. Enquanto a proposição da frase 2A é temporalmente localizada no momento paralelo, eventualmente, posterior ao do predicador da oração principal, a proposição da frase 2B é localizada no momento anterior ao do predicador da frase principal. Contrariamente aos casos de 1A e 1B, contudo, a proposição da oração principal é localizada fora do momento presente, como mostram os seguintes esquemas: Tipo 2A ^________________________ F^1=(Lamentava) ^___ _____________________Presente F[simultâneo]^2 F[posterior]^2 (que não pudesses vir à festa.) Tipo 2B ^_______________________________ F^1=(Lamentava) ^ _______________Presente F[anterior]^2 (que não tivesse vindo à festa). Também não se pode confundir a interpretação temporal do conjuntivo do imperfeito em 1B, onde exprime a relação temporal de anterioridade, com 2A, em que exprime a relação temporal de simultaneidade, eventualmente, posterioridade: Tipo 1B __________________________F^1=Presente (Lamento)_______ F[anterior]^2 (que não pudesses vir à festa). Tipo 2A ^________________________ F^1=(Lamentava) ^___ _____________________Presente F[simultâneo]^2 F[posterior]^2 (que não pudesses vir à festa.) Neste tipo de períodos resultam agramaticais quaisquer combinações dos tempos do conjuntivo fora deste quadro de compatibilidade temporal: *Lamento que não tivesses podido vir à festa. *Lamentava que não possas vir à festa. *Lamentava que não tenhas podido vir à festa. Orações completivas não finitas No que respeita à sua forma, as orações completivas podem ser também reduzidas por infinitivo flexionado ou não flexionado, tanto na forma simples como composta. O infinitivo simples em ambos os tipos (tanto flexionado como não flexionado) exprime a relação temporal de simultaneidade ou posterioridade, enquanto o infinitivo composto sempre exprime a relação temporal de anterioridade. O infinitivo pode substituir o verbo finito tanto no modo indicativo como no modo conjuntivo, de acordo com o seguinte quadro de compatibilidade temporal. O factor mais decisivo, neste caso, não é o tempo do predicador da oração principal, como no caso das orações completivas finitas, mas sim, a relação temporal que existe entre F^1 e F^2. oração F^1 oração F^2 finita subordinante subordinada A relação temporal entre F^1 e F^2: simultaneidade ou posterioridade ^ = infinitivo simples B relação temporal entre F^1 e F^2: anterioridade ^= infinitivo composto De acordo com este quadro mencionamos os seguintes exemplos de redução: Caso A: simultaneidade/posterioridade O João garante que tem/vai ter dinheiro para pagar as dívidas. O João garante ter dinheiro para pagar as dívidas. Lamento que as crianças estejam cansadas. Lamento (-) as crianças estarem cansadas. Lamentava que as crianças estivessem cansadas Lamentava (-) as crianças estarem cansadas. Caso B: anterioridade: O João garantiu/garante que tivera/tinha dinheiro para pagar as dívidas. O João garantiu/garante (-) ter tido dinheiro para pagar as dívidas. Lamentava que as crianças tivessem feito tanto barulho. Lamentava as crianças (-) terem feito tanto barulho. As orações reduzidas de infinitivo flexionado ou não flexionado, podem desempenhar várias funções na oração subordinante, de igual modo como as orações finitas. Quando o sujeito das orações subordinada e subordinante são correferentes, ou quando a oração subordinante tem um predicador impessoal, utiliza-se o infinitivo não flexionado. Quando os dois sujeitos remetem, cada um, para um referente diferente, utiliza-se o infinitivo flexionado. Apresentam-se estas funções, de uma forma sucinta, a seguir, dando um exemplo com o infinitivo flexionado e um com o infinitivo não flexionado: · sujeito: Agrada-me ver-te feliz./ Aconteceu a Maria fazer anos naquele dia. · complemento directo: Afirmou ter agido correctamente./Afirmou ele ter agido mal. · complemento oblíquo. Convenceu-me a estudar./ Concordei em fazermos tudo juntos. · complemento nominal: Tinha a ideia de convidar o João para o jantar./ Tinha a ideia de convidarmos o João para a festa. · complemento adjectival: Ficaram orgulhosos de ganhar o prémio./ Fiquei orgulhosa de o meu fiho ganhar o prémio. · predicativo do sujeito[1]: As crianças saíram a chorar. O nosso desejo é tu estudares mais. · predicativo do complemento directo[2]: Vi o professor a beber cerveja. Encontrei-os a fumar. As construções infinitivas podem ser, também, nominalizadas, como se vê no seguinte exemplo: O ele ter tanto deveres, preocupa-me imenso. O Carlos nunca me perdoou eu ter mentido. Tempo dependente e tempo independente Embora uso do infinitivo flexionado, em muitos casos, seja facultativo, não pode ocorrer livremente em todas as construcções. O seu uso é condicionado, também, pelo estatuto temporal da frase subordinada. Há orações completivas temporalmente dependentes do tempo da frase superior e completivas temporalmente independentes do tempo da frase supeior (subordinante). No primeiro dos casos, as duas orações (principal e subordinada) formam um domínio semanticamente temporalizado, tendo a oração subordinada tempo dependente, concomitantemente, o uso do infinitivo limitado ao uso do infinitivo não flexionado: O João quis ir com a Maria ao cinema. Já no segundo caso, o uso do infinitivo flexionado não apresenta nenhumas restrições deste género, uma vez que não constitui um domínio semanticamente temporalizado, tendo tempo independente. Assim são possíveis construções como: O João afirma a Maria ter ido com ele ao cinema. Outro factor que interfere na selecção do infinitivo da completiva, é o factor estilístico. De facto, mesmo na caso de a oração subordinada ter um tempo independente, nem sempre os locutores optam pela redução por infinitivo. Pelos vistos, há diferenças estilísticas que se prendem com o uso facultativo e intuitivo de cada falante nativo português. Prévios estudos que fizemos sinalizam um comportamento heterogêneo no que respeito às preferências individuais. Alguns falantes consideram o uso do infinitivo flexionado mais frequente mas menos correcto na linguagem. Ordem de palavras nas completivas com infinitivo flexionado Nas orações completivas com infinitivo flexionado, nem sempre é possível manter a ordem canónica do sujeito – predicado – complemento. Um dos factores decisivos que interferem na organização frásica é a função sintáctica das completivas. O sujeito das orações completivas pode ocorrer em posição pré-verbal quando desempenha as seguintes funções sintácticas; · de sujeito: Surpreendeu-me os miúdos terem feito todos os trabalhos de casa. · de objecto directo (sendo seleccionadas por verbos factivos avaliativos): O professor criticou os alunos não terem feito todos os trabalhos de casa. · de complemento oblíquo: Estou feliz por os meus filhos terem passado nos exames. Pelo contrário, o sujeito das completivas ocorre em posição pós-verbal, quando as completivas são seleccionadas por verbos epistémicos e declarativos. Nestes casos, a ordem canónica não é admitida e o sujeito ocorre imediatamente a seguir o verbo: Eu penso ir a Maria ao cinema hoje. O júri anunciou não preencherem três candidatos as condições legalmente fixadas. ________________________________ [1] Este infinitivo é denominado também como infinitivo gerundivo e aproxima-se das orações relativas. Este tipo de subordinação também pode ser chamado orações pseudo-relativas.