A colocação dos nomes com função adjetiva no sintagma nominal (SN): uma proposta descritiva para as classes de português como segunda língua para estrangeiros (PL2E) Márcia Araújo Almeida PUC-RJ Resumo: A língua portuguesa oferece a certos nomes com função adjetiva a possibilidade de anteposição ou posposição ao núcleo de que são adjuntos no sintagma nominal. Entretanto existem princípios que regulam o comportamento posicional desses nomes no sintagma. Ainda que o falante nativo não tenha disso plena consciência, sua escolha obedece a regras determinadas por fatores de ordem lexical, semântica, sintática, contextual, discursiva, pragmática, estilística, cultural, etc. Este trabalho apresenta uma proposta descritiva sobre a colocação dos nomes com função adjetiva no sintagma nominal (SN) para as classes de português como segunda língua para estrangeiros e aponta a necessidade de pesquisa para a elaboração de um esquema que permita ao aprendiz de português como segunda língua para estrangeiros entender, contextualizar e prever o comportamento posicional desses nomes, sobretudo os com função adjetiva qualificativa, na prosa contemporânea brasileira. 1. Introdução: breve panorama da atual descrição do comportamento posicional dos nomes com função adjetiva no sintagma nominal A sintaxe de colocação do adjetivo no sintagma nominal (SN) é tratada pelos autores tradicionais das gramáticas normativas contemporâneas do português do Brasil ora de forma meramente ilustrativa, ora com uma preocupação também analítica. No primeiro caso, limitam-se a mostrar as possibilidades gerais de colocação do adjetivo, observadas na língua, em relação ao substantivo modificado. No segundo, além disso, focalizam o valor objetivo e o valor subjetivo referentes respectivamente à anteposição e à posposição do adjetivo ao substantivo por ele modificado e/ou procuram estabelecer princípios gerais ou justificativas para uma e outra colocação. Bechara (2004), em sua Moderna Gramática Portuguesa, aborda o tema de uma maneira bastante sucinta. Sob a rubrica “sintaxe de colocação ou de ordem”, discorre sobre a disposição dos termos dentro da oração e as orações dentro do período, não reservando um espaço exclusivo para a questão da colocação do adjetivo, que trata brevemente em conjunto com a colocação dos artigos, pronomes adjuntos e quantificadores, das preposições, dos advérbios, dos verbos auxiliares ou à seqüência de pronomes sujeitos. Especificamente, sobre a colocação do adjetivo, é dito apenas que “a)1 o adjetivo monossilábico modificador precede o nome de maior extensão fonética: bom dia, má hora, etc.; b) o adjetivo que exprime forma ou cor vem depois do 1 Na referida obra de Bechara figuram as letras e, f, g e h, e não a, b, c e d como é apresentado aqui, pois os exemplos de colocação de adjetivo estão entre os de colocação de termos de outras categorias gramaticais. 2 substantivo, especificando seu conceito e o opondo a outros da espécie: rua larga, blusa verde; c) vem antes o adjetivo empregado não para designar o seu sentido próprio, mas para atribuir uma significação figurada: grande homem/ homem; d) numa seqüência de dois adjetivos e um substantivo, aqueles aparecem em geral juntos: bons e estimados livros ou livros bons e estimados. A quebra desta posição, pondo o substantivo no meio, é recurso comum na poesia, mas também não estão ausentes na prosa artística: bons livros e estimados”(BECHARA, 2004: p.581-584). Tal abordagem sobre a colocação do adjetivo apresenta as seguintes lacunas, no tocante à consulta sobre esse tema por parte daqueles que não dominam o idioma: a) uma vez que é dito que o adjetivo monossilábico modificador precede o nome de maior extensão fonética: bom dia, má hora, etc., para um leigo que não domina o português, e que, portanto, não tem consciência das diferentes funções que determinado adjetivo possa desempenhar nesse idioma e que conseqüentemente não é familiarizado com termos como modificador2 , pode parecer estranho um sintagma como uma mulher só, em que só é monossilábico e posposto ao nome mulher, de maior extensão fonética. Certa perturbação pode ser também experimentada em relação ao fato de uma só mulher e uma mulher só não serem sintagmas sinônimos - fenômeno não mencionado por essa gramática; b) quando é afirmado que o adjetivo que exprime forma ou cor vem depois do substantivo, especificando seu conceito e o opondo a outros da espécie: rua larga, blusa verde, não se contempla, por exemplo, a possibilidade de ocorrência de uma larga rua, em que há ênfase em larga, a qualidade que opõe, por exemplo, rua larga a rua estreita. Igualmente, ainda, não se comenta sobre exceções como o branco vestido da noiva; c) ao estabelecer que venha antes o adjetivo empregado não para designar o seu sentido próprio, mas para atribuir uma significação figurada: grande homem, não são fornecidas informações sobre o exemplo dado que permitam à maioria dos falantes nãonativos de português entendê-lo com propriedade e segurança3 ; d) ao se observar que numa seqüência de dois adjetivos e um substantivo, aqueles aparecem em geral juntos: bons e estimados livros ou livros bons e estimados e que a quebra desta posição, pondo o substantivo no meio, é recurso comum na poesia, mas também não estão ausentes na prosa artística: bons livros e estimados, não se informou, por exemplo, como se dá a ordenação dos adjetivos em sintagmas como ataque cardíaco fulminante e fulminante 2 Sem qualquer explicação ou definição sobre o termo modificador, inferir se este é usado por Bechara em oposição ao termo qualificador ou não, contudo, é uma possibilidade remota para o leitor comum. 3 Para um falante de línguas como o espanhol, que lida com fenômenos parecidos em sua língua, não é tão complicado quanto para um anglo-falante, por exemplo, compreender um exemplo desses, ainda que sem maiores explicações. 3 ataque cardíaco, assim como tampouco se comentou sobre uma inadmissibilidade lingüístico-pragmática de ataque fulminante cardíaco. Cunha e Cintra (2001)4 , por sua vez, refinam o trato da questão em sua Nova Gramática do Português Contemporâneo. Por tratá-la sob a rubrica “colocação do adjetivo adjunto adnominal”, distinguem as condições sintáticas em que é oferecida ao adjetivo mais de uma possibilidade posicional em relação ao núcleo do sintagma nominal. Segundo os autores, o adjetivo em função de adjunto adnominal ocorre com mais freqüência depois do substantivo que ele qualifica, de acordo com a ordem direta da oração declarativa, que corresponde à seqüência progressiva do enunciado lógico. Quando o adjetivo aparece anteposto ao substantivo, segue a chamada ordem inversa, característica nas formas afetivas da linguagem, em que a anteposição de um termo é, via de regra, uma forma de realçá-lo. Feitas essas considerações, os autores dedicam um espaço razoável ao tema em sua referida obra. Em primeiro lugar, estabelecem que, uma vez que a seqüência substantivo + adjetivo predomina no enunciado lógico, o adjetivo posposto possui valor objetivo (noite escura, rapaz bom, dia triste, campos verdes5 ) e que, sendo a seqüência adjetivo + substantivo provocada pela ênfase dada ao qualificativo, o adjetivo anteposto assume um valor subjetivo (escura noite, bom rapaz, triste dia, verdes campos6 ). Em seguida, Cunha e Cintra descrevem condutas gerais de uso do adjetivo posposto e do adjetivo anteposto. Afirmam que a posposição ao substantivo normalmente acontece nas seguintes situações: quando os adjetivos são de natureza classificatória, como os técnicos e os de relação, que indicam uma categoria na espécie designada pelo substantivo (animal doméstico, flor silvestre, água mineral, deputado estadual7 ); quando os adjetivos designam características muito salientes do substantivo, tais como forma, dimensão, cor e estado (terreno plano, homem baixo, calça preta, mamoeiro carregado8 ); ou quando os adjetivos são seguidos de um complemento nominal (um programa fácil de cumprir, uma providência necessária ao ensino9 ). A anteposição, por sua vez, é observada quando se trata de superlativos relativos (melhor meio, maior castigo10 ); de certos adjetivos monossilábicos que formam com o substantivo expressões equivalentes a substantivos compostos (o pior cego, o menor 4 Todos os exemplos que serão citados a seguir são dessa obra. 5 (Ibid.: p.266). 6 (Ibid.). 7 (Ibid.). 8 (Ibid.: p.267). 9 (Ibid.). 10 (Ibid.). 4 descuido, bom dia, má hora11 ) e de adjetivos que antepostos adquiram sentido especial, como simples (simples escrevente = mero escrevente, mas estilo simples12 X estilo complexo13 ). Salvo esses casos, o adjetivo anteposto geralmente assume um sentido figurado (um grande homem = grandeza figurada/um homem grande = grandeza material; uma pobre mulher = uma mulher infeliz/uma mulher pobre = uma mulher sem recursos14 ). Os autores fazem ainda considerações sobre a colocação do epíteto retórico, que serve ora para acentuar uma parte do significado do substantivo com o qual se relaciona, e, neste caso, pode vir posposto ou anteposto embora a primeira colocação seja a mais freqüente (a branca neve, a noite escura15 ), ora para exprimir uma conhecida qualidade distintiva e individual de um nome próprio, caso em que vem sempre anteposto ao substantivo (o sábio Nestor, a fiel Penélope16 ). Nesses exemplos, a posposição do qualificativo transformaria o epíteto característico num mero adjetivo classificatório (CUNHA; CINTRA, 2001: p.266-268). A despeito da razoável e mais abrangente abordagem de Cunha e Cintra sobre a colocação do adjetivo, por não possuir as mesmas condições que um falante nativo de identificar as situações contidas em geralmente para afirmações do tipo “os adjetivos geralmente são pospostos quando...” ou de reconhecer quando se trata de uma expressão fixa na língua, um aprendiz de português como segunda língua estrangeira, que consultasse a Nova Gramática do Português Contemporâneo, permaneceria com pelo menos as seguintes dúvidas sobre o tema: os superlativos relativos não podem ser pospostos como em um dia melhor? Quais os adjetivos que encerram significação diferente conforme se encontrem pospostos ou antepostos? Perini (2005: p. 97, 99, 220, 233-234), em sua Gramática Descritiva do Português, sustenta que os termos do sintagma nominal respeitam a seguinte ordem posicional, correspondente à função por eles desempenhada nos enunciados: 1ª – Determinante (o, este, esse, aquele, algum, nenhum, um), 2ª – Possessivo (meu, seu, nosso, etc), 3ª – Reforço (Mesmo, próprio, certo), 4ª – Quantificador (poucos, vários, diversos, muitos, único, primeiro, segundo, terceiro, etc), 5ª – Pré-núcleo externo (mero, pretenso, meio, suposto, reles, inesquecível, ilusório, simples, bom, velho, novo, etc.), 6ª – Pré-núcleo interno (mau, novo, velho, claro, grande), 7ª – Núcleo, 8ª – 11 (Ibid.). 12 (Ibid.). 13 (Ibid.). 14 (Ibid.). 15 (Ibid. p.268). 16 (Ibid.). 5 Modificador interno (cardíaco em ataque cardíaco fulminante) e 9ª – Modificador externo (fulminante em ataque cardíaco fulminante). Além disso, há o Numerador (outro, dois, três, quatro, etc.), que pode ocorrer nos intervalos entre as cinco primeiras posições ou funções. Assim, os itens integrantes do sintagma nominal ocupam uma dessas nove posições fixas e estritamente ordenadas segundo seu comportamento sintáticoposicional e a função que desempenham. Depreende-se daí que, no tocante a seu posicionamento no sintagma nominal, os vocábulos com função adjetiva se encaixam em uma das nove posições-funções fixas estabelecidas por Perini, devendo obedecer ao esquema de ordenação delas decorrentes. Deste modo, as palavras que a tradição gramatical normativa chama de adjetivo podem figurar em quatro posições-função, a saber: pré-núcleo externo, pré-núcleo interno, modificador interno e modificador externo. Esse esquema, que prevê casos de polivalência funcional, admite a possibilidade de um mesmo vocábulo que costume figurar com mais freqüência em uma das nove posições-função identificadas por Perini possa também ocupar uma outra dentre elas. Por exemplo, em política externa inadequada, política é o núcleo (7ª posição-função), externa é o modificador interno (8ª posição-função) e inadequada é o modificador externo (9ª posição-função). Mas em inadequada política externa, onde política é núcleo (7ª posição-função) e externa, modificador interno (8ª posição-função), inadequada seria pré-núcleo interno (6ª posição-função)17 . Por seu caráter extremamente técnico, essa gramática de Perini não é adequada à consulta por parte daqueles que não dominam o idioma. Contudo, a proposta apresentada busca resolver a questão da ordem dos constituintes no sintagma nominal como um todo, ou seja, envolve todos os seus possíveis constituintes. Além disso, parece ter servido de base para que o referido autor atualizasse alguns dos relevantes resultados da pesquisa que a corroborou, de forma a reciclá-los didaticamente em sua Modern Portuguese, gramática dirigida aos aprendizes anglófonos de português como segunda língua, onde Perini destaca o tema da colocação do adjetivo nos capítulos 17 No esquema das nove posições fixas de Perini, que pressupõe a existência de uma entidade chamada Sintagma Nominal Máximo (PERINI, 2005: p.95), inadequada não poderia ocupar nem a posição de reforço (3ª posição-função) nem a posição de pré-núcleo externo (5ª posição-função). No primeiro caso, porque teria que ser admitida a possibilidade de interposição parcial ou total de palavras que ocupassem a 4ª, a 5ª e a 6ª posição-função entre a posição-função reforço (3ª) e a posição-função núcleo (7ª). No segundo caso, teria que ser admitida a possibilidade de ocorrência de um item em função-posição de prénúcleo interno (6ª) entre a posição-função pré-núcleo externo (5ª) e a posição-função núcleo (7ª). Segundo a pesquisa desenvolvida por Perini, Sigrid Frahia e outros, por meio do projeto TENPo (PERINI, 2005: p.17), em ambos os casos admitir tais possibilidades acarretariam más construções ou mesmo construções agramaticais. 6 Ordering of Modifiers Relative to the Head e Ordering Modifiers Relative to Each Other (PERINI, 2002: p.297-328). No entanto, mesmo em Modern Portuguese, uma gramática de referência voltada para um público que não domina o idioma e que, portanto, considera as dificuldades específicas que o mesmo possa ter, alguns pontos sobre a colocação do adjetivo no sintagma nominal permanecem uma incógnita. Perini apresenta, por exemplo, como somente antepostos ao núcleo do SN nomes em função adjetiva como mero, reles, pretenso, suposto, parco, meio, “big”, puta e baita18 . “São só esses os que têm a possibilidade de anteposição?” – indagariam os aprendizes de PL2E. Sobre a colocação dos adjetivos ou dos nomes com função adjetiva no sintagma nominal, o que há na maioria das demais gramáticas específicas de português como língua estrangeira é tão pouco quanto incompleto. Insignificante, pode-se dizer. Neves (2000), em sua Gramática de Usos do Português, aborda o tema com abrangência e riqueza de detalhes em um capítulo dedicado ao adjetivo (nomes com função adjetiva). Após apresentar exaustiva lista de tipos de adjetivos, acompanhada de vários exemplos, a autora observa em primeiro lugar que posições devem ocupar os adjetivos que expressam anterioridade, posteridade ou concomitância em relação ao momento da enunciação (exofóricos ou dêiticos – passado, retrasado, próximo, futuro, presente, atual, corrente, hodierno, contemporâneo), e ao momento de referência (endofóricos – anterior, precedente, antecedente, seguinte, subseqüente, futuro, posterior, contemporâneo). Em seguida, tece minuciosas considerações acerca do comportamento posicional daqueles que expressam quantidade definida (centenário, secular, milenar, sexagenário) e quantidade indefinida (velho, idoso, jovem, novo e antigo) considerando diversos possíveis fatores determinantes desse ou daquele posicionamento. Então, a autora passa a discorrer sobre a permeação entre as subclasses de adjetivos e observa, por exemplo, que “em dependência do substantivo com o qual se constroem, os adjetivos classificadores podem passar a qualificadores, em uso metafórico, com possibilidade de anteposição” (NEVES, 2000: p. 199). Finalmente, ao pontuar que a posição que o adjetivo ocupa no sintagma nominal diz respeito ao fato de que existem diferenças no comportamento das duas grandes subclasses de adjetivos – os qualificadores e os classificadores, Neves dedica um tópico exclusivo sobre a posição dos adjetivos qualificadores e outro exclusivo sobre a posição dos adjetivos classificadores. 18 Perini observa que “big”, puta e baita pertencem ao registro ultra-coloquial. 7 Dentre os primeiros, que podem ser pospostos ou antepostos ao substantivo quando em função de adjunto adnominal, ela observa que os que mais aceitam anteposição são os que indicam qualidades atribuídas a termos que têm uma relação específica com aquele tipo de entidade qualificada, o que permitiria dizer, por exemplo, que em “forte pingo de vida”, o adjetivo forte não tem valor absoluto, mas se refere a uma “força” especificamente ligada à entidade “pingo de vida”19 . Observando, no entanto, que há restrições a determinadas colocações dos adjetivos qualificativos e que podem ocorrer diferenças semânticas em maior ou menor grau em decorrência de diferenças da posição dos elementos nos sintagmas nominais que contém certos adjetivos, ilustra três situações gerais quanto à determinação da ordem dentro do sintagma nominal que contém adjetivos qualificadores, a saber: a) a ordem é livre (o adjetivo pode ser posposto ou anteposto), b) a ordem é fixa (o adjetivo é obrigatoriamente posposto ou obrigatoriamente anteposto), e c) a ordem é pertinente (altera-se o resultado de sentido conforme o adjetivo esteja posposto ou anteposto). Neves chama a atenção para a subjetividade e o caráter avaliativo criados e/ou reforçados pela anteposição em contraste com o caráter objetivo e mais descritivo da posposição. Outrossim, enumera dois fatores (que podem servir de pistas) a que se podem atribuir as diferenças de sentido ligadas às diferenças na ordem de colocação dos elementos no sintagma, tais como a subclasse a que pertence o adjetivo (adjetivos de modalização deôntica, de avaliação de propriedades intensionais quantitativas ou qualitativas, de modalização epistêmica, de intensificação, de atenuação), e a natureza do substantivo qualificado pelo adjetivo (os substantivos abstratos favorecem mais a anteposição de adjetivos qualificadores, uma vez que a qualificação de abstratos é sempre menos objetiva, mais apreciativa e menos descritiva que a de concretos). A autora ainda fornece uma série de exemplos de ocorrências em que adjetivos como pobre, rico, bom, caro e grande se comportam sintática, semântica, funcional e estilisticamente conforme a natureza do substantivo por eles qualificado. Sobre a posição dos adjetivos classificadores, afirma que, quando em função adnominal, aparecem normalmente pospostos, podendo haver, entretanto, construções cristalizadas em que o adjetivo classificador vem sempre anteposto, como no caso de “pátrio poder”. Neves faz ainda uma observação sobre a colocação dos adjetivos em função apositiva (podem ser pospostos ou antepostos) e sobre as construções fixas equivalentes a uma unidade lexical formada, seja com qualificadores (mau gosto, bom senso, bom humor, molho pardo, menores carentes, cara fechada, preto velho, bom ladrão, cidade 19 Exemplos retirados de Neves (2000: p.201). 8 grande, etc.) ou com classificadores (salário mínimo, assistente social, direitos autorais, deputado federal, globos oculares, etc.). Observa também que, na “formação de camadas”, a locução adjetiva fica numa camada mais externa que o adjetivo simples, quando ambos co-ocorrem (sorriso paternal de orgulho, superfície ventral do corpo, sistema nervoso dos animais). E ainda que um mesmo substantivo pode vir antecedido de um adjetivo e seguido de outro (adjetivo + substantivo + adjetivo/locução adjetiva), por exemplo, pequeno ponto incandescente ou tranqüilo seio de descanso. Neste caso, quando há um adjetivo classificador e outro qualificador, o classificador é posposto ao substantivo da seqüência enquanto o qualificador, ao contrário, se encontra anteposto a ele. O classificador comporia então a primeira camada, quanto à formação de blocos de significação (NEVES, 2000: p.195-216). Nos livros de estilística, o tema da colocação do adjetivo no sintagma nominal é tratado por meio de análises de questões de estilo. São trabalhos de cunho exclusivamente estilístico e não estabelecem regras ou princípios, por exemplo posicionais, norteadores de um bom uso do adjetivo na prosa discursiva cotidiana e de interesse daqueles que não dominam a língua portuguesa. 2. Colocação dos nomes com função adjetiva no sintagma nominal (SN): por uma melhor descrição para os aprendizes de português como segunda língua para estrangeiros (PL2E) Para uma descrição eficaz sobre a colocação dos nomes com função adjetiva no SN para PL2E, há alguns pontos importantes a serem observados. O primeiro deles diz respeito à taxonomia empregada. É aconselhável abandonar, por exemplo, a terminologia substantivo e adjetivo, uma vez que, multifuncionais, os nomes podem ser classificados pela gramática tradicional como uma ou outra categoria, fato que pode se constituir um complicador em determinados momentos. Um substantivo pode deixar de ser referencial e funcionar como se fosse um adjetivo. Ele pode atribuir o conjunto de propriedades que indica como se fosse uma única propriedade, a um outro substantivo, isto é, atuar como qualificador ou como classificador.(...) Em muitos casos, a freqüência do emprego de determinados substantivos como qualificadores do substantivo da esquerda faz com que esses substantivos sejam recategorizados como adjetivos na apresentação das gramáticas e dos dicionários. (NEVES, 2000: p.175-178) Tomemos como exemplo uma situação em que o professor precise explicar ao aprendiz de português como segunda língua a diferença entre modelo policial e policial 9 modelo servindo-se da notícia de jornal intitulada “Modelo policial não é policial modelo”, transcrita abaixo. Nas ruas de Ancona, a policial Ombretta Marcantogni, 30 anos, é conhecida não apenas pelo rigor em aplicar multas, como também pela beleza. De tanto ouvir conselho para largar tudo e virar modelo, resolveu segui-lo pela metade: virou modelo sem deixar a polícia. Em setembro Ombretta entrou com um atestado de doença e ganhou cinco dias de licença. Aproveitou-os pelas passarelas da vizinha cidade de Pesaro. O que ela não esperava era ser fisgada pelas tvs, que mostraram a policial em licença por doença desfilando. Mas ela se justifica: “Minha licença-repouso era apenas durante o horário, até as 19 horas. Meu desfile foi às 22”, explica. (O GLOBO, out/94) 20 Modelo e policial são, em primeiro lugar, nomes; e tanto um quanto outro podem exercer na língua portuguesa função substantiva ou função adjetiva. A ordem dos termos nos sintagmas em questão, e que vai determinar sua significação em cada um deles, tem relação direta com sua função no SN neste contexto e não com a categoria gramatical em que poderiam se enquadrar. É preciso, assim, mudar o enfoque de análise dos nomes no sintagma nominal da forma em si para a função desempenhada por essa forma. Afinal, é sobretudo a função e não somente a forma que determina a colocação dos nomes no SN. O importante é identificar a função dos nomes no SN, se substantiva ou adjetiva, isto é, se de nomear ou de classificar ou qualificar o que se nomeia. Quanto à função desempenhada pelos nomes com função adjetiva no SN, é interessante para nós considerarmos separadamente o comportamento posicional dos nomes com função classificadora daqueles cuja função é qualificativa, uma vez que, em geral, apenas os últimos têm a possibilidade de se apresentarem pospostos ou antepostos ao núcleo do SN. Assim sendo, é fundamental que o professor tenha bem clara para si a diferença entre qualificar e classificar, para que possa explicá-la satisfatoriamente a seus alunos, valendo muni-los, por exemplo, de dicas morfológicas que os ajudem a identificar quais nomes podem ser qualificadores e quais podem ser classificadores. 2.1 Nomes com função adjetiva classificadora e sua colocação no SN Com base na conceituação das subclasses dos adjetivos proposta por Neves (2000: p.184-186), em sua Gramática de Usos do Português, podemos dizer, 20 Apostila do Curso Português para Estrangeiros II (material experimental) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), p.71. 10 parafraseando a referida autora, que classificadores ou classificatórios são os nomes que colocam o nome que acompanham em uma subclasse, trazendo em si uma indicação objetiva sobre essa subclasse. Eles constituem, pois, uma verdadeira denominação para a subclasse, e, portanto, são denominativos, e não predicativos, possuindo um caráter não vago. Assim, por exemplo, no sintagma indústrias alimentícias, alimentícias é o nome que classifica o nome indústrias, uma vez que é sabido que há várias classes de indústrias, de acordo com o que fabricam, e uma dessas classes é a que fabrica alimentos, denominada alimentícia. Uma vez informado sobre a única possibilidade de colocação dos nomes com função adjetiva classificadora no sintagma nominal - sempre pospostos ao nome que classificam -, ao reconhecer um nome como classificador, isto é, com função adjetiva classificadora, o aprendiz de português como segunda língua saberá que o mesmo só pode ocorrer após o nome que classifica, na escrita, à sua direita. O comportamento dos nomes classificadores no sintagma nominal não apresenta, então, maiores dificuldades no ensino de português como língua estrangeira. Afora informar o aluno sobre sua única possibilidade posicional, basta avisá-lo que esse tipo de nome não admite intensificação (característica exclusiva dos qualificadores, como em dia muito alegre, comida bem simples, etc.) e pode ocorrer justaposto ou ligado por hífen ao nome que classifica (artesão artífice, bomba relógio, bombarelógio). Pertinente é também prevenir o aluno sobre a possibilidade de ocorrências como carro esporte anfíbio, em que os nomes esporte e anfíbio, nessa ordem21 , classificam o nome carro, tipificando-o. Ainda, é importante dizer ao aluno que os nomes com potencialidade referencial de nomear (tradicionalmente classificados como substantivos em nossas gramáticas escolares), quando em função adjetiva, gozam das seguintes peculiaridades: podem, além de assumir função de classificador como em nado Golfinho, desempenhar a função de qualificador (que inclui julgamento de valor) como em jeito garoto, e, portanto, admitem intensificação (ambiente pouco família). Tais nomes, classificadores ou qualificadores, contudo, são sempre pospostos em função adnominal no sintagma nominal. 21 A ordem entre dois nomes com função adjetiva em relação ao núcleo do sintagma nominal deve ser estudada separadamente, pois apresenta peculiaridades importantes a serem consideradas. No sintagma carro esporte anfíbio, esporte e anfíbio, ambos são classificadores. A classificação do nome carro se dá por camadas. Carro esporte é um tipo de carro e carro esporte anfíbio é um tipo de carro esporte. 11 2.2. Nomes com função adjetiva qualificadora e sua colocação no SN Ainda parafraseando Neves (Ibid.: p.184), podemos afirmar que qualificadores ou qualificativos são os nomes que indicam, para o nome que acompanham, uma propriedade que não necessariamente compõe o feixe das propriedades que o definem. Diz-se que esses nomes qualificam o nome que acompanham, o que pode implicar uma característica mais, ou menos, subjetiva, mas sempre revestida de certa vaguidade. Essa atribuição de uma propriedade constitui um processo de predicação e, por isso, esses nomes podem ser considerados de tipo predicativo. A título de ajudar o aluno a reconhecer dentre os nomes aqueles de potencialidade qualificadora, algumas dicas de natureza morfológica podem ser úteis para identificá-los: são qualificadores todos os nomes com função adjetiva que contenham em sua morfologia prefixos negativos (desagradável, impenitente, imaturo, incompleto, etc.) ou sufixos que formam derivados de verbos, fazendo com que encontrem na língua sua contraparte verbal (petrificada, apodrecida, reluzente, brilhante, temido, respeitado, aberto, etc.) (Ibid.: p.185-186). Com base nas afirmações de Neves sobre o comportamento posicional dos adjetivos qualificadores no sintagma nominal, verificamos restrições a determinadas colocações desses nomes qualificadores usados como adjunto adnominal, podendo ocorrer diferenças semânticas em maior ou menor grau em decorrência de diferenças da posição dos mesmos em relação aos nomes por eles qualificados. No que se refere à determinação da ordem dentro do sintagma nominal que contém nomes qualificadores adjuntos, constatam-se três situações gerais, a saber: a) a ordem é livre (o nome qualificador pode ser posposto ou anteposto ao nome por ele qualificado); b) a ordem é fixa (o nome qualificador é obrigatoriamente posposto ou anteposto ao nome por ele qualificado); c) a ordem é pertinente (altera-se o resultado de sentido conforme o nome qualificador seja posposto ou anteposto ao nome por ele qualificado). Assim, estão postas as seguintes questões-problema para os aprendizes de PL2-E sobre a colocação dos nomes qualificadores adjuntos adnominais: a) quais os nomes qualificadores cuja ordem no SN é livre? (ainda que se reconheça o caráter avaliativo subjetivo que assumem se antepostos ao nome que qualificam); b) quais os nomes qualificadores cuja ordem no SN é fixa e, dentre eles, quais são sempre pospostos e quais são sempre antepostos ao nome que qualificam?; c) quais os nomes qualificadores 12 que determinam que a significação composta por um SN seja tal ou qual, conforme a posição em que nele se encontre?; d) em SNs compostos por mais de um nome com função adjetiva, quais os nomes qualificadores que admitem, por exemplo, a seqüência nome qualificador + núcleo do SN (NSN) + nome classificador?, e quais os que admitem a seqüência NSN + nome classificador + nome qualificador e quais os que admitem ambas as seqüências? Essas questões constituem um problema pelo fato de não se dispor de respostas que solucionem de forma prática a gênese dessas dúvidas. O que se tem nas gramáticas de português sobre os fatores que regem a colocação dos nomes qualificadores nos enunciados é generalizante e/ou falho. São incompletas as listas com exemplos e exceções, que, a despeito de alguma utilidade, não contemplam todos os casos ou situações de ocorrência, ou seja, são insuficientes. É imperiosa a necessidade de pesquisa no sentido de solucionar tais questõesproblema. Entretanto, enquanto para elas não dispomos de respostas confiáveis, devemos descrever, dentro do possível, caso a caso as ocorrências posicionais dos nomes qualificadores no SN, buscando chamar a atenção do aluno para os aspectos situacionais, discursivos e culturais que as determinam, que dialoguem também com a natureza lexical dos nomes envolvidos no processo de qualificação intra-SN. Algumas dicas úteis que podemos franquear ao aluno para que este consiga dar conta de boa parte das ocorrências posicionais desse tipo de nomes são as seguintes: • A posposição é a posição mais freqüente na linguagem comum, a menos marcada, enquanto a anteposição é a mais marcada (NEVES, 2000: p.201); • Os nomes qualificadores22 que mais aceitam anteposição são os que indicam qualidades atribuídas a termos que têm uma relação específica com aquele tipo de entidade qualificada, como em forte pingo de vida, indefeso homem, frágil máquina, ingênuos esforços, desagradável umidade, velha Inglaterra, falsa felicidade (Ibid.); • Em geral, a anteposição do nome qualificador cria ou reforça o caráter avaliativo – mais subjetivo – da qualificação. Esse fato pode ser verificado não apenas nos casos de ordem pertinente como nos casos de ordem livre. Isso significa que, mesmo nos casos em que, com as duas colocações, se chega a uma mesma acepção básica, na verdade não 22 Em função qualificadora. 13 resultam construções de valor absolutamente idêntico, do ponto de vista comunicativo: um rapaz bom não é exatamente a mesma coisa que um bom rapaz. A segunda forma implica julgamentos de valores de cunho cultural que permitem pressupor que o rapaz, além de possuir a qualidade de ser bondoso, de bom coração, de boa índole, é também um rapaz de boa família, bem educado, um rapaz que vale a pena, etc. (Ibid.: p.203); • Nomes que qualificam o referente mais objetivamente são mais geralmente pospostos a ele, como em material necessário, cabelos grisalhos, cabelo claro, rosto pequeno, lábios carnudos, avental sujo, cabelo curto (Ibid.: p.204); • Quando houver intenção comunicativa de qualificar subjetivamente o referente, os nomes qualificadores ocorrem, de modo geral, a ele antepostos (Ibid.); • Os nomes referentes a noções abstratas favorecem mais a anteposição daqueles que o qualificam, exatamente porque a qualificação de abstratos é sempre menos objetiva – mais apreciativa e menos descritiva que a de concretos. Menos usuais, e, por isso mesmo, de maior efeito, são as ocorrências de qualificadores antepostos a nomes cujo referencial seja ligado a uma noção concreta.23 (Ibid.: p.205); 23 Para se servir dessa observação, é preciso que tenhamos bem clara em mente a distinção entre noções concretas e abstratas, equivalente à divisão tradicional dos substantivos em concretos ou abstratos. 2.3 Poucas certezas e muitas dúvidas: a necessidade de pesquisa A seguir, dois quadros sinópticos resumem as certezas que se tem atualmente sobre a colocação dos nomes com função adjetiva ou adnominal no SN. Sintetizam, igualmente, as dúvidas que permanecem, apontando, portanto, a necessidade de pesquisa para solucioná-las. 1) Quanto à posição, à ordem24 , em relação ao núcleo do SN, se pospostos ou antepostos: ORDEM LIVRE Qualificadores sem potencialidade referencial de nomear.25 (lindo, delicioso, maravilhoso, etc.) Quais? Quando? Como saber? Qual o critério? ORDEM FIXA Todos os classificadores + todos os qualificadores com potencialidade referencial de nomear.26 + ruim, comum, esnobe, etc. Quais os outros?Qual o critério? ORDEM PERTINENTE Os qualificadores pobre, rico, velho, novo, antigo, verdadeiro, simples, bom, mau, caro, semelhante, grande27 Quais os outros?Como descobrir? Qual o critério? ANTEPOSTOS POSPOSTOS ANTEPOSTOS POSPOSTOS ANTEPOSTOS POSPOSTOS Quando antepostos, posição não natural, seguem a ordem inversa, marcada, e assumem caráter avaliativo, subjetivo, vago, afetivo, juízo de valor (cultural). Quando pospostos, posição natural, seguem a ordem direta 28 , não marcada, e possuem caráter objetivo. Quais? Todos os classificadores e todos os qualificadores com potencialidade referencial de nomear. Mais algum? Quando antepostos, posição não natural, seguem a ordem inversa, marcada, e assumem caráter avaliativo, subjetivo, vago, afetivo, juízo de valor (cultural). Quando pospostos, posição natural, seguem a ordem direta 29 , não marcada, e possuem caráter objetivo. 2) Quanto à ordenação dos termos nos sintagmas nominais que contam com mais de um nome em função adjetiva, temos: 24 Ordem livre: os nomes com função adjetiva podem ocorrer em ambas as posições, antes ou depois do núcleo no SN; ordem fixa: os nomes com função adjetiva só podem ocorrer em uma posição – antes ou depois do núcleo no SN; ordem pertinente: a significação do SN varia de acordo com a posição dos nomes em função adnominal, se antes ou após o núcleo do SN. 25 Correspondentes à classe dos substantivos. 26 Correspondentes à classe dos substantivos. 27 Tais nomes apresentam comportamento diferente também em função do tipo de nomes que qualificam. 28 Equivalente à ordem lógica da sentença declarativa em Português. 29 Equivalente à ordem lógica da sentença declarativa em Português. 15 QUALIFICADOR + NSN30 + CLASSIFICADOR NSN + CLASSIFICADOR + QUALIFICADOR NSN + CLASSIFICADOR 1 + CLASSIFICADOR 231 Como podemos ver, no tocante ao tema da colocação dos nomes com função adjetiva no sintagma nominal, temos mais dúvidas do que certezas. As questõesproblema dos aprendizes de PL2E, apontadas em 2.2, e que continuam sem respostas, ilustram bem isso. É preciso, então, que pesquisas sejam feitas no sentido de saná-las ou ao menos garantir, para aqueles que aprendem o português como segunda língua, uma melhor forma de prever e entender a maioria dos casos de colocação desses nomes. 3. Conclusão É preciso que o aluno estrangeiro, sem conhecimento do mundo subjetivocultural do brasileiro, possa dispor de mecanismos mais práticos e eficientes para prever os casos que não figuram nos exemplos das gramáticas por ele consultadas, bem como reconhecer e encontrar justificativas, por exemplo, culturais, que o ajudem a identificar expressões fixas na língua que envolvam palavras com função adjetiva. A necessidade de uma melhor descrição da colocação dos nomes com função adjetiva no sintagma nominal, considerando, de tudo o que se tem sobre o assunto, apenas as informações que possam ser realmente úteis, práticas e relevantes para o aprendiz de português para segunda língua, é premente. Informações desnecessárias ou excessivas causam perturbação e comprometem a clareza durante o processo de ensino/aprendizagem. Devemos primar pela simplicidade e utilidade das informações e encontrar um caminho que equilibre da melhor forma simplicidade e eficiência. Todas as explicações devem ser acompanhadas de exaustivos exemplos para ensinar o aluno a constatar tudo aquilo que afirmamos, bem como considerar o contexto discursivo, situacional e cultural em que se inserem. Não basta expor alguns casos muitas vezes sem relações ou analogias verificáveis entre si e esperar que o não-nativo faça a sua parte – parte essa que ele não tem condições de fazer sozinho, sem que se lhe apresentem regras ou dicas. Assim, o primeiro passo para que o aluno escolha a colocação adequada para o nome com função adjetiva no SN deve ser reconhecer se o mesmo tem potencialidade32 30 NSN: Núcleo do sintagma nominal. 31 Pode não ser simples identificar qual o classificador 1 e qual o classificador 2. Em carro esporte anfíbio, o aprendiz de PL2E se perguntaria: por que não carro anfíbio esporte? 16 classificadora ou qualificadora e, logo em seguida, verificar qual delas vai assumir, bem como as funções que desempenhará de acordo com a situação contextual-pragmática em que se vai inserir. O segundo passo, considerando sempre as dicas sobre fatores lexicais, semânticos, discursivos e as tendências observadas pelo professor, é aplicar as regras de colocação desses nomes no SN - as que são conhecidas. Tal prática tem por objetivo tanto a ampla compreensão dos enunciados proferidos pelos falantes nativos, quanto a adequada construção de enunciados pelo próprio aluno estrangeiro. 32 O conceito funcionalista de potencialidade é fundamental para a didática de PL2E. Potencialidade, no caso, corresponde à noção de potencial funcional usada por Perini (2006: p.138). 17 OBRAS CITADAS Bechara, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. Carreira, Maria Helena Araújo e BOUDOY, Maryvonne. Portugais de A à Z. Paris: Hatier, 1993. Cunha, Celso e CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. Fontão, Elizabeth e COUDRY, Pierre. Sempre Amigos: Fala Brasil para jovens. Campinas: Pontes, 2000. Henriques, Eunice Ribeiro e GRANNIER, Danile Marcelle. Interagindo em português – textos e visões do Brasil. Brasília: Thesaurus, 2001. Hutchinson, Amélia P. e LLOYD, Janet. Portuguese: an essential grammar. London: Routledge, 1996. Lima, Emma Eberlein O. F. et alii. Avenida Brasil – curso básico de português para estrangeiros. São Paulo: E.P.U., 1991. Magro, Haydée S. e DePAULA, Paulo. Português – conversação e gramática. São Paulo: Editora Pioneira,1998. Martins, Nilce Sant’anna. Introdução à estilística. São Paulo: T. A. Queiroz, 2003. NEVES, Mª Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Editora UNESP, 2000. Perini, Mario A. Princípios de lingüística descritiva: introdução ao pensamento gramatical. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. ______________. Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática, 2005. ______________ Modern Portuguese: a reference grammar. New Heaven/London: Yale University Press, 2002.