total. Nada, de nada serviria. Ambos continuavam em seus lugares; ela embaixo, es-piando para cima; ele a olhar a comadre, sem sair do seu canto,sem arredar pe, arisco que sö ele mesmo. - Desca, venha ver. Estä com medo? Eu sei 1er, mas se voce" näo sabe ... Näo pöde terminar a fräse porque na sua direcäo vinha o cachorro na disparada mais danada do mundo. Vinha feito em cima do lugar onde os dois amigos estavam conversando täo cordialmente. Diante daquele vulto insölito e disposto ä violencia, lingua e dentes de fora, a raposa por sua vez disparou, pernas para que te quero, ga-nhando a capoeira num carreiräo desabalado, desses de levantar poeirae fazer nuvem. Aträs seguia o cachorro no seu encalco, pega näo pega. E quando o galo se lembra de gritar com toda a forca de seus pulmöes numa voz estrindente: - Comadre raposa, mostre o decreto a ele. Voce" näo disse que as inimizades se acabaram? Mostre o decreto a ele.Pare de corrertanto,mostre o decreto, comadre. Ademar Vidal. Joäo Pessoa, Parafba. Nota - Teofilo Braga incluiu a versäo portuguesa, do Airäo, a Raposa e o Galo (248°, 11. c, päg. 173 de Contos Tradicionais do Povo Portugues), O Galo, vendo a Raposa perseguida por uma matilha, grita-lhe: Mostre-lhe a ordern! Mostre-lhe a ordern! E a conhecida Le Coq et le Renard, XV das "Fables" (Livre Deuxieme),de La Fontaine. No livro The Types of the Folk-Tale, päg. 29, Antti Aarne e Stith Thompson registam sob n°62, Peace among the Animals, the Fox and the Cock. O conto n°- 225 da colecäo do prof. Espinosa, El gallo y la zorra, colhido em Santiponce Sevilha, Espanha, termina a raposa fugindo ao galo, e dizendo: Ya me voy, que pue' que a que' no entienda bien la orden. El libro de las Mil Noches y una Noche - trad, de Dr. G. C. Mardrus - Versäo de Viscente Blasco Charles - XVII, 61-68 - invitacion a la paz universal (Prometeu Soc. Editorial Germa-nias. F. S. Valencia, s. d.) 795-796 noites. 1 O CÁGADO E O TEIU Foi uma vez uma on?a que tinha uma filha. O teiú queria casar com ela e o amigo cágado também. O cágado, sabendo da pretensäo do outro, disse em casa da onca que o teiú para nada valia e que até era o seu cavalo. O teiú, logo que soube disto, foi á casa da comadre onca e asseverou que ia buscar o cágado para ali e dar-lhe muita pancada á vista de todos e partiu. O cágado, que estava em casa, quando o avistou de longe, correu para dentro e amarrou um lenco na cabeca, fingindo que estava doente. O teiú chegou na porta e o convidou para darem um passeio em casa da amiga onca; o cágado deu muitas desculpas dizendo que estava doente e näo podia sair de pé naquele dia. O teiú tei-mou muito: "Entäo, disse o cágado, vocé me leva montado nas suas costas". "Polí sim, respondeu o teiú, mas há de ser até longe da porta da amiga onca". "Pois bem, mas vocé há de deixar eu botar o meu canquinho de sela, porque assim em osso i muito feio". O teiú se ma?ou muito e disse: "Näo, que eu näo sou seu cavalo!" "Näo é por ser meu cavalo, mas é muito feio". Afinal o teiú consentiu. "Agora, disse o cágado, deixe botar minha brida". Novo barulho do teiú e novos pedidos e desculpas do cágado, até que conseguiu pór a brida no teiú e munir-se do mangual, esporas etc.. Partiram; quando chegaram em um lugar muito longe da casa da onca, o teiú pediu ao cágado que descesse e tirasse os arreios, senäo era muito feio para ele ser visto servindo de cavalo. O cágado respondeu que tivesse paciénciae caminhasse mais um bocadinho, pois estava muito incomodado e näo podia chegar a pé. Assim foi ganhando o teiú até á porta da casa da onca, onde ele meteu-lhe o mangoal e as esporas a valer. Entäo gritou para dentro de casa: "Olha, eu näo disse que o teiú era meu cavalo? Venham ver!" Houve muita risada e o cágado vitorioso, disse a filha da onca: "Ande, mo9a, monte-se na minha garupa e vamos casar". Assim aconteceu com grande vergonha para o teiú. Silvio Romero: - "Contos Populäres do Brasil:, pág. 144. Belo Horizonte, 1985. Nota - O conto que se passa entre o cägado (tartaruga terrestre) e o Teiu (Tupinambli tequixin) e muito popular em todo Brasil, substituindo-se a comparceria. Conheco o episodio entre a Onca e o macaco. As origens säo africanas em sua maioria absoluta. Nina Rodrigues trani-creve um conto de A. Ellis ("The Yoruba - Speaking Peoples of Slave Cost of West Africa", 188 189 A raposa enrolou o rabo na árvore e disse: - Bota ou nao bota? - Náo boto, sua miserável, que comeu meu filhinho, tao bonito e querido! Aí, a raposa disse: - Ah! já sei quem te ensinou isto: foi o cancao! Deixe estar que ele me paga! José Carvalho. "O Matuto Cearense e o Caboclo do Para", pág. 85. Belem do Pará - 1930. Nota - Essa história ouviu-a José Carvalho no sertáo do Ceará, terminando-a pela raposa prender o cancäo e este livrar-se, sugerindo que a raposa diga qualquer palavra de júbilo pela vi-tória. Ver "A Raposa e o Cancäo". Idéntica é a história que o prof. Aurélio M. Espinosarecolheu em Toro, Leon, Cuentos Populäres Espaňoles, II, n? 258, ag. 493. Um resumo: - La Pega á sus Peguitos. Habia una vez una pega que vivia en un ponjo donde tenia un nido con varios pegui-tos. Todos los dias venia un zorro y le decía a la pega: - Peguita, dame un peguito, Que si no, te corto el ponjo. • La pega, con grande dolor de su corazón le tiraba del ponjo un peguito y el picaro del zorro se lo comia. Ya el zorro acababa con los peguiios cuando llegó un dia a visitar a la pega su primo, el alcaraván. Cuando e'ste se enteró de lo pasaba de dijo a su prima, la pega: - Si el zorro viene otra vez no le des un peguito. Y si te dice que te corta el ponjo le dices tú: - El hocil sí corta el ponjo, pero no el rabo (d) el raposo. A pega assim fez, livrando os filhos da voracidade do raposo e, furioso, atinou que o con-selho viera do alcaraväo. Conseguiu segurá4o mas este fugiu pelo mesmo processo do Cancäo nordestino no Brasil. i Leo Frobenius, no "Afričan Genesis" (selecäo por Douglas C. Foz, New York, 1937) entre os Kabyl Folk Tales, regista o episódio entre the Jackal and the Len, o chacal e a galinha. O chacal comia os pintos, ameacando a galinha de subir no alio de uma rochá escarpada onde havia o ninhó. Uma águia aconselhou a galinha que desaflasse o chacal a cumprir a promessa. No outro dia houve a mesma cena e o chacal ficou desmoralizado, pág. 83. Nos contos das cabilas o agres-sor foi castigado. A águia levou-o no dorso para o pais da abundáncia em pintos, e atirou-o de uma altura imensa. The jackal prayed to God: - Let me fall in water or on a pile of straw. But the jackal fell on a rock and died. A ONCA E O BODE O Bode foi ao mato procurar lugar para fazer uma casa. Achou urn si'tio bom. R050U-0 e foi-se embora. A On9a que tivera a mesma ideia, chegando ao mato e en-contrando 0 lugar ja limpo, ficou radiante. Cortou as madeiras e deixou-asnoponto. 0 Bode, deparando a madeira ja pronta, aproveitou-se, erguendo a casinha. A On9a voltou e tapou-a de taipa. Foi buscar seus moveis e quando regressou encontrou 0 Bode instalado. Verificando que 0 trabalho tinha sido de ambos, decidiram morar juntos. Viviam desconfiados, urn do outro. Cada urn teria sua semana para cacar. Foi a Onca e trouxe um cabrito, enchendo 0 Bode de pavor. Quando chegou a vez deste, viu uma Onca abatida por uns cacadores e a carregou ate a casa, deixando-a no ter-reiro. A Onca vendo a companheira morta, ficou espantada: - Amigo Bode, como foi que voce" matou essa Onca? - Ora, ora . . . Matando! . . . Respondeu 0 Bode cheio de empdfia. Porem, insistindo sempre a Onca em perguntar-lhe como havia matado a companheira, disse 0 Bode: - Eu enfiei este anel de contas no dedo, apontei-lhe 0 dedo e elacaiu morta. A Onca ficou toda arrepiada, olhando 0 Bode pelo canto do olho. Depois de algum tempo, disse 0 Bode: - Amiga Onca, eu lhe aponto o dedo ... A Onca pulou para 0 meio da sala, gritando: - Amigo Bode, deixe de brinquedo . .. Tornou 0 Bode a dizer que lhe apontava 0 dedo, pulando a Onca para 0 meio do terreiro. Repetiu o Bode a ameaca e a on?a desembandeirou pelo mato a dentro, numa carreira danada, enquanto ouviu a voz do Bode: - Amiga On^a, eu lhe aponto 0 dedo ... Nunca mais a On9a voltou. O Bode ficou, entäo, sozinho na sua casa, vivendo de papo para 0 ar, bem descansado. J. da Silva Campos: - "Contos e Fäbulas Populäres da Bahia", pag. 166, in "O Folk-Lore no Brasil". Basilio Magalhaes. Rio de Janeiro, 1928. I'M 199 Nota - Conheso apenas uma versäo de Costa Rica, "De como el tib Conejo saliö de un apuro", de Carmen Lyra, Los cuentos de mi tia Panchita, päg. 123, onde o coelho se disfana como a laposa, tomando o ti'tulo sonoro de Hojaiascal del Monte, paia afastar o tigre que guar-dava ciumentamente a bebida ünica, un yurro con una miseritica de ägua. A oiigem serä euro-pe'ia, visivelmente. Couto de Magalhäes, "0 Seivagem" (vol. 16 da Cole$äo Reconquista do Brasil, 1975), divulga, no ciclo da Raposa, Momeucaua Micura Receudra, XX, päg. 129, aventura inteiramente identica. A Raposa, quando a On$a lhe pergunta quem e, responde: - Ixe cöo caha xirica, eu sou o bicho folha-seca. A tradu^äo do general Couto de Magalhäes assim diz: - "A raposa estava outra vez com muita sede, bateu um pe de sorveira, lambuzou-se bem na resina, espojou-se sobre folhas secas, e foi para o P090. A on9a perguntou: - Quem es? - Sou o bicho Folha Seca. A on;a disse: - Entra nägua, sai e depois bebe. A raposa entrou, seu disfarce näo boiou, porque a resina näo se derreteu dentro dägua; saiu, e depois bebeu e assim sempre ate chegar o tempo da chuva". Que z -♦Wo estivesse diluido entre os tupis ouvidos pelo general de Couto Magalhäes, vindo de Espanha-Poi.-gal, ou se desse o contrario, näo ha elemento deci-sivo para opiniäo atual, as im com« aportä-lo figurando, identico, nos Folclores africanos. Na lenda XIX a raposa emprega o mel (iral para prender as folhas secas, päg. 129. No mesmo conto de Gustavo Barroso, transcrito por mim, hä o episödio em que a Raposa pergunta se a Onsa, que se finge morta, ja espinou, pois sua avö quando faleceu espirrara tres vezes. A On9a, con-fiada espirrou, e a Raposa fugiu. A lenda XXI ("O Seivagem", päg. 129) regista o mesmo. A Raposa, vendo a On9a deit Ja, imövel, pergunta aos animais se a falecida ja arrotou. Ceramuia amira, omano ana rami, opinu mucapirai, meu finado avo, quando morreu, arrotou tres vezes. A On9a arrotou e a Raposa gargalha, voces ja ouviram quem morreu arrotar? E foge. O proble-ma e o mesmo. Chandler Harris nana identicamente, Uncle Remus, XI. Mr. Rabbit pergunta se o Lobo, Brer Wolf que se finge mortojä fez wahool O Lobo grita: - Wahoo\ O coelho foge. No folclore do norte-argentino, Agua que habla no bebo io\ Rafael Cano, Del Tiemplo de Naupa, 209, Buenos Aires, 1930, e na cole9äo de Orestes di Lullo,El zorro yel tigre, opus cit., 259. Ha tambem a prova da morte real se o defunto fizer o supe correspondendo ao opinu tupi. O "folharal" brasileiro reaparece no don Jarasquin del Monte, Stories and Songs from Mexico, William Hubbs Mechling, Jafl, XXIX, 553. O MACACO E A NEGRINHA DE CERA O macaco saía todos os dias vendendo mingau para ter 0 seu vintém para comprar 0 seu confeito. Entäo, tinha uma onca que era sua freguesa. Um belo dia, 0 macaco 0 que fez? Preparou uma panela botou porcaria dentro, cobriu a panela com uma toalha bem alva e saiu por ali a fora, com a panela na cabeca. Foi direi-tinho á casa da mo?a. Quando chegou lá, que a moca foi se aproximando com a ti-gela para botar o mingau, ele derramou a porcaria em cima dela, deu um pinote e desembandeirou pela rua, nas carreiras; — qui-qui-qui, qui-qui-qui... A moca ficou toda suja, toda lambuzada e, muito furiosa, disse: — Deixa-te estar, macaco, que eu te pego. Mandou fazer uma negrinha de cera, com um cachimbo na boca e botou-a na porta da rua. Tempos depois, passahdo 0 macaco pela casa da moca, viu a negrinha. Chegou junto dela e disse: — Negrinha, me dá uma fuma?a do teu cachimbo? A negrinha calada. — Negrinha, me dá uma fumaca do teu cachimbo, senäo eu te dou uma bofe- tada. A negrinha näo respondeu e ele, - pá ... -, deu-lhe uma bofetada, ficando com a mäo presa na cera. — Negrinha, solta a minha mäo, senäo eu te dou outra bofetada. A negrinha calada. Ele ai deu-lhe outra bofetada, ficando com a outra mäo presa. — Negrinha, solta as minha mäos, senäo eu te dou um pontapé. Deu um pontapé e ficou com o pé preso na cera. Deu outro pontapé, ficando com os dois pes presos. Por fim, deu uma cabegada, ficando com a cabeca também segura. Entäo a moca mandou agarrá-lo e matá-lo, para comer. Quando o estavam matando, ele pegou a cantar: — Me mate devagar Que me dói, dói, dói, Nhen, nhen, nhen, Foi menina que eu vi. 202 203 O mesmo fez quando o esfolaram, quando o cortaram aos pedacos para botar na panela, quando o mexeram e quando o puseram no prato. Porém a mo9a sem se importar com coisa nenhuma, sentou-se á mesa e pós-se a comé-lo. E o macaco can-tando: - Me coma devagar, etc.. Assim que a 11109a se levantou da mesa, o macaco comefou a dizer dentro da barriga dela: — Quero sair.. . — Saia pelos ouvidos. — Nao saio pelos ouvidos, que tem cera, tornou o macaco. Quero sair ... — Saia pela boca. — Nao saio pela boca que tern cuspe. Quero sair. . . — Saia pelo nariz. — Náo saio pelo nariz, que tem catarro. Quero sair.. . — Saia pelo vintem. — Náo saio pelo vintem, que tern macriagao. Afinal deu um estouro, arrebentando a barriga da mofa que caiu morta e saiu por ali a fora, danado, assoviando: fi, fl, fi-fi-fi.. . Joao da Silva Campos: - "Contos e Fábulas Populaies da Bahia", pág. 180. "O Folk-lore no Brasil", Basílio de Magalhaes. Rio, 1928. Nota - Essa história, que Silva Campos ouviu contada pelos negros do recôncavobaiano, é uma interessante convergéncia de dois temas populäres em varios Folclores. Conheco outro exem-plo da uniäo de dois motivos. Muitas vezes também ouvi contar, separadamente os dois contos: - a prisäo do macaco pelo boneco de cera e a morte de quem comeu uma carne (peixe, coelho, veado) encantada. A outra versäo é a de Silvio Romero. O boneco de cera é o tarbaby, de universal presenca nos folclores. O prof. Aurélio M. Espinosa, da Universidade de Stanford, U. S. A. reuniu 311 versôes do tarbaby, da India, Lituänia, Espanha, America Espanhola (35), Cabo Verde, Brasil, Pequenas Antilhas, Guiana Holandesa, indi'genas do Rio Orenoco, America do Norte, I■ ilipinas, Africa (26), Ilha Mauricio, anglo-africanas, dos negros americanos, Antilhas Inglesas. O prof. Espinosa recusa a fonte africana e é partidário da origem oriental. O boneco de cera pro-virá da Jataka 55, velha de quase dois mil anos, publicada por F.. B. Cowelll, "The Jataka or Stories of the Budha's Births". O Bodhisatta foi vencido por um gigante que tinha o pélo pega-joso. O herói bateu-lhe com as mäos, os pes, a cabeca, ficando preso inteiramente. O ogre per-doou-lhe a vida. O prof. Espinosa lembra que a lebre, o coelho, sáo personalizacôes do Bodhisatta. Setenta e cinco por cento das histórias do tarbaby trazem o coelho (Rabbit) como o per-sonagem. Assim constitui o Mt. 175 de Aarne-Thompson, The Tarbaby and the Rabitt. A história ainda corre entre os africanos Kaffir, Rodésia, Hotentotes, etc.. Sobre o assunto, prof. Espinosa: - "Notes on the Origin and History of the Tar-Baby Story", Journal of American Folk-Lore, tomo XLIIL, 168 (1930), "European Version of the Tar-Baby Story", Folk-Lore (Londres, vol. XL, n? III, setembro de 1929), "Sobre los orígenes del Cuento del Mufieco de Brea", separata do Boletim de La Biblioteca Menéndez y Pelayo, Santander, 1931, "More Notes on the Origin and History of the Tar-Baby Story", Folk-Lore, (Londres) vol. XLIX, junho de 1938, etc.. A primeira versffo no idioma inglés e' a de Joel Chandler Harris, em 1880, "Uncle Remus, His Songs and His Savings", no conto "Wonderfultar-baby story" ,sntiz&t*poMeocot\)\o, onde há também o episódio do Sapo com medo dágua, da literatúra oral brasileira. Vinte e tríi anos antes, em 1857, August Schleider publicava em Weimar uma colecäo de contos da Lituänia ("Litauische Märchen") onde aparece um cavalo coberto de breu para prender, como realmente prende, a uma feiticeira. No "More Notes" (Londres, Fblk-Lore, Volume XLIX, junho de 1938) o prof. Espinosa publicou um esquema gráfico do percurso do terna, irradiando-se na India (pág. 180). O dr. W. Norman Brown tern publicado ensaios sobre o Tarbaby, dizendo-o africano. Ver "The Tar-Baby Story at Home", Scientific Monthly", XV, 227-33,1922, e "The Stickfast Motif in the Tar-Baby Story", Twenty-Fifth Anniversary Studies, Philadelphia Anthropological Society, 1937. A versäo brasileira do Tarbaby que Silvio Romero registou no seu "Contos Populäres do Brasil" tern o nome de "O Macaco e o Moleque de cera", ouvida no Estado de Sergi-pe. O animal (ave ou peixe) que fica falando ou cantando quando é apanhado, cozido, devora-do e ainda fala no ventre da mulher, rebentando-a e voltando, intacto, a viver, é outro tema igualmente popular. Silva Campos (pág. 209-110, conto XXVIII). "O Rei dos Pássaros", narra o episódio de um cacador que encontrou um pássaro muito bonito que can tou, pedindo que näo o matassem. O cacador matou-o. Foi depená-lo e o pássaro can tou que näo o depenassem. Cortou-o em pedacos e o pássaro cantou pedindo que näo o cortassem. Colocaram-no na panela, puseram-no no prato, comeram-no e sempre o pássaro cantando e pedindo. Finalmente estourou e o hörnern caiu morto. Arthur Ramos ("O Folk-lore Negro do Brasil", pág. 185, Rio, 1935) reco-lheu uma variante das Alagoas. Depois de ingerido, o pássaro sai durante a defecacäo, acompa-nhado por uma porcäo de diabinhos pretos, pulando e cantando. Hell Chatelain ("Folk-Tales of Angola", conto IV, pág. 82) regista a história Muhatu, Uasema Mbiji. A mulher que desejava peixe, de Luanda, O peixe apanhado, canta em todas as ocasiöes e devorado, pergunta por onde deverá sair. Saia por onde quiser, disse por fim a mulher. O peixe saiu, rebentando a mulher pelo meio. O Padre dr. Constantino Tastevin, em carta de 12-XI-1935, em Paris, informava-me haver publicado na revista "Les Recherches Congolaises" um conto que ouvira entre os negros Ba Kamba, da margem esquerda do Nyari, altura de Mandiga, Congo-Oceano, entre Point-Noire e Brazavile. É o mesmo tema sendo o macaco, o coelho, o peixe substituidos por um antilope. O animal cantou todo o tempo, durante todas as operacöes e quem o comeu morreu. Jogaram o resto no mato e o antilope reconstituiu-se e desapareceu. Dizia-me o Pe. Tastevin, professor de Etnológia do Instituto Católico de Paris: "Essa fabula é encontrada - equivalente - em toda esta regiáo. Os negros créem que os maus viram antilope, elefante, etc., depois da morte, mas sáo animais encantados". As duas versôes brasileiras, a de Silvio Romero e a de Silva Campos, idénticas, mostram a interessante fusäo de dois temas, a do tarbaby com o animal sacrificado e vingativo, distintos noutros continentes. Incluo uma outra versäo brasileira, de Minas Gerais, que o prof. Lindolfo Gomes publicou no seu "Contos Populäres", 1 pág. 82, "O Macaco e a Velha", onde há convergéncia do boneco de cera e do animal vingador. Em Portugal, o episódio é denominado "Hörnern de Visgo" e pertence ao ciclo de Pedro Malazartes, segundo J. Leite de Vasconcelos, "Tradic5es de Portugal", pág. 294-195, "Pedro Malazarte e o hörnern de visgo", Porto, 182. Há uma curiosa modificacäo numa variante brasileira do Amazonas, que o baräo de Sant'Ana Neri registou no seu "Folk-Lore Brasilien" (Paris, 189, pág. 208). O macaco, grande ladräo de banana, é preso pela mulher porque esta cobriu as frutas com resina. Näo há o boneco. Sant'Ana Neri registou o "Tarbaby" clássico, n? 8. O prof. Espinosa recolheu uma versäo em San Esteban de Muflana, Avila, "Sanson", 35?, tomo-I, pág. 80. Sansäo, gigantesco, comiläo e bruto, foi preso por um hombre de pez. (Cuentos Populäres Espaňoles). O prof. Aurélio M. Espinosa, da Stanford University, reuniu 318 versôes deste conto. Ver minhas notas ao conto de Silvio Romero, "O macaco e o moleque de cera", Contos Populäres do Brasil, 175-176, Belo Horizonte 1985. Colecäo Reconquista do Brasil, vol. 87. 204 205