Um fax trocado entre administradores do Freeport, em Inglaterra, refere o recurso ao pagamento de 'luvas' no valor de dois milhões de libras (3,2 milhões de euros na altura). No mesmo documento, hoje divulgado pela TVI, os dirigentes da empresa britânica temem pelos atrasos no licenciamento do 'outlet' em Alcochete derivados da queda do governo de António Guterres e da saída de José Sócrates do Ministério do Ambiente. De acordo com a estação televisiva, os investigadores ingleses deram bastante importância a este fax, em especial a nota referente ao suborno de dois milhões de libras, e procederam a vários interrogatórios, mas a polícia ainda não terá conseguido falar com o autor dessa adenda, o administrador Ric Dattani. Segundo a TVI, numa primeira comunicação, Keith Payne, que a partir de Portugal mantinha os administradores do Freeport a par do que se passava com o 'outlet', informa os superiores hierárquicos que sobre a queda do governo de Guterres: “Sócrates deixou de ser Ministro do Ambiente e vai haver um compasso de espera de quatro ou cinco meses até que for eleito um novo Governo e nomeado um novo Ministro” Assim que recebe a comunicação de Payne, Ric Dattani reenvia o fax para um dos superiores hierárquicos, Jonathan Rawnsley, acrescentando várias notas à mão, destacando-se uma nota de rodapé: "Jonathan, este é o fulano que me telefonou e sabe do suborno de 2 milhões de libras, sublinhei algumas partes interessantes a partir do ponto 4. Se o parlamento é dissolvido até às eleições, o Secretário de Estado não pode aprovar nem rejeitar nada. Ric.” Os sublinhados são a saída do actual primeiro-ministro do Ministério do Ambiente de Guterres e o no tempo que levaria até à entrada em funções de um novo governo: “quatro ou cinco meses”. Está também sublinhada a expressão “fora da equipa local” no fax hoje divulgado pela TVI. Esta expressão faz parte de um conselho de Payne, para que seja “se apalpe o terreno fora da equipa local de modo a perceber de forma independente o que pode ter corrido mal”. À mão, Dattani acrescenta duas notas no meio do texto: “antes do suborno” e “confirmado por outros”. A primeira nota foi escrita à frente de um parágrafo no qual se refere: “se estamos perante uma possível rejeição (chumbo), é pouco provável ser possível inverter uma tal decisão seja em que circunstância for, a dois dias da sua rejeição (chumbo) formal por parte do Ministério do Ambiente.” A segunda nota é uma adenda ao parágrafo no qual Payne diz que Sócrates “é considerado um dos pilares do Governo PS e é tido como a integridade em pessoa”. A TVI diz que tentou obter uma reacção dos secretários de Estado da altura – Pedro Silva Pereira, do Ordenamento do Território, e Rui Gonçalves, do Ambiente – e do ministro do Ambiente – José Sócrates –, mas não obteve resposta às perguntas enviadas.