Sin taxe da Lingua Portuguesa Iva Svobodová Masarykova univerzita Brno 2014 INVESTICE DO ROZVOJE VZDĚLÁVÁNÍ Sintaxe da Lingua Portuguesa lva Svobodová Masarykova univerzita Brno 2014 evropský sociální fond v ČR EVROPSKÁ UNIE MINISTERSTVO ŠKOLSTVÍ, MLÁDEŽE A TĚLOVÝCHOVY INVESTICE DO ROZVOJE VZDĚLÁVÁNÍ P mm mm1-!-. ! OP Vzdělávání pro konkurenceschopnost Dílo bylo vytvořeno v rámci projektu Filozofická fakulta jako pracoviště excelentního vzdělávání: Komplexní inovace studijních oborů a programů na FF MU s ohledem na požadavky znalostní ekonomiky (FIFA), reg. č. CZ. 1.07/2.2.00/28.0228 Operační program Vzdělávání pro konkurenceschopnost. ©2014 Masarykova univerzita Toto dílo podléhá licenci Creative Commons Uveďte autora-Neužívejte dílo komerčně-Nezasahujte do díla 3.0 Česko (CC BY-NC-ND 3.0 CZ). Shrnutí a úplný text licenčního ujednání je dostupný na: http://creativecommons.Org/licenses/by-nc-nd/3.0/cz/. Této licenci ovšem nepodléhají v díle užitá jiná díla. Poznámka: Pokud budete toto dílo šířit, máte mj. povinnost uvést výše uvedené autorské údaje a ostatní seznámit s podmínkami licence. ISBN 978-80-210-7026-4 (brož. vaz.) ISBN 978-80-210-7027-1 (online : pdf) ISBN 978-80-210-7028-8 (online : ePub) ISBN 978-80-210-7029-5 (online : Mobipocket) INDICE 1. Introducäo....................................7 2. Oracäo, fräse e periodo.............................9 3. Sintagma......................................11 3.1. SINTAGMA NOMINAL...........................12 3.2. SINTAGMA VERBAL............................13 3.3. SINTAGMA ADJECTIVAL.........................14 3.4. SINTAGMA PREPOSICIONAL......................15 3.5. SINTAGMA ADVERBIAL.........................16 3.6. SEQUENCIA/COORDENAgÄO......................18 4. PERIODO SIMPLES...............................20 4.1. TERMOS ESSENCIAIS...........................22 4.1.1. SUJEITO..................................22 4.1.1.1. Sujeito simples e composto......................23 4.1.1.2. Sujeito argumental explicito.....................24 4.1.1.3. Sujeito argumental implicito....................24 4.1.1.4. Sujeito arbitrario............................25 4.1.1.5. Sujeito inexistente...........................26 4.1.2. PREDICADO...............................27 4.1.2.1. Estrutura de predicado........................28 4.1.2.2. Verbos plenos..............................28 4.1.2.3. Verbos auxiliares............................29 4.1.2.4. Tipos de predicado..........................30 4.1.2.4.1. Predicado nominal............................30 4.1.2.4.2. Predicado verbal..............................33 4.1.2.4.2.1. Verbos intransitivos........................... 33 4.1.2.4.2.2. Verbos transitivos............................ 36 4.1.2.4.2.3. Voz verbal/diatese............................ 38 4.1.2.4.2.4. Ora^öes passivas verbais........................ 40 4.1.2.4.2.5. Ora^öes passivas pronominais..................... 42 4.1.2.4.2.6. Ora^öes passivas reflexas........................ 43 3 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA 4.1.2.4.3. Predicado verbo-nominal.........................44 4.1.2.5. Selec9äo dos argumentos.......................47 4.2. TERMOS INTEGRANTES.........................48 4.2.1. COMPLEMENTO DIRECTO......................48 4.2.2. COMPLEMENTO INDIRECTO....................53 4.2.3. COMPLEMENTO OBLÍQUO......................56 4.2.4. AGENTE DA PASSIVA..........................57 4.2.5. COMPLEMENTO NOMINAL E ADJECTIVAL...........58 4.2.6. CONSTITUINTES ADVERBIAIS SELECCIONADOS........58 4.3. TERMOS ACESSÓRIOS...........................59 4.3.1. ADJUNTOS ADVERBIAIS.......................59 4.3.2. ADJUNTO ADNOMINAL........................62 4.3.3. APOSTO..................................65 4.3.4. VOCATIVO................................66 5. PERÍODO COMPOSTO............................68 5.1. ORAgÖES COORDENADAS........................70 5.1.1. COORDENAgÄO COPULATIVA...................72 5.1.2. COORDENAgÄO ADVERSATIVA...................73 5.1.3. COORDENAgÄO DISJUNTIVA....................74 5.1.4. COORDENAgÄO EXPLICATIVA...................74 5.1.5. COORDENAgÄO CONCLUSIVA...................75 5.1.6. POLISSEMIA DAS CONJUNgÖES...................76 5.2. ORAgÖES INTERFERENTES.......................77 5.3. ORAgÖES SUBORDINADAS.......................78 5.3.1. SUBORDINAgÄO COMPLETIVA...................79 5.3.1.1. Classifica9äo sintáctica........................80 5.3.1.1.1. Oracöes completivas de sujeito......................80 5.3.1.1.2. Oracöes completivas de objecto directo ................82 5.3.1.1.3. Oracöes completivas de objecto indirecto................84 4 5.3.1.1.4. Oracóes completivas oblíquas......................84 5.3.1.1.5. Oracóes completivas predicativa, apositiva, de agente da passiva..................................87 5.3.1.2. Modo nas oracóes completivas....................87 5.3.1.2.1. Indicativo..................................88 5.3.1.2.1.1. Consecutio temporum.........................89 5.3.1.2.2. Conjuntivo.................................93 5.3.1.2.2.1. Consecutio temporum.........................94 5.3.1.3. Oracóes completivas náo finitas...................97 5.3.1.3.1. Tempo dependente e tempo independente...............99 5.3.1.3.2. Ordem de palavras nas completivas náo finitas...........100 5.3.2. ORAgÓES RELATIVAS........................100 5.3.2.1. O modo e os tempos nas oracóes relativas............103 5.3.2.2. Consecutio temporum.......................103 5.3.2.3. Oracóes relativas reduzidas/pseudo-relativas..........105 5.3.3. ORAgÓES ADVERBIAIS.......................106 5.3.3.1. Oracóes comparativas, consecutivas e proporcionais......107 5.3.3.2. Oracóes temporais..........................109 5.3.3.3. Oracóes finais e resultativas....................115 5.3.3.4. Oracóes concessivas.........................117 5.3.3.5. Oracóes condicionais........................121 5.3.3.6. Oracóes de circunstáncia negativa................124 5.3.3.7. Oracóes de modo..........................125 5.3.3.8. Oracóes de lugar...........................125 5.3.3.9. Oracóes conformativa e de comentário..............125 5.3.3.10. Oracóes contrastivas e contrapositivas.............126 5.3.3.11. Oracóes substitutivas e acrescentativas.............126 5.3.4. ORAgÓES REDUZIDAS DE PARTICÍPIO E DE GERÚNDIO . . 127 5.3.4.1. Oracóes participiais.........................127 5.3.4.2,Oracóes gerundivas.........................128 6. Pontuacáo....................................131 7. Referéncias bibliográficas...........................134 5 SINTAXE DA LÍNGUA PORTUGUESA Agradeco á Prof. Doutora Maria de Fátima Nery Plch o labor de correccáo da pre-sente sebenta, o seu espírito crítico e as observacdes construtivas que contribuíram significativamente para a sua melhor qualidade. É a ela que dirijo o meu grande e sincero „obrigada" pela ajuda prestada, pela solidariedade demonstrada, pela amabilidade e generosidade que sempře demonstrou para comigo. Sem este apoio profissional epessoal, apresente sebenta náo teria sido possível. 6 1. Introdu^äo 1. Introdu^äo Sintaxe é uma palavra de origem grega (no grego clássico aúvxa^ic; „disposicäo", de ai3v, transl. syn, „juntos", e TáŽ;ic,, transl. taxis, „ordenacäo"). É uma disciplina linguística que estuda a organizacäo das palavras na frase e das frases no dis-curso. Ao mesmo tempo, inclui no seu estudo a relacäo logica entre as palavras e as frases, a qual condiciona a transmissäo e a percepcäo do significado completo e compreensivel da mensagem. A inobserväncia das regras de sintaxe chama-se solecismo. Na linguística, a sintaxe é o ramo que estuda os processus generativos ou combinatories das frases das linguas naturais, tendo em vista especificar a sua estru-tura interna e funcionamento. O termo „sintaxe" também é usado para referir o estudo das regras que regem o comportamento de sistemas matemáticos, como logica, e as linguagens de programaeäo de computadores. Os primeiros passos da tradicäo europeia no estudo da sintaxe foram dados pelos antigos gregos, comecando com Aristoteles, que foi o primeiro a dividir a frase em sujeito e predicado. Urn segundo contribute fundamental deve-se a Gottlob Frege que criticando a análise aristotélica, propöe uma divisäo da frase em funcäo e argumente. Děste trabalho fundador, deriva toda a logica formal contemporänea, bem como a sintaxe formal. Só no final do século XIX, a Sintaxe tornou-se uma disciplina linguística independente comecando a fazer parte da Gramática que estuda a organizacäo das palavras na frase e as relacöes que as oracöes estabelecem entre si. Na gramática tradicional a Sintaxe é trabalhada como „análise sintática", que consiste, basicamente, em classificar os vocábulos de acordo com as suas funcöes sintáticas em trés grupos: essenciais, integrantes e acessórios. Aos termos essenciais pertencem o sujeito e o predicado, aos termos integrantes per-tencem o objeto direto, indireto, complemento adverbial, agente da passiva, complemento nominal, e entre os termos acessórios da oraeäo contam-se o adjunto adnominal, adjunto adverbial, aposto e vocativo. A Sintaxe tradicional retoma os princípios da análise estrutural, saussuriana1 da frase e repre-senta um metodo consistente e solido e mais adequado ao estudo da estrutura da frase. (Kury: 1984:6). A sintaxe transformacional é uma teoria gramatical lancada por Noam 1 Ferdinand de Saussure (1857-1913) linguista e filósofo suíco, autor de Curso de Linguística Geral, cuja teoria sobre o signo linguístico (relacäo arbitrária entre um significado e um significante) serviu de base para o desenvolvimento do estruturalismo no século XX. 7 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Chomsky2 em 1957 quando publicou As Estruturas Sintáticas em que se propöe a elaborar uma formalizacäo lógico-matemática dos métodos sintácticos. Ocupa-se do aspecto criativo da faculdade da linguagem e aborda os processos de trans-formacäo pelos quais passa o sintagma. A sintaxe transformacional, introduzida por Noam Chomsky, renovou completamente a investigacäo nesta area do conhe-cimento, e em 1965 publica a sua obra Aspectos da Teoria da Sintaxe em que sintetiza os problemas relativos aos conceitos de competéncia e de performance (desempenho), da estrutura de superfície (realizacäo das frases) e da estrutura profunda (caminho a seguir para a criacäo das frases). Assim nasceu uma nova corrente designada Linguística Gerativa. A rápida difusäo do movimento gerativista na Europa pode explicar-se näo só como uma tendéncia muito geral de abertura da Europa äs concepcöes america-nas, mas igualmente por certos aspectos da propria teoria generativa, os quais retomam algumas tradicöes antigas da gramática, ao mesmo tempo que redesco-brem, sob novas formas, conceitos ligados ao desenvolvimento da linguística estrutural europeia. Apesar de a descricäo generativista constituir um ramo prevalecente no con-texto da linguística geral e portuguesa, decidimos incluir, no presente manual, sobretudo o modelo de descricäo funcional que nos parece mais apropriado para os fins didáctico-pedagógicos. A Sintaxe da lingua portuguesa é dedicada aos alunos do segundo ano do curso de Lingua Portuguesa da Universidade de Masaryk de Brno da República Checa e procura oferecer aos leitores uma visäo global e coerente das funcöes sintäcticas dos elementos que constituem uma ora-cäo ou um periodo. Apesar de ser nosso objectivo descrever as propriedades sintäcticas da oracäo sobretudo do ponto de vista funcional, será incluida na presente obra também uma breve descricäo estrutural. É de destacar que näo se trata de uma obra completa e definitiva. Estamos conscientes de que hä nela questöes näo respondidas. Por outro lado, estas lacunas poderäo alimentär o interesse dos leitores em aprofundar os seus conhecimentos que aqui tiverem adquirido. 2 Avram Noam Chomsky (1928) é um linguista, filósofo e activista politico norte-americano. O seu nome está associado ä criacäo da gramática ge(ne)rativa transformacional. É também autor de trabalhos fundamentals sobre as propriedades matemáticas das linguagens formais. 8 2. Oracäo, fräse e periodo 2. Oracäo, fräse e periodo Fräse é todo o enunciado linguistico capaz de transmitir uma ideia. Pode ser uma palavra ou todo um conjunto de palavras. O mais importante é o propósito da sua transmissäo e näo a sua extensäo, constituindo um enunciado de sentido completo. O conceito de fräse, portanto, abränge várias formas: desde as estrutu-ras linguisticas muito simples até enunciados bastante complexos. Na fräse pode, muitas vezes, ser omitido o verbo. Na linguagem oral, cada fräse possui uma melodia, um ritmo, uma entoacäo peculiar que a escrita procura sugerir por meio dos sinais de pontuacäo, que lhe emprestam um sentido completo.3 Existem vários tipos de frases: do ponto de vista da entoacäo, a fräse é classifi-cada em tipos primários:4 • fräse exclamativa, a qual possui uma exclamacäo: „Que dia täo bonito!"; • fräse imperativa, a qual expressa ordens, proibicöes ou conselhos: „Saia!"; • fräse interrogativa, a qual transmite perguntas: „Vais connosco ao cinema?"; • fräse declarativa, a qual anuncia qualquer facto: „Estou no Brasil"; E ainda há mais dois grupos secundários:5 • frases optativas em que o emissor expressa um desejo: „Desejaria falar com a Joana"; • frases imprecativas em que o emissor expressa uma súplica através de maldi-cäo: „Que um raio caia sobre a minha cabecal". O tipo mais comum da fräse é a oracäo que é formada por sujeito e predicado e como tal, estrutura-se em torno de um verbo ou locucäo verbal. O que caracte-riza a oracäo é o verbo, näo sendo relevante se tal oracäo tem um sentido pleno.6 As oracöes podem ser classificadas em tipos seguintes: • oracäo absoluta é a oracäo que representa uma fräse completa com um verbo: „A minha avófoiä eira"; • oracöes coordenadas säo duas ou mais oracöes sintacticamente equivalentes que podem ser separadas sem perder o sentido, como ilustra o seguinte caso: 3 Gramática do Portugués (2013: 305-326). 4 Abaurre, Portara (2006: 379). 5 Idem, ibidem. 6 Cunha, Cintra (1984: 122); Kury (1987: 14). 9 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA „Chegou a casa efoi deitar-se"; A relacáo de equivaléncia sintáctica existente entre as oracóes coordenadas é denominada paratáctica. • oracóes subordinadas sáo oracóes dependentes de uma oracáo principal, i.e., existe uma hierarquia sintáctica entre as estruturas oracionais. Esta relacáo de dependéncia é denominada hipotácticae pode ser observada na seguinte frase: „Pediu dinheiro ao paipara que pudesse pagar as dívidas"; • oracóes independentes sáo oracóes que fazem parte de um periodo e tém um sentido completo, pleno, (isto é, se sáo oracóes-frases), como se vé na seguinte frase: „A noite descia: caía de dma uma claridade láctea; pesava um austero e lento siléncio; a larga brancura celeste era gloriosa."7 Em princípio, cada oracáo independente é capaz de for mar por si um periodo simples. Já o periodo é uma frase que possui uma ou mais oracóes. O periodo é classifi-cado em trés tipos:8 • periodo simples: é constituído de uma só oracáo (um verbo ou locucáo verbal), p.ex: „Joáo ofereceu um livro á Joana"; • periodo composto: é constituído de duas ou mais oracóes (dois ou mais verbos ou duas locucóes verbais) com relacáo paratáctica ou hipotáctica, p.ex: „A máe precisa que vás buscar o páo"; • periodo misto: é constituído por trés ou mais oracóes (ou seja, por trés ou mais verbos ou locucóes verbais), entre as quais pode haver uma relacáo paratáctica ou hipotáctica, p.ex: „Ele amava e protegia a sua mulher que tanto significava para ele." 7 E9a de Queirós, Prosas Barbaras (1947:5). 8 Kury (2002: 62-65). 10 3.Sintagma 3. Sintagma O sintagma é um termo que foi introduzido por Ferdinand de Sasssure para designar dois elementos consecutivos, um dos quais é determinado (principal) e o outro determinante (subordinado). Assim, no sintagma o Vénus, o elemento determinado é Vénus e o elemento determinante o artigo o.9 No sintagma básico, formado por sujeito e predicado (ver mais adiante), o elemento determinado é o verbo e o determinante é o sujeito. O sintagma é definido por Saussure como "a combinacäo de formas mínimas numa unidade linguística superior que surge a partir da linearidade do signo10, ou seja, ele exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo, pois urn termo só passa a ter valor a partir do momento em que ele contrasta com outro elemento. Näo existem opiniöes unänimes na interpretacäo do sintagma. A definicäo de Saussure, sendo muito vasta, pode abranger diferentes tipos de construccöes: desde as mais baixas até äs mais altas, como se pode ve na seguinte hierarquia:11 • sintagma morfossintáctico, o qual consiste na combinacäo dos morfemas numa palavra (p.ex: re-fa-zer, chá-1-eira); • sintagma suboracional, o qual consiste na combinacäo das palavras que formám um membro oracional (p.ex: bom dia, leite magro); • sintagma oracional, o qual é composto por membros oracionais (p.ex: A vida é cäo.); • sintagma super-oracional, composto por oracöes (p.ex: Se fixer bom tempo, vou sair). Partindo do facto de o sintagma constituir uma unidade significativa composta de mais elementos que mantém entre si relacöes de dependéncia /ou interdepen-déncia12/ e de ordern, e organizados em torno de um elemento fundamental denominado núcleo, subdividimos os sintagmas em: nominal, verbal, adjectival, adverbial e preposicional. 9 Kury (2002: 9-10). 10 O signo linguístico constitui-se numa combinacäo de significante e significado. 11 Spitzová (2000: 4-5). 12 Spitzová (2000: 4). 11 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA 3.1. SINTAGMA NOMINAL O sintagma nominal (por vezes abreviado em SN) é constituído obrigatoriamente por um nome (abreviado em N) e seus respectivos determinantes13 (pronomes e palavras que originalmente pertenciam a outras classes lexicais mas que foram recategorizadas como nomes, por vezes abreviados em Det). O núcleo pode com-binar-se com outros elementos, como sáo os complementos (a conquista da cidadé), dos modificadores (a bola vermelha) e dos especificadores representados pelos determinantes14 e quantificadores15 (muitos livros). As funcöes sintácticas que o sintagma nominal pode desempenhar sáo: sujeito, predicativo (predicacäo secundaria), objecto (complemento) directo, indirecto e oblíquo (nominal e adverbial), aposto, adjunto adverbial e vocativo. Quando o sintagma nominal contém um só especificador, este ocorre na posicáo iniciál do sintagma (este estudante, muitos alunos, etc). Näo obstante, quando o especificador é um quantificador vago (veja-se a nota de roda-pe num.15), este pode ocorrer também entre um determinante definido e o nome (os vários ami-gos do Luis). Esta posicáo é chamada intermedia. Os quantificadores todos e ambos que iniciam o sintagma nominal näo podem preceder directamente um nome sem determinante (todas as casas, ambas as casas) sendo agramaticais tais construcöes como *todas casas, *ambas casas. Estes quantificadores podem ocorrer também em posicáo pós-verbal, separados do sintagma nominal, numa con-strucáo chamada ťlutuacao do quantificador16. Assim, sáo possíveis as seguinte substituicöes: Todas as casas eram brancas. -> As casas eram todas brancas. Ambas as criancas comeram o bolo. -> As criancas comeram ambas o bolo}7 Quanto ä funcáo sintáctica que o sintagma nominal exerce na oracáo, geral-mente é representado pelo sujeito e pelos complementos verbais da oracáo, como ilustra o seguinte exemplo: Os alunos escreveram um teste. 13 Svobodová (2014). 14 Pertencem aos determinantes: os artigos definido, indefinido e os pronomes demonstratives. 15 Pertencem aos quantificadores: os quantificadores universais {todos, ambos), vagos (bastantes, demasia-dos, inúmero, muitos, numerosos, poucos, vários e as suas variantes femininas) e os numerais cardinais. 16 Gramática do Portugués (2013:723); Gramática da Lingua Portuguesa (2003:328-370). 17 Gramática do Portugués (2013:723). 12 3.Sintagma Nesta oracäo registram-se dois sintagmas nominais: um na funcäo de sujeito e o outro na funcäo do objecto (complemento directo): na funcäo de sujeito encon-tra-se os alunos, cujo núcleo é alunos e cujo especificador o determinante os; na funcäo do objecto (complemento) directo encontra-se um teste com o núcleo teste e com o especificador um. O sintagma nominal, como vemos, tem uma estrutura interna mais complexa. Dentro do SN distinguimos ainda um constituinte menor formado pelo nome (abreviado em N) e os outros elementos lexicais (além dos especificadores). Estes grupos säo chamados grupos nominais18 (abreviados em GN) e säo, portanto, unidades cuja extensäo se sobrepöe ao N, como ilustra o seguinte caso: Os meus cinco irmäos da parte da mäe vivemfora do pais. Nem todos os sintagmas contém um especificador, sobretudo quando repre-sentam urna quantidade indeterminada de entidades ou urna quantidade inde-terminada de substancia. Assim, na frase: Comprei CDs do Zeca Afonso./Comi bolo ao jantar. o referente do SN denota urna quantidade indeterminada (de discos, de bolo). Estes grupos nominais, sem o especificador, säo denominados sintagmas nominais reduzidos.19 Os especificadores, quando aparecem, precisam a denotacäo dos referentes, determinam-nos. 3.2. SINTAGMA VERBAL O sintagma verbal é constituído pelo predicado da oracäo, em que o núcleo é o proprio verbo, como ilustra o seguinte exemplo: As visitas chegaram. Nesta frase o predicado é o verbo chegaram, representando, assim, o sintagma em evidencia. Por vezes, o sintagma verbal é abreviado em SV e o seu núcleo em V.20 18 Gramática do Portugués (2013:730), Gramática da Lingua Portuguesa (2003:403-416). 19 Gramática do Portugués (2013:731). 20 Gramática da Lingua Portuguesa (2003:403). 13 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Os elementos que ocorrem juntamente com o verbo pleno dentro do sintagma verbal säo chamados argumentos do verbo21, que podem ocorrer sob forma do sintagma nominal, adjectival, adverbial ou preposicional, desempenhando as funcöes de predicativo (ou de predicacäo secundaria), de objecto (complemento) directo, indirecto e obliquo (adverbial e nominal). Diz-se que o verbo selecciona os seus argumentos, e que säo, portanto, constituintes obrigatórios, sem os quais a oracäo näo teria sentido completo. O argumente é crucial na organizacäo sin-táctica e semäntica da oracäo. Os argumentos do verbo säo classificados em: argumento externo22 (o sujeito) e os argumentos internos23 (os complementos). Nem todos os sintagmas verbais tern urn complemento, sobretudo quando representam verbos intransitivos ou absolutes, como exemplificam as seguintes frases formadas por verbos meteorológicos: Choveu. Neva. Troveja. Relampagueja. Nestas frases unimembres, os verbos meteorológicos, säo auto-suficientes e näo precisam de nenhum complemento que lhes integre o sentido. Constituem os chamados sintagmas verbais reduzidos.24 3.3. SINTAGMA ADJECTIVAL O sintagma adjectival (abreviado em Adj.) é constituído por um elemente nuclear que é um adjectivo que tipicamente funciona como predicativo, complemento, adjunto ou aposto. Alem do núcleo, o sintagma adjectival pode conter especificadores adverbiais, que säo tipicamente de carácter quantificacional (muito famoso, bastante raw, nada estúpido, completamente vazio, extraordinariamente interessante), mas tam-bém podem ser avaliativos (terrivelmente egoista, historicamente importante).25 Quando o sintagma adjectival contém um complemento, este completa-lhes o sentido e ocorre sempre ä direita do adjectivo (orgulhoso dos seusfilhos, alérgico ao polen, agradável de ouvir, amável com alguém, ansioso por a.c, certo de a.c, distante de a.c, deseioso de a.c, fácil de a.c, fiel a alguém,, nativo de a.c, origi- 21 Gramática do Portugués (2013:1156). 22 Idem, ibidem. 23 Idem, ibidem. 24 Idem, ibidem. 25 Gramática do Portugués (2013: 1364), Gramática da Lingua Portuguesa (2003:370-391). 14 3.Sintagma nário de ax, par eddo com ax, preocupado com ax., proximo de ax, seguro deax., simpático com alguém, etc.J.26 Alem dos especificadores e complementos, o sintagma adjectival pode conter adjuntos, elementos facultativos que náo sáo seleccionados pelo adjective27 Oco-rrem exclusivamente á direita do adjectivo e de um eventual complemento do adjectivo. Os adjuntos descrevem as cireunstáncias da situacáo expressa pela predicacáo adjectival (uma pessoa infeliz na sua casa, um homem bébedo á meia-noite... etc.). O sintagma adjectival desempenha na oracáo a funcáo de predicativo e de adjunto. Nem todos os sintagmas adjectivais contém um especificador ou um complemento, sobretudo quando denotam precisamente a propriedade de refe-rentes. Assim na frase: Estou cansada. o falante náo pretende especificar nem pormenorizar o estado de cansaco, transmite uma informacáo mais neutra. Estes adjectivos, isolados, sem o especificador nem complemento, constituem os sintagmas adjectivais reduzidos.28 3.4. SINTAGMA PREPOSICIONAL O sintagma preposicional (abreviado em SP) é constituído por uma preposicäo, ou por uma locueäo prepositiva que formám o seu núcleo. O SP pode, junto com o nome, funcionar como complemento oblíquo (adverbial e nominal), complemento (objecto) indirecto e directo preposicionado, adjunto adnominal (modifi-cador adjectival) ou adjunto adverbial.29 O sintagma preposicional nunca aparece na forma reduzida, sendo obrigatório o uso do complemento ou adjunto. 26 Gramática do Portugués (2013: 1365). 27 Gramática do Portugués (2013: 1367). 28 Na terminológia sintáctica näo é utilizado o conceito "sintagma adjectival reduzido". No nosso manuál, este termo é aplieado ä estrutura do SAdj cuja construcäo é análoga ä dos dois casos anteriores: dos sintagmas nominal e verbal reduzido. 29 Gramática do Portugués (2013: 1797), Gramática da Lingua Portuguesa (2003:391-403). 15 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA 3.5. SINTAGMA ADVERBIAL O sintagma adverbial (abreviado em SAdv) e constituido de adverbio, que e o seu nücleo, e de outros constituintes, que podem ser complementos ou espe-cificadores.30 Os especificadores, como, por exemplo: muito cedo, extraordinariamente bem, tres dias antes, etc, säo tipicamente adverbios que geralmente denotam urn sentido quantificacional que explicita o grau da propriedade ou da relacäo denotada pelo adverbio, funcionando, nesse sentido, como os especificadores quantificacionais no SN. Consequentemente, os especificadores ocorrem com os adverbios que denotam dominios escalares ou graduaveis: devagar, cedo, tarde, proximo, longe. Entre os especificadores do adverbio pretencem: • adverbios quantificacionais de grau: bastante, bem, demasiado, muito pouco, enormemente, excessivamente, suficientemente; • locucöes adverbiais de grau: um bocadinho, um bocado, um pouco; • sintagma nominal de valor temporal: antes de, depois cujo nücleo nominal denota uma unidade de medida temporal: dois minutos antes, uma hora depois; • especificador quantificacional de valor espacial cujo nücleo nominal representa uma unidade de medida espaciaba duzentos quilömetros depois de Lisboa. Apenas as locucöes prepositivas iniciadas pelo prefixo a ou pela preposicäo a admitem ser especificadas por SN quantificacionais: duzentos metros aträs/ä /rente, cinco quilömetros acima/abaixo, tres metros ä esquerda, ä direita, a duzen-tos quilömetros de Coimbra, a cinco euros o quilo, etc). Os complementos do adverbio, sobretudo relacionais, (como dentro de,fora de, perto de, como mostram os seguintes exemplos: perto/longe da casa, dentro do predio, etc. Os complementos do adverbio ocorrem ä sua direita e completam--lhe o sentido.31 Os adverbios mais tipicos, contudo, näo se combinam com urn complemento porque, de certa forma, ele esta implicito no sentido do proprio adverbio. Por exemplo, o adverbio aqui implica o sentido da preposicäo em. De um modo semelhante, os adverbios que terminam em - mente, implicam tambem o sentido de modo (no latim: mens,- mentis significa modo, maneira, forma). Assim, semelhantemente, corresponde ao seu equivalente: de um modo semelhante. 30 Gramätica do Portugues (2013:1583). 31 Gramätica do Portugues (2013: 1584-1586), Gramätica da Lingua Portuguesa (2003:391-417-431). 16 3.Sintagma Aos advérbios que se podem combinar com complementos na forma do SP, pertencem, entre outros: • alguns advérbios que terminam em -mente e que preservam o complemento seleccionado pela base adjectival da que deriva: identicamente a, paralelamente a, perpendicular mente a, relativamente a, contrariamente a, juntamente com, independentemente de^ etc.; • advérbios relacionais que denotam uma relacáo espacial e que se combinam obrigatoriamente com um SP: fora de^ dentro de^ cerca de^frente a; • advérbios de lugar deícticos que podem aparecer com algumas locucoes prepo-sitivas: cá em baixo, lá em cima, lá fora, lá longe, ai á frente, ali atrás, etc.; • advérbios mais, menos, táo, tanto que aparecem nas construcoes comparativas que denotam o grau dos advérbios: "Ele come mais do que deveria comer."I "Este ano estuda menos do que no ano passado." etc. Dentro de cada oracáo, os sintagmas organizam-se hierarquicamente, incluindo esta hierarquia vários níveis: no nível mais alto encontra-se o sintagma por exceléncia (sin-tagma básico), formado por sujeito e predicado e que compóe a oracáo típica. No segundo nível, encontram-se os núcleos de todos os complementos verbais e nominais. No terceiro nível os seus modificadores, especificadores e complementos.32 ,_. F ^^^^ SN SV 1 / \ N V SN / \ D N D N A Maria encontrou o livro (sujeito) predicado + objecto directo) F ^^^^^ SN SV 1 / > N V SN SP /\ / \ / \ D N D N Prep. SN /\ D N 0 Joäo deu o livro ä Maria. (sujeito) (predicado ^ - objecto directo + objecto indirecto) 32 Spitzová (2000: 6). 17 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA SN SV N V" SN SP /\ /\ /N D N D N Prep. SN I N O Joäo encontrou o livro com facilidade. (sujeito) (predicado + objecto directo + adjunto adverbial) Os constituintes oracionais que se encontram nos primeiros dos níveis superio-res, säo caraterizados por urna maior autonómia quanto ä ordem das palavras. Ou seja, tanto os membros do sintagma básico como os do segundo nível (com-plementos verbais), podem ser facultativamente posicionados, sempre de acordo com a compatibilidade gramatical:33 Vou dizer isto ao pai./ Vou dizer ao pai isto:.../ Isto eu vou dizé-lo ao pais. Ao contrário, os membros no terceiro nível unem-se directamente com o mem-bro regente (determinado) do sintagma.34 3.6. SEQUÉNCIA/COORDENA^ÄO Nem todos os termos consecutivos apresentam entre si urna relacäo sintagmática ou hierárquica. Quando a combinacäo de dois elementos forma urna coordena-cäo, falamos da sequéncia35 que também pode apresentar vários tipos no eixo sintagmático: 1. morfossintática que se abona no caso das palavras compostas como vaivém, palavra-chave, etc; 2. sintática ou suboracional como, por exemplo, na frase: Eu e o Toäo chegámos atrasados, etc; 3. superoracional que ocorre quando se coordenam, entre si, duas o mais ora-côes: Fui ao teatro com os meus amigos e depois fomos jantar todos iuntos ao restaurante. 33 Spitzová (2000: 6). 34 Idem, ibidem. 35 Kury (2002: 5). 18 3.Sintagma Tanto as relacóes sequenciais como as relacóes sintagmáticas constituiráo o terna fulcral da nossa análise sintáctica, na qual nos encarregaremos de exa-minar, classificar e reconhecer as estruturas da sintaxe, seguindo a seguinte logica: a frase é composta de períodos, o periodo é decomposto em oracóes, as oracóes em sintagmas, onde podemos definir os elementos determinados e deter-minantes. No nosso trabalho concentraremos a nossa atencáo á análise sintáctica funcional, incluindo, na medida do possível, os diagramas das estruturas morfo-sintácticas. Na análise do periodo simples, constituído de uma oracáo, estudare-mos as funcóes dos termos (consituintes frásicos) e as suas relacóes numa oracáo; na análise do periodo composto, constituído de mais de uma oracáo, concentrar-nos-emos na classificacáo e na análise das frases subordinadas e coordenadas e na relacáo que entre elas existem. 19 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA 4. PERÍODO SIMPLES A oracäo é a unidade maxima da sintaxe.36 Pode ser segmentada em compo-nentes mais pequenos, chamadas termos ou elementos ou constituintes da oracäo, que säo componentes dotadas de uma certa autonomia semäntica. Um termo da oracäo é formado por uma palavra lexical isolada ou unida com várias pala-vras que pertencem a variadas classes lexicais. Uma palavra gramatical näo pode funcionar, isoladamente, como termo sintáctico da oracäo. Assim, na seguinte oracäo „Nós falamos de ti." contamos com trés termos oracionais: 1. nós; 2./alamos; 3. de ti. A preposicäo serve apenas como uma ponte de uniäo entre os termos da oracäo. De acordo com a funcäo que um termo oracional desempenha na oracäo, rela-tivamente aos outros membros oracionais, distinguimos trés grupos de termos: 1. constituintes (termos) sintácticos essenciais - sujeito e predicado;37 2. constituintes (termos) sintácticos integrantes ou seleccionados38 - predica-tivo, complemento direto, indirecto, obliquo (adverbial, nominal), agente da passiva;39 3. constituintes (termos) sintácticos acessórios ou näo seleccionados40 - adjunto adnominal, adjunto adverbial, aposto.41 As relacöes entre os termos oracionais säo binárias (bilaterais). Ao analisar a oracäo, podemos observar que dois termos da oracäo estäo sempre unidos mais estreitamente entre si do que com outros, como exemplifica a estrutura da oracäo seguinte: O director da empresa casou ontem com uma mulher muito simpática e muito jovem. Nesta oracäo há uma relacäo directa entre os seguintes termos: a) O director da empresa; b) o director casou; c) casou ontem; d) casou com uma mulher; e) uma mulher simpática; f) uma mulher jovem; g) muito simpática; h) muito jovem; e uma relacäo indirecta entre casou - muito simpática, casou - muito jovem, etc.42 36 Spitzová,E. (2000:4). 37 Kury (2002: 20). 38 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 277). 39 Kury (2002: 44). 40 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 277). 41 Kury (2002: 54). 42 Idem, ibidem. 20 4. PERÍODO SIMPLES F SN SV /\ N + SP V SAdv SP A / \ / \ D + N P + SN Adv P SN A D N O director da empresa casou ontem com uma mulher muito simpática e muito jovem. A relacäo entre os termos da oracäo é de trés tipos: • interdependéncia: quando os termos se pressupôem reciprocamente e nen-hum pode existir sem o outro. Na oracäo desempenham sempře as funcôes de sujeito e de predicado, i. e., o sintagma básico43, chamado também por excelencia, no qual, o verbo é o termo determinado e o sujeito, o termo determinante. • subordinacäo: quando um dos termos pressupôe o outro, mas näo ao contrá-rio: um dos termos é constante e obrigatório, o outro variável (facultativo). Este tipo de relacäo é denominado também como de determinacäo (o termo constante e subordinante é o termo determinado pelo termo variável e facultativo (denominado determinante). • coordenacäo: os termos da oracäo podem coexistir, mas näo se condicionam. Na oracäo fazem parte da mesma funcäo sintáctica e apresentam a mesma relacäo . Assim, na frase citada: O director da empresa casou ontem com uma mulher muito simpática e muito jovem., há urna relacäo de interdependéncia: o director casou; urna relacäo de coordenacäo: simpática e jovem, sendo as outras relacôes definidas como relacôes de subordinacäo. De acordo com a estrutura oracional, as oracôes podem ser divididas em uni-membres e bimembres. O tipo mais frequente de oracäo é a oracäo bimembre44, a qual pode ser bipartida em sujeito e predicado. Pertencem a este tipo também oracôes que tém o sujeito omitido, implícito na forma verbal e que sempře pode ser expresse As oracôes que säo formadas apenas pelo verbo na funcäo de predicado, sem o sujeito (nem explícito nem implícito) säo chamadas unimembres45 e 43 Kury (2002: 20). 44 Spitzová (2000: 8). 45 Idem, ibidem. 21 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA incluem, sobretudo, aquelas oracöes que exprimem fenómenos naturais de tempo (fax cinco anos) e de atmosféra (chover, relampageaf), ou ainda outras como, por exemplo, as que säo constituidas pelo verbo haver e tratar-se de. O predicado é, na oracäo de um só termo, a enunciacäo pura de um facto qualquer, é aquilo que se diz acerca do sujeito. O sujeito, ao contrario, é o termo que exprime o ser de quem se diz alguma coisa. 4.1. TERMOS ESSENCIAIS 4.1.1. SUJEITO Em análise sintáctica, o sujeito é um dos termos essenciais da oracäo, geralmente responsável por realizar ou sofrer uma accäo ou estado. O sujeito rege a termina-cäo verbal em numero e pessoa e é marcado pelo caso reto.46 As regras de regén-cia do sujeito sobre o verbo säo denominadas concordáncia verbal.47 Observe-se o seguinte exemplo: O coro regional de Jaromír Bazel cantará melodias brasileiras na Igreja Evangélica. Nesta fräse, o verbo cantará é a forma finita do verbo cantar, que concorda com o sujeito coro na primeira pessoa do singulár. Para os verbos que denotam accäo, frequentemente, o sujeito da voz activa é o constituinte da oracäo que designa o ser que pratica a accäo, o chamado agente. O sujeito da voz passiva é o que sofre as suas consequéncias, e é chamado paciente. Sob outra tradicäo, o sujeito (psicológico) é o constituinte do qual se diz alguma coisa. Segundo E. Bechara, „é o termo da oracäo que indica a pessoa ou a coisa de que afirmamos ou negamos uma acäo ou qualidade".48 Didaticamente, para identificarmos, dentro da oracäo, o termo na funcäo de sujeito, podemos utilizar a seguinte pergunta de controle: Quem é que? ou O que é que? A resposta a esta pergunta será o sujeito, como ilustra o seguinte exemplo:49 O menino brinca. (periodo simples) Quem é que está a brincar? (pergunta de controle) O menino. (resposta: o menino= sujeito) 46 Caso nominativo. 47 Kury (2002: 21). 48 BECHARA (2002). 49 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 283). 22 4. PERIODO SIMPLES 4.7.7.7. Sujeito simples e composto De acordo com o numero de núcleos que o sujeito apresenta na oracáo, este pode ser dividido em simples e composto.50 O sujeito simples apresenta apenas um núcleo substantivo (equivalente ou pronome), enquanto o sujeito composto é aquele que apresenta mais de um núcleo (substantivo, equivalente ou pronome). Normalmente, o sujeito precede o verbo, contudo, há casos em que o sujeito pode vir depois do verbo, como ilustram os seguintes exemplos: Oayófoipassearcom o cáo. (sujeito simples) Eu e a máe vamos fazer compras. (sujeito composto) Tue eu temos muito em comum. (sujeito composto que precede o V) Temos muitas coisas em comum, (sujeito composto localizado tue eu depois do V) Observe-se que aumentar o numero de características atribuídas ao sujeito náo o torna composto. Assim, na frase: Apequena crianca parecia feliz com seu novo brinquedo. o termo sublinhado é um sujeito simples e náo composto. Ao mesmo tempo, na mesma frase com mais núcleos substantivos coordenados entre si verifica-se um sujeito composto: A pequena crianca e o irmáozinho pareciam felizes com o seu novo brinquedo. De acordo com as propriedades morfossintácticas do sujeito, este pode apre-sentar vários tipos: explícito, implícito, indeterminado, e inexistente. De acordo com a terminologia moderna, o sujeito que é identificável na oracáo e que tem um referente textualmente ou contextualmente identificável, é chamado sujeito argumental.51 Este pode ser foneticamente expresso ou nulo.52 No primeiro caso trata-se do sujeito explícito e no segundo caso do sujeito implícito. 50 Cunha, Cintra (1999:126); Kury (2002: 22). 51 Gramática da Língua Portuguesa (2003: 282). 52 Idem, ibidem. 23 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA 4.7.7.2. Sujeito argumental explfcito O sujeito argumental esta foneticamente expresso na oracäo. Pode ser simples ou composto, como ja foi acima referido: F SN SV / \ / \ N SP V SAdv / \ / \ 1 1 D N P53 SN V Adv / \ D N 0 director da empresa casou ontem. (sujeito) (predicado) 4.7.7.3. Sujeito argumental implfcito O sujeito foneticamente nulo e chamado sujeito implicito, eliptico54, subenten-dido ou desinencial, antigamente era chamado de sujeito oculto ou determi-nado55, conceito que foi abolido, por questoes tecnico-formais e linguistico-gra-maticais, passando a prevalecer o uso do termo sujeito simples desinencial, uma vez que este pode ser determinado atraves dos morfemas gramaticas do verbo, situacao na qual, para encontrar o sujeito eliptico, usamos a forma pronominal tonica (eu, tu, ele/ela, nos, vos, eles/elas) equivalente a pessoa verbal. Sujeito desinencial SN [nös] Choramos todos os dias. (sujeito) (predicado) 53 Abreviacäo de preposicäo, 54 Kury (2002: 22); Cunha, Cintra (1999:128) 55 Idem, ibidem. 24 4. PERÍODO SIMPLES Em frases contextualmente ligadas, identificamos o sujeito simples ou pela forma verbal ou pela anáfora directa, como exemplifica o seguinte caso. O termo os pais é sujeito explícito na primeira frase e desinencial apenas na segunda frase, na qual a forma pronominal reta séria: eles. Observe-se que näo se pode confundir o vocativo (expressäo de chamamento) com sujeito elíptico. Assim, na oracäo: „Querido aluno, leia sempre!" (sujeito desinencial näo é querido aluno, mas sim, „vocé" ). 4.7.7.4. Sujeito arbitrário O sujeito com interpretacäo arbitrária56, denominado, na tradicäo luso-brasile-ira, indeterminado57, é a expressäo que näo identifica o agente. Podemos dizer que o sujeito é indeterminado quando o verbo näo se refere a urna pessoa deter-minada, ou por se desconhecer quern executa a accäo ou por näo haver interesse no seu conhecimento. Aparecerá a accäo, mas näo há como dizer quem a pratica ou praticou. Há duas maneiras de identificar um sujeito indeterminado: 1. pelo verbo na 3a pessoa do plural, sem referencia a qualquer agente já expresso em oracôes anteriores:58 „Roubaram-me o carro"; 2. pelo verbo na 3a pessoa do singular na forma reflexiva59: „Precisa-se de livros. Necessita-se de amigos. Aqui, dorme-se muito bem." A expressäo: „Aqui, dorme-se muito bem", pode significar também que alguém dorme muito bem, ou qualquer pessoa dorme muito bem ou a gente dorme muito bem. Ao contrário dos sujeitos desinenciais, substituíveis pelos pronomes pes-soais tónicos, no caso do sujeito arbitrário näo é possível exprimir, explicita-mente, o sujeito. 56 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 283). 57 Kury (2002: 22). 58 Idem, ibidem. 59 Idem, ibidem. (-) Foram embora logo em seguida. _l (eles) 25 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Sujeito indeterminado Sadv Adv aqui. 4.1.1.5. Sujeito inexistente O sujeito indeterminado é interpretado, por alguns linguistas, como sujeito inexistente. Näo obstante, as oracöes com o sujeito inexistente, denominadas tam-bém oracöes sem sujeito, apresentam um caso distinto: nelas a enunciacäo con-centra-se no predicado, que näo se atribui a nenhum ser (nem a alguém, nem a qualquer pessoa, nem á gente, como no caso anterior). Na terminológia moderna, este sujeito é chamado de expletivo60 e ocorre • com verbos de elevacäo: Parece que o Joäojá chegou./Trata-se de um problema complexo. • em construcôes existenciais Há trésjanelas na casa. • em construcôes de carácter impessoal Chove torrencialmente. Sujeito inexistente F ^ SN SV e V (sujeito) Anoitece 60 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 282). SN SV V SAdv (sujeito x,y,z) Adv Dorme-se bem (predicado) 26 4. PERIODO SIMPLES Aos verbos impessoais pertencem61: • verbos que exprimem fenómenos meteorológicos que indicam fenómenos da natureza tais como: anoitecer, trovejar, nevař, escurecer, chover, relampejar, ventar; • verbos que exprimem o sentido de existir (com o verbo haver, significando existir ou acontecer): Ainda há amigos. Haverá aulas amanhá. Houve um grave incidente no meu apartamento.; • verbos que indicam tempo e clima como: ser,fazer, haver, estar, ir, andar e passar: Está quente esta noite. Faz dez anos que náo o vejo. Vaz um color insoportável.; • verbos que indicam o tempo decorrido: anda por aí um més que...., faz um tempáo que, há longos anos que, yaipara mais de cinco anos que, etc. Destaque-se que existem advérbios que exercem claramente a funcáo sintáctica de sujeito, a qual é propria de substantivos, como mostram os exemplos seguin-tes, nos quais o sujeito é substituível sempře por um advérbio. Amanhá éferiado nacionál. (O dia de amanhá éferiado nacionál) Aquijá é Vitória. (Este lugar é a Vitória) Hoje é dia de festa. (O dia de hoje é dia de festa) Agorajá é noite avancada. (Esta hora é avancada). 4.1.2. PREDICADO O sujeito e o predicado constituem, como já foi várias vezeš referido, o sintagma básico. A funcäo de predicado é executada por um predicador, i.e. verbo que tem a capacidade de seleccionar e fazer depender de si complementos (ou argumentos). Cháma-se predicacäo verbal o resultado da ligacäo que se estabelece entre o sujeito e o verbo e entre os verbos e os complementos. Ä excepcáo do vocativo, tudo o que, na oracáo bimembre, náo é sujeito ou náo está no sujeito, constitui o predicado, o qual contém a informacáo nova para o ouvinte, ou seja o predicado é tudo aquilo que nos traz informacöes sobre o sujeito e o que é estruturado em torno de um verbo. O predicador concorda sempře em numero e pessoa com o sujeito. O núcleo do predicado pode ser um predicador (verbo) significativo, um nome ou os seus equivalentes, ou ambos. Daí a classificacáo do predicado em vários tipos: predicado verbal, predicado nominal e predicado verbonominal.62 61 Kury (2002: 24-25). 62 Kury (2002:26); Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 277-281); Gramática do Portugués (2013: 1195-1214). 27 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA 4.1.2.1. Estrutura de predicado A funcäo do predicado, como já vimos, pode ser desempenhada ou por apenas um verbo pleno (principal) ou por perifrase verbal, composta de um verbo auxi-liar e um verbo principal. O verbo pleno, na funcäo do predicado, constitui o núcleo gramatical e semän-tico do sintagma verbal e de toda a oracäo, visto que é o elemento que descreve o tipo de situacäo expresso por ela. O verbo auxiliar é, na oracäo, o elemento que veicula as marcas de concordäncia com o sujeito, bem como a flexäo de tempo, modo e aspecto, chamada flexäo TMA.63 4.1.2.2. Verbosplenos Os verbos principais classificam-se, de acordo com o tipo de predicacäo, em transitivos e intransitivos. Os verbos intransitivos säo verbos que podem conter em si toda a significacäo do predicado sem a necessidade de acrescentar qualquer complemento e que podem seleccionar apenas urn sujeito, como mostram as seguintes frases: p.ex.: „O Joäo canta.V'O Antonio dor me."/"O vidro rachou.V'O gelo derreteu.V „O cäo ladra."/"0 rouxinol trina." Os verbos transitivos säo os verbos que requerem o acréscimo de um complemento que integre o sentido do predicado. Classificam-se em: transitivos directus, indirectos, (bi)ditransitivos e transitivos adverbiais.64 Os verbos transitivos directos säo verbos que requerem (ou seja, seleccionam) um sujeito e um complemento com a funcäo sintáctica de complemento directo, como ilustra o seguinte exemplo: A Ana comeu o bolo. Os verbos transitivos indirectos säo verbos que seleccionam um sujeito e um complemento indirecto: A Ana telefonou para a tia. Os verbos ditransitivos/bitransitivos ou biobjectivos requerem (seleccionam) um sujeito, um complemento directo e um complemento indirecto: Dei tudo aos meus amigos. 63 Gramática do Portugués (2013: 1155). 64 Idem, ibidem. 28 4. PERIODO SIMPLES Os verbos transitivos obliquos säo verbos que seleccionam um sujeito e urn complemento obliquo: A Ana gostou do bolo. Os verbos transitivos predicativos säo os verbos para alem do complemento directo, seleccionam um constituinte de natureza predicativa (achar, considerar, eleger, etc.): O Manuel achou o filme interessante. Os verbos transitivos adverbiais säo verbos de movimentos ou de situacäo como, por exemplo, chegar, partir, ir, seguir, vir, voltar, estar,ficar, morar, etc., que pedem urn complemento adverbial de lugar que lhes integra o sentido: Moramos em Paris. 4.1.2.3. Verbos auxiliares Quando o sintagma verbal e composto por um verbo pleno precedido por urn verbo auxiliar, forma uma perifrase verbal ou construcäo perifrastica65. Aos verbos auxiliares66 pertencem aqueles verbos que servem para a formacäo de tempos compostos e diateses: ter+participio passado, haver+participio pas-sado, ser+participio passado. O verbo auxiliar ter chama-se auxiliar perfeito67, e o verbo auxiliar ser chama-se auxiliar passivo.68 Existem tambem auxiliares temporais69, como ir+infinitivo, haver de+infini-tivo que formam parte das perifrases verbais futurais que exprimem urn momento futuro proximo. Aos verbos auxiliares aspectuais70 pertencem os verbos que determinam com mais rigor, o momento do processo verbal, indicando, entre outros, os seguintes valores aspectuais: 1. o valor aspectual incoativo que determina o momento inicial de um processo. Estes verbos auxiliares säo geralmente chamados verbos incoativos71e perten- 65 Gramätica do Portugues (2013: 1221-1223). 66 Kury (2002: 41-44); Gramätica do Portugues (2013: 1221-1280). 67 Gramätica do Portugues (2013: 1225). 68 Idem, ibidem. 69 Idem, ibidem. 70 Idem, ibidem. 71 Idem, ibidem. 29 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA cem a eles os seguintes verbos: comecar a, deitar a, desatar a, entrar a, passar a, pegar a, parse a, principiar a (+infinitivo), etc.; 2. o valor aspectual frequentativo indica o carácter plural do processo ou do estado de coisas que ocorrem um numero significativo de vezeš. Muitas vezes säo usados, com os verbos frequentativos72, os adverbiais frequenciais como muitas vezes, frequentemente, etc.. Pertencem a este grupo os seguintes verbos: costumar, voltar a (+infinitivo), etc.; 3. o valor aspectual conclusivo73 e cessativo indica o momenta final, que pode ser expre-sso pelas seguintes perifrases: acabar de, cessar de, deixar de, parar de (+ infinitivo); 4. o valor cursivo ou durativo74 caracteriza os enunciados que estäo em curso. Os estados de coisas ou processos em curso podem ser expressos pelas perifrases com infinitivo como säo: estar, andar,ficar (+a+infinitivo/+gerundio); Aos verbos auxiliares pertencem também os verbos auxiliares modais75 ou progressivos76 que indicam a modalidade verbal como, por exemplo: 1. verbos de volicäo: desejar, querer, haver de (+infinitivo); 2. verbos que exprimem possibilidade ou capacidade: poder, ser (+infinitivo); 3. verbos que exprimem necessidade dever, ter de, ter que (+infinitivo); 4. verbos que exprimem intencäo: procurar, pretender, buscar, tentar (+infinitivo); consecucäo: lograr, vir (+infinitivo); 5. verbos que exprimem a aparéncia parecer (+infinitivo). 4.1.2.4. Tipos de predicado 4.1.2.4.1. Predicado nominal O predicado nominal é composto por um núcleo gramatical, e um núcleo lexical. O núcleo gramatical é constituído pelo verbo copulativo77, denominado, também, verbo de ligacäo78 ou verbo de cópula79 ou, simplesmente, cópula80.0 núcleo lexical contém a informacäo básica e é constituído ou por um nome ou por um adjectivo. Quando o núcleo lexical está no nome, falamos de predicacäo de base nominal.81 72 Kurv (2002: 42). 73 Idem, ibidem. 74 Idem, ibidem. 75 Idem, ibidem. 76 Idem, ibidem. 77 Kury (2002: 40), Gramätica do Portugues (2013: 1286). 78 Idem, ibidem. 79 Idem, ibidem. 80 Idem, ibidem. 81 Gramätica do Portugues (2013: 1286). 30 4. PERÍODO SIMPLES No segundo caso, quando o núcleo lexical está no adjectivo, a predicacäo é de base adjectival82, como ilustram, respectivamente, as duas frases seguintes: Ele é professor. x O Joäo é simpático. em que os dois núcleos, professor e simpático, funcionam, na oracäo, como predi-cativos do sujeito. As frases que contém este tipo de predicacäo, säo denominadas frases copula-tivas ou frases predicativas.83 O predicado nominal composto por um verbo de ligacäo e um constituinte predicativo é chamado, de acordo com a terminológia moderna, de dupla predicacäo84 , sendo que além do adjectivo ou da expressäo nominal em posicäo pós verbal, predica-se toda a oracäo. Nas seguintes frases: O miúdo está contente. O miúdo éfilho do Pedro. contente efilho do Pedro, na tradicäo luso-brasileira, säo chamados predicati-vos, e na sintaxe generativa säo predicadores secundários85 ou constituintes predicativos secundários86, sendo os verbos copulativos que nelas ocorrem, denominados predicadores sintacticamente primários87. Os predicadores secundários, ou constituintes predicativos, säo nestas construcöes obrigatórios, razäo pela qual säo denominados constituintes predicativos seleccionados.88 Os verbos de ligacäo podem exprimir o estado ou condicäo do sujeito e o tipo de relacäo temporal aspectual que existe entre o sujeito e o predicativo, ou seja, relacäo prosódica, estativa, permansiva, durativa e aparente. Assim, os predicadores primários podem ser constituídos pelos seguintes verbos: • o verbo prosódico /episódico89, i,e., o verbo ser, exprime um estado natural ou habitual, podendo ligar-se ou a um adjectivo (ou o seu equivalente), designando atribuicäo ou qualificacäo, ou a um substantivo (ou ao seu equivalente), indi- cando classificacäo: 82 Idem, ibidem. 83 Gramätica do Portugues (2013: 1297). 84 Gramätica da Lingua Portuguesa (2003: 278). 85 Idem, ibidem. 86 Idem, ibidem. 87 Idem, ibidem. 88 Idem, ibidem. 89 Gramätica do Portugues (2013: 1305). 31 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA A Alicia e umajoia. O Pedro e simpdtico.; • o verbo estativo90, i.e., o verbo estar, exprime um estado adquirido ou transitorio como se pode observar na seguinte frase: Estou constipadissimo. Tambem os verbos andar e viver podem ser utilizados figurativamente como verbos estativos, reforcando a ideia de estado adquirido por um tempo mais ou menos longo, tal como ocorre nas frases: „Ela anda cansada. „, „0 Jodo vive rodeado deproblemas. „; • os verbos permansivos91 exprimem uma mudanca de estado e podem ser representados pelos verbos ficar, acabar, fazer-se, meter-se, tornar-se e virar, como ilustram os seguintes exemplos: „Fiquei irritadissima"; „Acaboupobre", „0 tronco virou a canoa"; • os verbos cursivos ou durativos92 exprimem duracao de estado e entre eles contam-se os verbos continuar, permanecer: „Continuou interessado no pro-blema", „Permaneceu sentado a mesa." Mas tambem o verbo ficar pode expri-mir este sentido: „Eleficou silencioso"; • os verbos que exprimem aparencia93 de estado natural ou adquirido, sao os verbos parecer ou semelhar, como exemplificam as seguintes frases: „Aquilo parecia imovel.V" Tudo semelha tudo."/ „A terra perfumegante semelha a mul-her em vesper a de caricia". Predicafäo de base nominal Predicaeao de base adjectival SN SV SN SV 1 / \ 1 95 / \ (Pr94) V SN I (Pr95) V SAdj i N Adj Ele e medico. Ele e simpdtico. (sujeito) (predicado nominal) (sujeito) (predicado nominal) 90 Idem, ibidem. 91 Kury (2002: 40). 92 Idem, ibidem. 93 Kury (2002: 41). 94 Abrevia9äo de pronome. 95 Abrevia9äo de pronome. 32 4. PERIODO SIMPLES 4.1.2.4.2. Predicado verbal O predicado verbal96 ou predicacäo de base verbal97, tem como núcleo um verbo pleno, de significacäo precisa, que pode existir isolado ou numa locucäo verbal. Neste tipo de predicacäo verbal distinguimos verbos principals e verbos auxiliares. Os verbos principais säo portadores do significado lexical da predicacäo, enquanto que os verbos auxiliares servem para formar os tempos compostos, a diátese passiva e, também, para exprimir os valores aspectuais do verbo principal. De acordo com a sua estrutura argumental, como já foi referido, os verbos principais na funcäo do predicado verbal classificam-se em: verbos intransitivos e transitivos. 4.1.2.4.2.1. Verbos intransitivos Os verbos intransitivos säo verbos que podem conter em si toda a significacäo do predicado sem a necessidade de acrescentar qualquer complemento. Os verbos intransitivos simples podem seleccionar apenas um sujeito, como mostram as seguintes frases: „O Joäo caiu."/"Q Antonio adormeceu."/"Q vidro rachou"./"Q geh derreteu.'V'O cäo ladra."/"0 rouxinol trina." Estes verbos säo também denominados verbos de uso absoluto.98 Entre os verbos intransitivos contam-se:99 • verbos de fenómenos naturais ou acidentais: chover, ventar, nascer, morrer, acontecer, ocorrer, cair, surgir, acordar, dormir, brilhar, girar, etc.; • certos verbos de accäo que exprimem factos causados por um agente, capaz de os executar: ler, brincar, trabalhar, correr, voar, etc.; • verbos de movimento ou situacäo: chegar, parir, seguir, vir, morar, etc. F SN SV D Pr N V O meu sogro (sujeito) faleceu. (predicado) 96 Kury (2002:20). 97 Gramática do Portugués (2013: 357). 98 Gramática do Portugués (2013: 1207). 99 Kury (2002: 28-29). 33 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Alguns verbos que säo originalmente intransitivos, ocorrem, em certos contex-tos, com um complemento indirecto ou obliquo. Concomitantemente, podem ser classificados do seguinte modo: Verbos intransitivos com urn complemento indirecto100 co-ocorrem com urn complemento indirecto. Pertencem a eles verbos como: acudir, agradar, bastar, constar, faltar, obedecer, perdoar, sobreviver, como exemplificam os seguintes casos: Faltou-lhe o Interesse pelo trabalho. A enfermeira acudiu ao paciente. Sobrevivemos á catástrofe. Perdoei ao meu amigo. Verbos intransitivos com complemento obliquo101 säo verbos intransitivos que, ocorrem com complemento obliquo preposicionado, como por exemplo: assistir, chegar, depender, entrar, faltar (no sentido de estar ausente), morar, partir, recorrer, sair ou näo preposicionado, como custar, durar, medir e pesar, como ilustram os seguintes exemplos: A menina faltou as aulas. Isso depende do teu pai. Ele partiu para Roma. O concerto durou duas horas. A nova Gramática do Portugués custou 70 euros. Os verbos intransitivos näo tém todos uma estrutura argumental em que o sujeito é argumente independente (ou externo). Esses verbos, de acordo com o tipo de sujeito que seleccionam, dividem-se em verbo inergativos e inacusa-tivos.102 Entre os verbos inergativos contam-se os verbos como assobiar, bocejar, brin-car, buzinar, dancar, etc. (O menino brincou). Os verbos inacusativos (ergativos) säo, por exemplo: adormercer, desaparecer, desmaiar, morrer, nascer, o sujeito é um argumente interno, näo facultativamente seleccionado. Enquanto o sujeito dos verbos inergativos tem um argumente análogo ao do sujeito dos verbos tran-sitivos, o sujeito final dos verbos inacusativos partilha propriedades significativas com o complemento directo dos verbos transitivos: 100 Gramática do Portugués (2013:1197). 101 Idem, ibidem. 102 Gramática do Portugués (2013: 1199), Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 446). 34 4. PERIODO SIMPLES a) Enquanto o sujeito dos verbos inergativos näo admite construcöes com parti-cipio absoluto, o sujeito dos verbos inacusativos, tal como o complemento directo, admite-o: Assim as seguintes frases säo insubstituiveis pelo participio absoluto, como ilustram os seguintes casos:103 O Joäo trabalhou. O Joäo reviu o trabalho. I *Trabalhado o Joäo. *Revisto o Joäo.104 Em contrapartida, as duas seguintes frases säo inacusativas (ergativas), uma vez que admitem as versöes com o participio absoluto: O Joäo chegou. O Joäo reviu asprova.l Chegado o Joäo. Revistas asprovas.105 b) Enquanto as formas participais de verbos inergativos näo podem ocorrer nem em construcöes com verbos predicativos nem em construcöes atributi-vas, as formas participiais de verbos inacusativos, ä semelhanca das formas participiais de verbos transitivos, podem. Assim resultam agramaticais as construcöes:106 *o rapaz estä ridol *o rapaz rido, etc.107 Ao contrario, säo gramaticais construcöes como, p.ex.: o rapaz desmaiado, a janela fechada ou as frases: O rapaz estä desmaiado. A janela estä fechada.108 c) Enquanto os verbos inergativos podem ser a base das derivacöes deverbativas nominais terminadas em -or, os verbos inacusativos näo o podem ser {correr--corredor, trabalhar- trabalhador, construir construtor, informar- informadof). Por outro lado, as formas como *chegador (de chegar), *desmaiador (de desma-iaf), näo säo possiveis.109 103 Idem, ibidem. 104 Idem, ibidem. 105 Idem, ibidem. 106 Idem, ibidem. 107 Idem, ibidem. 108 Idem, ibidem. 109 Idem, ibidem. 35 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA 4.1.2.4.2.2. Verbos transitivos Os verbos transitivos110 säo os verbos que requerem o acréscimo de um complemento que integre o sentido do predicado. Classificam-se em: transitivos directus, indirectos, (bi)ditransitivos e transitivos adverbiais. Os verbos transitivos directos säo verbos que requerem (ou seja, seleccionam) um sujeito e um complemento com a funcäo sintáctica de complemento directo, o qual integraliza o sentido do predicado. O complemento directo pode ser um grupo nominal substituível pelo pronome clítico o(s) e a(s), por exemplo: O Ronaldo escreveu uma carta./ O Ronaldo escreveu-a. Os verbos transitivos directos habitualmente exprimem accäo e, por isso, tém um agente, que na voz activa é o sujeito da oracäo. O complemento directo exerce a funcäo de receptor de uma accäo praticada pelo agente da passiva. Na voz passiva, o complemento do verbo transitivo directo é o sujeito; já na voz activa esse complemento é o objecto directo. Voz activa voz passiva SN / \ DN SV V SN / \ D N O Ronaldo escreveu uma carta. (sujeito) (predicado) (OD) SN SV /\ / \ m D N V SP / \ P SN /\ D N A carta foi escrita pelo Ronaldo. (sujeito) (predicado) (agente da passiva) Assim, nas frases: O Ronaldo escreveu uma carta. A carta foi escrita pelo Ronaldo. o predicado é representado pelo verbo escrever na 3a pessoa do singular, no tempo pretérito perfeito simples e na voz activa, o sujeito explícito simples é o Ronaldo, e o complemento verbal é a carta. Depois da transicäo do verbo para 110 Kury (2002: 29-33). 111 Äs vezeš, o SN introduzido por uma preposicäo, é abreviado em SNp. 36 4. PERIODO SIMPLES a voz passiva, o Ronaldo, passa a exercer a funcáo de agente da passiva, e a carta, a funcáo de sujeito. Este é o sentido etimológico de transitividade. Os gramáticos latinos denomi-navam como „transitiva" qualquer oracáo que podia transformar-se, ou „transi-tar-se" para a voz activa, e, por extensáo de significado, transitivo era aquele verbo que funcionava como predicado entre o agente e o paciente. Os verbos transitivos indirectos112 sáo verbos que seleccionam um sujeito e um complemento indirecto/preposicional/adverbial, isto é, o grupo preposicional que pode ser substituído por um pronome pessoal na forma dativa: A Ana telefonou para a tia./A Ana telefonou-lhe. O complemento é regido obrigatoriamente pela preposicáo a (eventualmente para) sem o valor circunstancial, o que impede que os verbos transitivos indirectos sejam transitados para a voz passiva analítica. Assim, resultam agramaticais as seguintes transitividades: O Ronaldo telefonou á Maria. — ► *A Maria foi telefonada pelo Ronaldo. É de apontar que a preposicáo a/para pode introduzir seja um complemento indirecto seleccionado seja um adjunto adverbial. No primeiro caso, a preposicáo tem um valor gramatical (formal) sem valor significativo como mostra a segui-nte frase: Telefonei á Maria.; enquanto que, no segundo caso, a preposicáo tem um valor lexical circunstancial de localizacáo espacial (direccáo aonde/para onde): Viajarei para o Porto. Irei a Portugal. Os verbos transitivos directos e indirectos simultaneamente sáo deno-minados, também, como ditransitivos ou biobjectivos. Este tipo de verbos requerem (seleccionam) um sujeito, um complemento directo e um complemento indirecto/preposicional/adverbial. Na frase: Eu dei tudo aos meus amigos. 112 Kury (2002: 29-33). 37 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA o predicado e o verbo dar, aos meus amigos e complemento indirecto substituivel por Ihes, e tudo e complemento directo: __F SN 1 N / \ D N V SN 1 P SP / \ Prep. SN / 1 \ D Esp N Eu dei tudo aos meus amigos. (sujeito) (predicado) (objecto directo) (objecto indirecto) Os verbos transitivos com complemento obliquo säo verbos que alem do complemento directo seleccionam urn ou mais complementos obliquos. Per-tencem a estes verbos, por exemplo, os seguintes: acusar, afastar, colocar, confun-dir, impedir, ogrigar, proibir, etc.:113 A professora confundiu o Joäo com o Pedro. Os verbos transitivos adverbiais114 säo verbos de movimentos ou de situacäo como, por exemplo: chegar, partir, ir, seguir, vir, voltar, estar,ficar, morar, etc., que pedem urn complemento adverbial de lugar que lhes integra o sentido. Estes verbos, embora tradicionalmente classificados como intransitivos, devem ser consi-derados como transitivos, desde que se entenda por transtividade a necessidade de um complemento sem o qual o sentido do verbo, a ideia principal, resultaria incompletamente expressa. Estes verbos säo denominados tambem como "verbos adverbiados ou, "transitivos adverbiais". Segundo a tradicäo latina, con-tudo, näo säo classificados como transitivos. 4.1.2.4.2.3. Voz verbal/diätese Voz verbal, em linguistica, refere-se ä relacäo entre o sujeito e o verbo sob o aspecto de quem recebe e quem pratica uma acäo.115 Na maioria dos verbos transitivos da lingua portuguesa, o sujeito (na voz activa) e a entidade que exerce ou desencadeia 113 Idem, ibidem. 114 Idem, ibidem. 115 Abaurre, Maria Luiza; Pontara, Marcela Nogueira; Fadel, Tatiana. (2005: 216). 38 4. PERÍODO SIMPLES uma accáo, e o objeto directo é uma entidade que sofre passivamente algum efeito da accáo. Na tradicáo luso-brasileira, o termo voz é utilizado num sentido mais morfoló-gico-flexional, enquanto que o termo diátese envolve, também, os processos léxico-sintácticos. Recentemente, o conceito de diátese tem sido considerado como mais geral do que a voz.116 Há trés vozes verbais na língua portuguesa: a voz/diátese activa117, na qual a énfase recai na accáo verbal praticada pelo sujeito; a voz/diátese passiva118, cuja énfase é a accáo verbal sofrida pelo sujeito; e a voz/diátese reflexiva119, em que a acáo verbal é praticada e sofrida pelo sujeito. As oracóes que tém o verbo na voz activa, chamam-se oracóes activas120, enquanto que as que tém o verbo na voz passiva, chamam-se oracóes passivas121. Na voz/na diátese activa o sujeito exerce a funcáo de agente da accáo e o agente da passiva náo existe. Para completar o sentido do verbo na voz activa, este verbo conta com outro elemento - o objecto (directo). A voz activa contém um verbo finito sintético ou na perífrase (locucáo) verbal. A voz / diátese passiva é a forma ou flexáo em que se apresenta o verbo transitivo directo para indicar a relacáo que há entre ele e o sujeito. A voz passiva pode ser formada analítica ou sinteticamente e pode ocorrer em vários tipos de oracóes. Ás oracóes passivas formadas analiticamente pertencem: a oracáo passiva verbal122 que descreve tipicamente eventos e náo estados (ás vezeš é denominada como passiva eventiva), oracáo passiva resultativa123 que descrevem uma situa-cáo que é resultado de uma mudanca de estado, lugar ou posse, e oracáo passiva estativa124 que descreve situacóes estativas. As oracóes formadas sinteticamente sáo denominadas oracóes passivas pronominais125. 116 Gramática do Portugués I (2013:431-432). 117 Kury (2002: 33); Gramática do Portugués (2013: 435). 118 Kury (2002: 33); Gramática do Portugués (2013: 435). 119 Kury (2002: 38); Gramática do Portugués (2013: 448). 120 Gramática do Portugués (2013: 432). 121 Gramática do Portugués (2013: 448). 122 Gramática do Portugués (2013: 436). 123 Gramática do Portugués (2013: 440). 124 Gramática do Portugués (2013: 443). 125 Gramática do Portugués (2013: 444). 39 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA 4.1.2.4.2.4. Oracóes passivas verbais As oracóes passivas verbais sáo formadas através do recurso de um verbo auxi-liar (ser, estar, ficar, resultar, etc.j e costuma ocorrer nelas o agente da passiva, apesar de ser este um termo de presenca facultativa na oracáo: Cercaram a cidade. — ► A cidade está cercada., — ► A cidade está cercada pelos inimigos. As oracóes passivas em que ocorre o agente da passiva chamam-se passivas longas.126 As oracóes passivas que náo tém o agente da passiva, sáo denominadas passivas curtas.127 Oracäo passiva verbal longa Oracäo passiva verbal curia _ F F / N SN A D N SV / \ V SP /\ P SN A / SN SV V A corda (sujeito) D N foi roida pelo rato (predicado) (agente da passiva) O jantar (sujeito) está servi do. (predicado) O sujeito nas oracóes passivas pode ocorrer em posicáo pré-verbal ou pós-ver-bal. Quando é realizado na posicáo canónica128 pré-verbal, a oracáo chama-se passiva pessoaP29, como ocorre na seguinte frase cuja contrapartida activa tem um sujeito implícito: Os livros já foram enviados aojúri./ Enviaram os livros aojúri. Quando ocorre em posicáo pós-verbal, em especial se for uma expressáo inde- 126 Gramatica do Portugues (2013: 439). 127 Idem, ibidem. 128 A posicao canonica significa posicao que e tipica ou habitual. 129 Idem, ibidem. 40 4. PERÍODO SIMPLES finida, as oracöes säo chamadas passivas impessoais130, como se vé na seguinte frase, cuja contrapartida activa tem um sujeito indeterminado: Foi dita muita coisa I Disseram muita coisa. (sujeito - agente, aspessoas). Há oracöes passivas que descrevem uma situacäo que é o resultado de uma mudanca de estado, lugar ou posse. Estas oracöes säo denominadas por alguns linguistas como passivas resultativas131 e neste tipo de oracöes ocorre tipica-mente o verboficar, como mostram os seguintes exemplos: A vítima do assalto ficou ferida em consequéncia do tiroteio. Este tipo de oracöes näo ocorrem com o verbo auxiliar estar nem com o agente da passiva.132 Nas oracöes passivas resultativas podem ocorrer, igualmente, formas de parti-cipios irreguläres que foram recategorizadas na história da lingua portuguesa como adjectivos. Estes adjectivos podem co-existir com o particípio. Na terminológia clássica säo denominadas oracöes passivas adjectivais.133 As oracöes passivas resultativas adjectivais, contudo, näo ocorrem com o agente: O caldo ficou perfumado e saboroso. *0 caldo ficou perfumado e saboroso pelo cozinheiro. As oracöes passivas resultativas podem ser construídas, também, com o verbo estar: O jantar já está servido. 10 problema já está resolvido. Existem também as chamadas oracöes passivas estativas134 que descrevem situacöes estativas, mas cujo significado näo contém qualquer componente even-tiva relacionada com a mudanca de estado. Nas oracöes passivas estativas o verbo auxiliar pode ser o predicado estável ser quando denota propriedades estáveis dos indivíduos, ou o o predicado episódico estar, que denota propriedades tran-sitórias dos indivíduos, como se pode observar no exemplo: 130 Gramática do Portugués (2013: 443). 131 Idem, ibidem. 132 Gramática do Portugués (2013: 430-450) 133 Gramática do Portugués (2013: 442). 134 Gramática do Portugués (2013: 443). 41 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Este autor émuito conhecido./ O jornalista está irritado. O agente da passiva nas oracôes passivas, quando ocorre, é mais comumente introduzido pela preposicäo por (e suas variantes: pelo, pela, pelos, pelas). É possí-vel, no entanto, encontrar construccóes em que o agente da passiva é introduzido pelas preposicóes de ou a. Nas seguintes frases, o agente da passiva está sublinhado: O hino será executado pela orquestra sinfónica. O jantar foi regado a champanhe. A sala está cheia de gente. Nem todos os verbos transitivos directos, entretanto, podem construir-se na voz passiva analítica. Alguns, porque já possuem um sentido passivo (como, por exemplo, aguentar, sofrer, etc), outros pelo uso da lingua que näo obedece a normas fixas (ter, conter, querer, poder, crer, etc). 4.1.2.4.2.5. Oracôes passivas pronominais As oracôes passivas pronominais pertencem ao tipo de oracôes com diátese passiva formada através do pronome átono da 3a pessoa se, sem qualquer verbo auxiliar ou morfológia verbal especial no verbo pleno. Nestas oracôes o verbo ocorre sempře na 3a pessoa e concorda em numero com o sujeito. Nestas frases näo ocorre nunca o agente da passiva, como exemplifica o seguinte caso:135 Veriňcou-se uma maiorfrequéncia de uso do género masculino da palavra com-ponente. As oracôes passivas pronominais partilham, com as passivas verbais curtas a propriedade de térem um agente indeterminado. Ao mesmo tempo, muito fre-quentemente, o sujeito destas oracôes é pós-verbal, como ilustra o seguinte caso: Já se publicaram novos manuals segundo o Novo Acordo. Estas oracôes podem, contrariamente äs oracôes passivas verbais e resultativas, ocorrer em frases imperativas, por exemplo: Veja-se os seguintes exemplos. Apresentem-se testemunhas. 135 Gramática do Portugués (2013: 444). 42 4. PERIODO SIMPLES Observem-se as seguintes frases. F SV SN V /1 \ D SAdj N Veja-se Adj o seguinte exemplo. As oracóes passivas pronominais sáo construcóes aproximáveis de oracóes impessoais, mas diferem deles por poderem ser parafraseadas pelas frases com o sujeito genérico: Diz-se que váo aumentar impostos. /As pessoas dizem que váo aumentar os impostos. 4.1.2.4.2.6. Oracóes passivas reflexas A voz/ a diátese reflexa, também denominada como voz reflexiva propriamente dita136, ocorre em construcóes em que o predicado é representado por um verbo transitivo e cujo sujeito e complemento directo representa a mesma entidade extralinguística, ou seja, sáo co-referentes. Na frase: O Joáo penteou-se. o Joáo é, ao mesmo tempo, o agente e o paciente da accáo. O marcador de refle-xividade, usado em portugués, é o pronome pessoal do paradigma dos pronomes reflexos (me, te, se nos, vos, se) que concorda em pessoa e em numero, com o sujeito. Eu vi-me no espelho. Contrariamente as oracóes transitivas activas, as oracóes com diátese reflexa náo admitem alternativas passivas: Assim, resultará agramatical a seguinte frase: *0 Joáo foi penteado por si mesmo. 136 Kury (2002: 38); Gramática do Portugués (2013: 442). 43 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Aceitam a diatese reflexa verbos transitivos directos que denotam accöes sobre o corpo, como, arranjar, banhar, barbear,calcar, depilar, lavar, maquilhar, pentear, pintar e verstir Trata-se de verbos transitivos directos que admitem urn complement© directo com urn referente distinto do do sujeito: p.ex.: Eupenteei o Toäo. F SN SV A D N V O Joäo penteou-se. (sujeito) (predicado) Tambem os verbos que denotam mudanca de postura do corpo como curvar, deitar, erguer, estender, esticar, sentar, voltar, etc. podem ocorrer com o marcador de reflexividade, näo obstante, näo podem ocorrer com o objecto pleonastico constituido pelo pronome tönico reflexo seguido de uma das formas adjectivais anaforizantes: proprio ou mesmo. Assim, resultaria agramatical a frase: *A Joana deitou-se a si mesma/a si propria. A.s criancas sentaram-se a si mesmas/a sipröprias. Estas oracöes näo säo consideradas oracöes reflexas, mas sim pseudo-reflexas.137 Na tradicäo luso-brasileira säo denominadas oracöes com voz medial dinämica.138 O ultimo caso de reflexividade ocorre nos verbos que nunca se conjugam sem o pronome reflexivo: queixar-se, arrepender-se, orgulhar-se, atrever-se, lembrar-se, etc. De acordo com a nomenclatura luso-brasileira, este caso e denominado voz medial pronominal.139 4.1.2.4.3. Predicado verbo-nominal O predicado verbo-nominal e constituido por um tipo de verbo transitivo nominal, possuindo dois nücleos significativos: urn verbo e urn constituinte pre-dicativo cuja omissäo, contudo, nem sempre afecta a gramaticalidade nem a coe-rencia semäntica, como exemplifica o seguinte caso: 137 Gramätica do Portugues (2013: 449). 138 Kury (2002:39). 139 Idem, ibidem. 44 4. PERIODO SIMPLES A Maria viajoupara Paris irritadíssima com osfilhos. A Maria viajou para Paris (-) (-) (-). Por outro lado, há verbos que necessitam ter um consituinte predicativo, como considerar, achar, entre muitos outros. A Maria considera o Joáo inteligente. Eu achei o livro interessante. Os constituintes predicativos sáo denominados como constituintes predicati-vos adjuntos.140 Do ponto de vista de transitividade, é possível considerar, de acordo com as concepcóes modernas, os predicadores na funcáo do predicado verbo-nomi-nal como verbos transitivos predicativos sendo que, para alem do comple-mento directo, seleccionam um constituinte de natureza predicativa (achar, considerar, entre outros): p.ex: Achei o festival giro. Os alunos saíram da aula alegres. Nestas construcóes existem dois domínios de predicacáo, em que a primeira predicacáo existe entre o sujeito e o predicador sintáctica e semanticamente pri-mário (verbo pleno sair/achar) e a segunda entre o predicador fictício (náo expre-sso) que selecciona como seu complemento o constituinte predicativo adjunto alegre/giro. Assim, as frases citadas poderiam ser desdobradas em duas, cada uma das quais tem a sua própria predicacáo, sendo as frases sublinhadas consi-deradas como oracóes pequenas141: Os alunos saíram da aula alegres. = Os alunos saíram da aula. + Estavam alegres. Achei o festival giro. = Fui o festival. + O festival foi giro. O predicado verbo-nominal, concomitamente, apresenta dois núcleos: um verbo (saíram/achei), que indica uma accáo praticada pelo sujeito, e um predicativo do sujeito (alegres/giro), que indica o estado do sujeito ou do objecto no momento em que se desenvolve o processo verbal. Quanto á estrutura, o predicado verbo-nominal pode ser formado de trés for-mas diferentes: 140 Gramática da Língua Portuguesa (2003: 277-281). 141 Idem, ibidem. 45 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA 1. sujeito + verbo intransitivo + predicativo do sujeito F SN SV A / \ D N V Sadj O Joäo partiu contente. 2. sujeito + verbo transitivo + objecto directo + predicativo do objeto F SN SV A 1 ^ D N V SN Sadj A 1 D N Adj A mäe deixou ofilho doente. 3. sujeito + verbo transitivo + predicativo do sujeito + objecto directo SN A D N V SV Sadj Adj SN A D N Os alunos cantaram emocionados aquela cangoo 46 4. PERIODO SIMPLES O predicativo do objecto, normalmente, refere-se ao objecto directo. Existe, também, predicativo do objecto indirecto, mas este só se restringe a um único caso: ao verbo chamar, precedido de preposicáo. Por exemplo: Todos o chamam de irresponsável. (o =objecto directo; irresponsável=predicativo do objecto directo) Chamou-lhe ingrato. (lhe=objecto indirecto, ingrato = predicativo do objecto indirecto) 4.1.2.5. Selecqao dos argumentos Dentro do sintagma verbal, o verbo combina-se com os termos integrantes, os quais integram, ou completam o sentido e sem os quais o predicador náo poderia formar uma frase semanticamente coerente e completa. Assim, por exemplo, na frase: p.ex.: "Eu vou lavar os dentes", o verbo lavar, na funcáo do predicado, combina-se com o argumente externo representado por eu e com um argumente interno os dentes sem o qual o verbo lavar náo formaria nenhuma frase. A rela-cáo semántica estreita que existe entre um predicador e os seus argumentos chama-se seleccäo.142 Assim diz-se que um predicador selecciona os seus argumentos.143 Aos termos intergrantes, i.e. seleccionados pertencem os seguintes: comple-mento directo, indirecto e complementos oblíquos, complemento adverbial e agente da passiva. O nome deverbativo pode também seleccionar os seus complementos. Neste caso falamos dos complementos nominais. O numero de argumentos seleccionados por um predicador chama-se enari-dade144 do predicador ou Valencia. Nas línguas humanas, a maioria dos predica-dores seleccionam de 1 a 3 complementos verbais. De acordo com o numero de argumentos que o predicador selecciona, dividimos os predicadores em: predica-dores de zero lugares145, de um lugar146 (predicadores unários), de dois lugares (predicadores binários), de trés lugares147 (predicadores ternários) e de quatro lugares148 (predicadores quaternários). Entre os predicadores de zero lugares contam-se todos os verbos que denotam fenómenos de natureza que tém a ver com o tempo ou com as partes do dia: ama- 142 Gramática do Portugués (2013:361). 143 Idem, ibidem. 144 Gramática do Portugués (2013:362). 145 Idem, ibidem. 146 Gramática do Portugués (2013:363). 147 Idem, ibidem. 148 Idem, ibidem. A7 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA nhecer, anoitecer, chover, escurecer, nevar, relampejar, trovejar, etc. Estes predica-dores säo auto-suficientes, porque podem, só por si, constituir uma oracäo. Näo admitem nem sujeito nem nenhum complemento verbal, salvo alguns casos, em que podem ocorrer num sentido figurativo (como, por exemplo: Chovem mil palavras...) Entre os predicadores de um lugar (predicadores unários) contam-se verbos que admitem sujeito, mas näo seleccionam argumentos integrantes: adormecer, dancar, desmaiar, espirrar, explodir, ladrar, morrer, nascer. Relembre-se que tam-bém nomes e adjectivos podem fazer parte do predicado nominal (predicacäo secundaria). Assim sendo, adjectivos como triste, grande, esperto e nomes de pro-fissäo como médico epedreiro, pertencem também a este grupo: p.ex.: "O menino nasceu."/"Sou professora." /"Ele é simpático." Os predicadores que seleccionam dois argumentos, chamados predicadores de dois lugares (predicadores binários), incluem a grande maioria dos verbos: amar, assustar, coser, detestar, lerpensar, temer, visitar, votar, p.ex: "Nós concorda-mos com este proiecto."/ "Euli o iornal". Também nomes como amigo, irmäo, pai, ou adjectivos como contente, fiel, interessado pertencem aos predicadores relacionais seleccionando um argumente: contente com o trabalho, interessado no trabalho, fiel ao Antonio, amigo do Joäo. Os predicadores de trés lugares (predicadores ternários) incluem os verbos ditransitivos. Entre estes predicadores contam-se verbos como dar, entregar, pór, entre muitos outros, por exemplo: "A Toana deu um livro á Maria."/ "O Pedro colocou o livro na pasta."/ "(Nós) entregámos os trabalhos á professora." Os predicadores de enaridade maior que trés säo apenas predicadores de qua-tro lugares (predicadores quaternários). A este grupo de verbos pertencem os verbos que denotam movimento como, por exemplo, atirar, levar, passar, transferu, trazer,o\x transaccöes como, por exemplo, comprar, trocar, pagar, vender, p.ex.: "O Pedrinho trouxe a bola do iardim para a rua"l "A Isabel comprou um livro ao Luis por vinte escudos." 4.2.TERMOS INTEGRANTES 4.2.1. Complemento directo Chama-se complemento directo ao constituinte da oracäo que integra o sentido de um verbo transitivo directo, exprimindo o ser para o qual se dirige a accäo. Os 48 4. PERIODO SIMPLES verbos que seleccionam um argumento com a funcäo de complemento directo säo verbos transitivos e as frases que contem um complemento directo säo deno-minadas frases (oracöes) transitivas. O complemento directo näo e introduzido tipicamente por uma preposicäo e pode exprimir-se por meio de: • um sintagma nominal: "Comi um bolo. ", • uma oracäo subordinada finita: Digo que näo posso ir ao cinema"; • uma oracäo infinitiva: Diz estarem esgotados os bilhetes"; • pronome pessoal obliquo atono: (me, te, nos, vos, os, as, o, a), o qual pode sub-stituir, ao mesmo tempo, o sintagma nominal na funcäo do objecto directo. "Comi-o."/"DigOzQ."/"Di-lo"; • pelo pronome interrogativo o que, que, quem, eventualmente, a quem, tendo a preposicäo um valor estilistico expressivo: "O que compraste"/"Quem encon-traste ontem?". Assim as respostas na forma nominal funcionam como objectos directus: "Comprei um livro.;"Encontrei ojoäo." SN SV /\ /\ D N V SN A D N A Maria cantou uma canqäo (sujeito) (predicado) (complemento directo) O complemento directo de uma oracäo transitiva corresponde tipicamente ao sujeito de uma fräse na voz passiva: O Zeca Afonso compös a cancäo Grändola Vila Mořena [objecto directo]. A cancäo Grändola Vila Mořena [sujeito] foi composta pelo Zeca Afonso. Apenas os verbos cujo sujeito é o agente (O Zeca Afonso) e o objecto um paciente ou terna (cancäo) admitem a transicäo para as versöes passivas. Caso o sujeito seja um possuidor, esta transicäo resulta impossível (Temos um filme novo. * O filme é tido por nós). 49 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Existem verbos que, formalmente, poderiam ser interpretados como transiti-vos e o seu argumento como o complemento directo. Trata-se dos verbos custar, durar, medir, pesar:149 A reuniäo durou duas horns. O Joäozinho mede já um metro. Afilha do Zéjá pesa 6 quilos. Estas frases, contudo, näo manifestam as mesmas características típicas de um complemento directo, ou seja näo säo substituíveis pelos clíticos acusativos, nem podem ocorrer com o sujeito de uma frase passiva, nem respodem a uma per-gunta iniciada pela locucäo interrogativa o que. Estas expressöes säo chamadas complementos oblíquos näo preposicionados.150 Os verbos medir e pesar, no entanto, podem ser passivizados, podem seleccio-nar um objecto directo na forma do pronome clítico acusativo: e também podem conter respostas äs perguntas: A avó mediu a crianca em casa. IA criancafoi medidapela avó. IA avó mediu-a, O carniceiro pesou as costeletas.l As costeletas foram pesadas pelo carniceiro/ O carniceiro pesou-as.151; A quem mediu a avó. O que pesou o carniceiro? A posicäo típica (canónica) do objecto directo na oracäo é imediatamente ä direita do verbo, antecedendo os restantes complementos: O Pedro colocou o livro na mesa. Esta ordern canónica do complemento directo ocorre tipicamente em contextos informativos neutros. No entanto, o complemento directo pode também sofrer alteracöes: por exemplo, surge ä direita do complemento indirecto se este for urn pronome clítico ligado ao verbo ou também na forma complexa con-traida dos dois complementos, o clítico acusativo surge depois do dativo, p.ex.: "Dei-lhe o dinheiro."/"Dei-lho." O complemento directo surge ä direita do indirecto também no caso em que se exprime por urn sintagma nominal mais longo do que os outros complementos ou adjuntos da frase: Disse-lhe que näo estou em casa. 149 Gramática do Portugués (2013: 368). 150 Idem, ibidem. 151 Idem, ibidem. 50 4. PERIODO SIMPLES Leveipara casa o iogo do Monopólio que a Ana me ofereceu. Como já foi referido no início děste capítulo, o complemento directo náo é introduzido por uma preposicáo. No entanto, existem contextos especiais em que um complemento directo é introduzido pela preposicáo a. Nestes casos, o complemento directo é denominado complemento directo preposicionado152, tem sempře um traco humano e ocorre nos seguintes contextos: a) A preposicáo a ocorre obrigatoriamente com o complemento directo quando este é um pronome oblíquo tónico que acompanha um pronome clítico e tem um efeito estilístico enfático: Conheco-os a eles. As formas os e eles tém o mesmo referente. A frase neutra equivalente á sua contrapartida enfática é utilizada sem o pronome tónico enfático: Conheco-os^ Contudo, é impossível a substituicáo do pronome clítico pelo pronome tónico nestas frases. Assim, resultaria agramatical a frase *Conheco a eles- b) A preposicáo a ocorre facultativamente com o complemento directo quando este representa o tópico em posicáo iniciál da frase: Ao Vedro, nunca encontro na rua. Ao Pedro, nunca o encontro na rua. O Pedro, nunca o encontro na rua. O Pedro, nunca encontro na rua. O complemento directo precede o verbo, for-mando um grupo prosódico distinto. Como vemos, pode ser ou náo retomado por um pronome clítico.Quando é retomado, trata-se do objecto directo ple-nástico.153 c) A preposicáo ocorre com o complemento directo no caso dos verbos afectivos, como amar, louvar, temer: amar/louvar a Deus, amar ao próximo.154 F SN SV Pr V SNp P D Pr N Nós (sujeito) amamos aos nossos pais. (predicado) (complemento directo preposicionado) 152 Kury (2002: 45). 153 Idem, ibidem. 154 Idem, ibidem. 51 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Do ponto de vista semäntico, o complemento directo pode desempenhar vários papéis semänticos: paciente, experienciador, meta, estímulo.155 O papel semäntico de paciente apresenta dois tipos diferentes: paciente afec-tado156 (que representa uma entitade afectada de algum modo por uma accäo iniciada por um agente) e paciente resultante157 (que representa a entidade criada como resultado do evento descrito pelo predicado): A Teresa convidou os amigos para a festa. (paciente afectado) O Martim desenhou uma ovelha branca. (paciente resultante) O papel semäntico de experienciador158 ocorre com os verbos que exprimem estados psicológicos de natureza emocional (p.ex. aborrecer, alegrar, assustar, preocupar, supreendef). Neste casos, o complemento directo representa a entidade animada que se encontra nesse estado. A Ana assustou o filho. Essa notícia desgostou toda a gente. O papel semäntico de meta159 ocorre com verbos que denotam movimento (p.ex. abarrotar, atafulhar, atestar, carregar, encher). Nesse caso o complemento directo denota um lugar que é meta ou destino final de um movimento. O Zé carregou a carroca de lenha. (meta) Carla encheu a estante de livros. (meta) O papel semäntico de estímulo160 ocorre com verbos que significam percepcäo (p.ex.: escutar, ouvir, sentir, ver) ou com verbos de natureza estativa que denotam uma atitude afectiva causada por algo ou alguém externo ao experienciador (p.ex. adorar, odiar, temer, conhecef). Odeio o egoísmo. (estímulo) Conheci ojoäo na festa. (estímulo) 155 Gramática do Portugués (2003: 373). 156 Gramática do Portugués (2003: 1165). 157 Gramática do Portugués (2003: 1166). 158 Idem. 159 Idem. 160 Idem. 52 4. PERIODO SIMPLES 4.2.2. Complemento indirecto O complemento indirecto caracteriza-se por ser unido com o verbo por meio de uma preposicäo formando, portanto, um sintagma preposicional cujo nücleo e a preposicäo a/para.161 Escrevi ä Ana./Ofereci uma prenda ao Pedro. No caso de o complemento directo ser um pronome, este realiza-se atraves das formas obliquas cliticas dativas me, te,lhe, nos, vos Ihes. Esta tambem pode subs-tituir o complemento indirecto com o nücleo nominal. Assim, as frases acima mencionadas poderiam ser substituidas por: Escrevi-lhe. (ä Ana)./ Ofereci-lhe (ao Pedro) uma prenda. Caso esta substituicäo näo seja possivel, o sintagma preposicional näo pode ser interpretado como complemento indirecto mas sim como adverbio locativo (adjunto adverbial de direccäo), como se ve na seguinte frase: Cheguei ä reuniäo. l*Cheguei=lhe.- O complemento indirecto responde tipicamente a perguntas iniciadas pelo sintagma preposicional a quern: A quem e que escreveste? Escrevi ä Ana. F SN SV / \ Pr / \ V SNp /l\ P D N Eu escrevi ä Ana. (sujeito) (predicado) (complemento indirecto) Quanto ä posicäo do complemento indirecto na frase, este ocorre tipicamente ä direita do complemento directo, como ilustra o seguinte caso: Enviou o dinheiro ao Pedro. 161 Gramätica da Lingua Portuguesa (2003: 289). 53 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA No entanto, o complemento indirecto na forma clitica segue imediatamente o verbo e precede o complemento directo. Veja-se a seguinte frase: Cantou-lhe uma cancäo. Também, caso o complemento directo seja representado por uma oracäo subor-dinada ou por um sintagma nominal longo ou estruturalmente complexo, o complemento indirecto ocorre imediatamente a seguir o verbo A Fátima disse-lhe que vai chegar atrasada ao jantar. O Pedro ofereceu-me o livro que tinha escrito sobre o Teatro Revista. Há dois casos em que o complemento indirecto pode ser de carácter adverbial. Säo os chamados dativos de posse162 e dativos éticos163. Trata-se de complemen-tos indirectos introduzidos pela preposicäo a e pelo pronome clítico. O dativo de posse ocorre na construcäo em que o complemento indirecto se manifesta na forma de um pronome dativo. O dativo de posse representa uma entidade que é afectada, de um modo subjectivo, pelo evento realizado, como ilustra o seguinte caso: A mäe conhece-nos as manias, (no sentido de as nossas manias).164 O dativo ético é sempře um pronome dativo que remete para uma entidade, embora näo corresponda a um participante da accäo descrita pela frase. É de aguma maneira afectada por ele. Esta construcäo usa-se em frases exortativas ou exclamativas, facto pelo que as formas mais comuns em que o dativo ético apa-rece, säo a la e a 2a pessoa, como mostram os seguintes exemplos: Näo me toques no Jose!165 Abre-me este diccionáriol O meufilho adoece-me sempře que comecam as aulas em Setembro. Do ponto de vista semäntico, o objecto indirecto representa uma entidade humana que pode desempenhar vários papéis: pode ser origem (fonte), destina-tário e beneficiário.166 162 Kury (2002:48); Gramática do Portugués (2013:1180). 163 Kury (2002:48); Gramática do Portugués (2013:1181). 164 Gramática do Portugués (2013:1180). 165 Kury (2002: 48). 166 Gramática do Portugués (2013: 1169-1170). 54 4. PERIODO SIMPLES O papel temático de destinatário167 ocorre com os verbos transitivos indirectos que denotam geralmente um indivíduo a quem se destina a entidade transferida. Estes verbos sáo denominados verbos de transferéncia e entre eles contam-se: dar, comprar, entregar, oferecer, vender, dizer, explicar, falar, sorrir, etc.: Sorriu á Ana. Deu uma prenda á Fátima. O papel temático de origem168 (fonte) ocorre, por exemplo, com os verbos comprar, roubar, tirar:169 Comprei a saia á Ana. (destinatário/ou origem)170 O papel temático de beneficiário171 ocorre com verbos que tém alguma coisa a ganhar ou a perder com a transferéncia: Dei-lhe um cheque. (destinatário ou beneficiário) Habitualmente, o complemento indirecto no papel temático de beneficiário, é introduzido pela preposicáo para: Comprou um carro ao/para o filho. (destinatário ou beneficiário) Caso o beneficiário e a origem co-ocorrerem numa frase, o papel temático de origem é introduzido pela preposicáo a e o beneficário pela preposicáo para:172 Comprou um carro ao vizinholorigem] para o filho. \destinatário/beneficiário]. Outros verbos que seleccionam o complemento indirecto sáo os verbos directives (p.ex. ordenar, pedir, propor, rogar, sugerir, suplicar) entre outros, que denotam ordens, pedidos, recomendacóes, conselhos dirigidos pelo(s) agente(s) a um indivíduo ou a um grupo de indivíduos:173 Proponho-tefazeres um orcamento aceitável./Sugeri á Ana que fosse ao médico. Também pertencem ao grupo dos verbos que se podem ligar com o comple- 167 Idem. 168 Idem. 169 Idem. 170 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 289). 171 Idem. 172 Gramática do Portugués (2013: 1177). 173 Gramática do Portugués (2013: 1174). 55 SINTAXE DA LÍNGUA PORTUGUESA mento indirecto verbos intransitivos existenciais (p.ex. bastar, chegar, faltar, sobrar, constar, ocorrer, parecer), verbos psicológicos (p.ex. agradar, apetecer, aprazer, convir, custar, desagradar, doer, importar, interessar, repugnaf) e o verbo de posse (pertencer): Sobrou-me algum dinheiro. Falta-lhe o interesse pelo trabalho. Chegam-me 20 euros para a viagem. Náo meparece que esteja preocupado. Outro grupo dos verbos intransitivos que seleccionam um complemento indirecto sáo os verbos desobedecer obedecer, resistir, sobreviver. Neste caso, o complemento indirecto pode representar uma entidade náo humana, contrariamente ao que foi discutido acima: Sobrevivemos á catástrore.J74 O Joáo náo conseguiu resistir á tentacáo. Obedeca-se as leis. 4.2.3. Complemento oblíquo O complemento oblíquo é aquele que náo é nem directo nem indirecto. Tipica-mente, sáo sintagmas preposicionais introduzidos por uma preposicáo, pelo que sáo chamados complementos preposicionados175 ou oblíquos.176 Quando o complemento oblíquo é um pronome, este pertence á série dos pronomes oblíquos: mim, ti, si, nós, vós, ela (s), ele(s) que seguem a preposicáo: F SN sv Pr V SNp /l\ P D N Nós (sujeito) pensamos no Joáo. (predicado) (complemento oblíquo) 174 Gramática do Portugués (2013: 1175). 175 Gramática do Portugués (2013: 369). 176 Gramática da Língua Portuguesa (2003: 294). 56 4. PERÍODO SIMPLES Aos complementos oblíquos pertencem também os complementos adver-biais177 que säo seleccionados pelos verbos transitivos adverbiais. Nestas constru-côes denotam localizacôes espaciais ou numa perspectiva estática (estar em,ficar em, ser em) ou numa perspectiva dinámica de lugar de origem, de destino ou de passagem (ir a, irpor, passarpor, etc.), como se vé nas seguintes frases: Es to u em Lisboa. O hotel Intercontinental é na praca principal. Vamos para o Porto. Passámos por Itália. (perspectiva estática) (perspectiva estática) (perspectiva estática) (perspectiva estática) O complemento oblíquo de verbos de medida como säo, por exemplo: custar, durar, medir e pesar, exprime o valor de entidades fisicas ou abstractas numa escala quantitativa e näo é introduzido por uma preposicäo. Näo podendo ser substituídos pelo pronome clítico oblíquo acusativo, näo podem ser interpreta-dos como complementos directos:178 O disco custou quinze euros. Ojogo defutebol durou urna hora e meia. A coluna mede dois metros. Essa bagagem pesa vinte quilos *0 disco custou-os. *0 jogo defutebol durou-os. *A coluna mede-os. *Essa bagagem pesa-os. 4.2.4. Agente da passiva Aos termos integrantes da oracáo pertence também o agente da passiva179 que ocorre nas oracóes passivas e que corresponde canonicamente a oracóes activas transitivas com um sujeito agente. O agente da passiva na oracáo passiva corresponde, na sua contrapartida activa, ao sujeito e forma um sintagma preposicio-nal cujo núcleo é tipicamente a preposicáo por, eventualmente também de: (objecto directo)___►_______(sujeito) t I A Toana pôs o livro sobre a mesa.- ► O livro foi posto sobre a mesa pela Toana. i________________________►______________________t (sujeito) (ag.da passiva) 177 Kury (2002: 50). 178 Veja-se a nota de rodapé 149. 179 Kury (2002: 50). 57 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Um caso peculiar registra-se nas oracöes passivas com verbos causativos, chama-dos também "factitivos", constituidos pelos verbos transitivos directos cujo com-plemento directo se constitui de um ser que age por forca do sujeito. Por outras palavras, o sujeito faz com que o objecto faca ou se torné alguma coisa. É o caso dos seguintes verbos: acalentar, afugentar, afundar, apascentar, amenizar, galvanizar, robotizar, deixar, fazer, mandar, tornar, codificar, mumificar, retificar, entre outros. Quando o sujeito agente näo é uma entidade humana, na oracäo passiva näo corre-sponde ä funcäo de agente da passiva mas, sim, ä de complemento oblíquo, habitu-almente introduzido pela preposicäo com, como mostram os seguintes exemplos: A tempestade destruiu a cidade. ► A cidadeficou destruída com a tempestade. O vento afundou o barco. ► O barcou afundou-se com o vento. 4.2.5. Complemento nominal e adjectival O ultimo caso do objecto oblíquo é o caso do complemento nominal180 e adjectival181. Ao lado dos verbos transitivos existem nomes que igualmente, em determi-nadas frases, podem ter um carácter transitivo, precisando de um complemento para que o seu sentido seja completo. Trata-se de nomes e adjectivos deverbativos derivados dos verbos transitivos directos ou indirectos. Assim a construcäo vender mercadorias,OM saber a verdade que contém um verbo transitivo directo e um complemento directo, poderia ser transposta para o sintagma nominal deverbativo transitivo: venda de mercadorias, ou, estar consciente do problema (ciente- etim. gerundio do verbo saber), onde o complemento de mercadorias, e do problema, uma vez que é seleccionado pelo nome ou adjectivo, seria classificado como nominal ou adjectival, respectivamente. Ao contrario do complemento directo dos verbos transitivos directos, o complemento nominal é sempře um sintagma preposici-onado. Assim, no exemplo a seguir, o complemento directo näo é introduzido por uma preposicäo, enquanto que a sua contrapartida nominal é preposicionada: visitamos a cidade. ► a nossa visita á cidade. 4.2.6. Constituintes adverbiais seleccionados Finalmente, existem consituintes oracionais que säo seleccionados e cuja omi-ssäo poderia tornar a frase agramatical. Trata-se de um pequeno grupo de ver- 180 Kury (2002: 51). 181 Gramática do Portugués (2013: 1365). 58 4. PERIODO SIMPLES bos, como cheirar, comportar-se, portar-se, sentir-se, os quais seleccionam um constituinte com valor semántico de modo, que pode ser estruturalmente um advérbio, um sintagma preposicional ou uma oracáo relativa de modo introdu-zida pelo advérbio relativo como ilustram os seguintes exemplos:182 Os meus filhos portaram-se bem na festa. A carne cheira mal. Eu sinto-me assim-assim. Estes constituintes sáo obrigatórios, contudo, náo sáo argumentos integrantes típicos da oracáo nem do verbo. Os constituintes da oracáo que náo sáo seleccionadas pelo verbo ou pelo nome e cuja omissáo náo causa a agramaticalidade da oracáo, sáo denominados constituintes adjuntos ou acessórios. Encontram-se, nesta funcäo, quatro termos: o adjunto adnominal e o adjunto adverbial, aposto e vocativo. 4.3.1. Adjuntos adverbiais Os constituintes com a funcäo de adjunto adverbial sáo expressöes que descrevem as circunstäncias das situacöes descritas, sobretudo circunstäncias temporais, espaciais e as relativas ao modo como foi praticada a accáo, ao instrumente usado, entre outros.183 A funcäo dos adjuntos adverbiais é exercida canonicamente por um advérbio, ou seja, por um sintagma adverbial, como mostra o seguinte diágrama: 4.3. TERMOS ACESSÓRIOS F SN SV DN V SAdv Os bombeiros chegaram (sujeito) (predicado) Adv depressa. (adjunto adverbial) 182 Gramática do Portugués (2013:1187). 183 Kury (2002: 54). 59 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Alem do sintagma adverbial, esta funcäo pode ser exercida, tambem, por um sintagma preposicional i^Nasceu em Tunho"), por urn sintagma nominal ("Os meninos väo ao cinema segunda-feira/esta semana/este mes"\ ou por uma oracäo subordinada adverbial: ("Sairam para a rua, quando estava a chover") Os adjuntos adverbiais näo säo obrigatörios nas frases, podendo ser livremente omitidos sem que seja afectada a sua boa formacäo semäntica (äs vezes abrevia-se em "adjuntos"). Concomitantemente, e necessario distinguir as expressöes adverbiais que säo seleccionadas pelos verbos das que näo o säo. No primeiro caso, quando a expressäo adverbial e necessaria para integrar o sentido dos predicado-res verbais, falamos dos complementos obliquos, cuja omissäo afectaria a boa formacäo semäntica da fräse, como a seguinte fräse mostra:184 A Maria pös o Hvro no banco do iardim. I *A Maria pös o livro. No entanto, numa outra frase, o mesmo constituinte descreve as circunstäncias locativas da situacäo representada. Neste caso, a expressäo adverbial funciona como adjunto adverbial, sendo possivel a sua omissäo sem que a frase seja agra-matical, como mostra o seguinte exemplo: A Maria adormeceu no banco do iardim.IA Maria adormeceu. Os adjuntos adverbiais que constituem sintagmas plenos ou oracöes ocorrem geralmente depois dos complementos selccionados: Entreguei o trabalho de casa ä professora depois de terminarem as aulas. Quando a funcäo do adjunto e exercida por urn adverbio, este pode ocorrer numa posicäo imediatamente a seguir ao verbo, antes dos complementos selec-cionados, como mostra a seguinte frase: Fui ontem ao teatro. Os alunospediram amavelmente ä professora autorizacäoparapoderem abrirajanela. Existe um pequeno grupo de adverbios como ja, nunca, quase, so, talvez e tambem que ocorrem entre o sujeito e o predicado, mas que prosodicamente säo inte-grados dentro do sintagma verbal: 184 Gramätica do Portugues (2013: 1184). 60 4. PERIODO SIMPLES O Pedro já leu o livro. Eu ainda estou na Faculdade. Eu só queria perguntar-lhe uma coisa. O Pedro nunca deixou defumar. Alem destes advérbios existem os que podem ser prosodicamente autónomos e que se separam na escrita, por vírgulas. As noites, essas, foram reservadas ao convívio e, consequentemente, á folia. Os adjuntos adverbiais formani uma classe muito diversificada, apresentando, entre outros, os seguintes valores semánticos.185 • instrumento: a óleo, com chave, com guache (p.ex: "Abriu a porta com chave."); • acréscimo: alem de+nome (p.ex: "Alem do Toáo, conheci também o Pedro."); • afirmacáo: com certeza, na minha opiniáo, com efeito, de facto, na verdade (p.ex: "Na verdade, os salários, hoje, sáo muito baixos."); • assunto: emlsobrel a respeito del acerca de, +nome (p.ex:"Vamos falar sobre/de gramática."); • avaliacáo: á primeira vista, em boa hora, por azar, por sortě, sem dúvida, sem sombra de dúvida, antes de mais, aofim e ao cabo, já agora, ora bem, acima de tudo, em particular (p.ex: "Antes de mais, desejaria agradecer-lhe a sua ajuda."); • causa: por+nome, de+ nome, gracas a+ nome, devido a+nome, em virtude de+-nome; (p.ex: "As criancas morreram á míngua."/"Fui ver a exposicáo por curio-sidade."); • comitativo ou de companhia: com+nome: com a namorada, com o Joáo, contigo (p.ex: "Fui jantar com o Joáo."); • compam$ao:como+nome;( p.ex: "Falafrancés como um francés."); • concessáo: ainda assim, apesar de, náo obstante, mesmo assim (p.ex:"Apesar da chůva, saíram."); • condicáo: sem/com + nome (p.ex:"Sem esforco náo há progresso."); • conformidade: segundo, de acordo com, em termos de, consoante, em conformi-dade com, conforme+nome (p.ex: "Segundo a opiniáo da professora, o Festival de Cultura dos Países da Expressáo Portuguesa em Brno foram os melhores de todos."); • dúvida: talvez, se calhar (p.ex: "Se calhar vamos sair."); • favor, interesse: por+nome, para+ nome (p.ex: "Fi-lo por ti."); • fim: para+nome, de+nome (p.ex: "Vive para a música."/"Tem motivos de quei-xa. ); 185 Kury (2002: 56). 61 SINTAXE DA LÍNGUA PORTUGUESA • grau ou quantidade: a potes, mais ou menos, um bocadinho, um bocado, um pouco, um poucochinho (p.ex: "Chove apotes"/"É mais ou menos a mesma coisa "l"Vou beber um poucochinho de leite."); • intensidade: pouco, muito, bastante, á farta (p.ex:"Bebe muito."/"Come pou-co."/"Comi á farta."); • iteracäo: äs vezeš, de quando em quando, de vez em quando, dia a dia, dia após dia, dias e dias afio, habitualmente, frequentemente (p.ex: "Trabalhava dias e dias afio."); • limite: até (p.ex: "Fomos a pé de Estoril até Carcavelos"); • lugar: localizacäo espacial: ao longe, de longe, logo ali, aqui, aí, acolá, em Lisboa (p.ex: "Ao longe ouvia-se um grande barulho."); • lugar: direccäo (p.ex: "Voltou para casa. "); • lugar: origem (p.ex: "Venho das aulas."); • luganpassagem (p.ex: "Passámos por Franca."); • matéria: de+nome (p.ex: O telhadofoi construído de zinco."); • meio: por+nome (p.ex: "Vamos passarpor Franca."); • modo: a custo, a torto e a direito, á alentejana, á inglesa, á pressa, á toa, á von-tade, ao acaso, ás cegas, á mercé de, ás escuras, assim ou assado, a dedo, a cavalo, de bomgrado, depé, de mansinho, depropósito, de má vontade, deponta aponta, de rompante, com unhas e dentes (p.ex: "Fé-lo de má vontade e á pressa."); • negacäo: de forma alguma, de maneira nenhuma, de modo algum (p.ex: "Näo quero incomodar de forma alguma."); • preco: sem escudos, a cem euros (p.ex: "Está a trés euros o quilo."); • substituicäo ou troca: em lugar de, em vez de (p.ex: "Em lugar do livro, leu ojor-nal."); • tempo: localizacäo temporal: á noite, á tarde, tarde, cedo, agora, ainda agora, antes que seja tarde (de mais), de entäo para cá, de momento, desdejá, em boa hora, mais logo, de noite, de tarde, este més, no més passado, (na) segunda-feira (p.ex: "Vamos falar mais logo."); • tempo: ordenacäo temporal: de novo, outra vez, de repente, consequentemente, a seguir, seguidamente (p.ex: "De repente, comecou a chorar") 4.3.2. Adjunto adnominal Em qualquer funcäo sintáctica que possa ter como núcleo um substantivo, este pode vir acompanhado de palavras ou locucôes de valor ou funcäo adjectiva que lhe delimitam o sentido geral. Essas palavras ou locucôes gravitam em torno do núcleo substantivo e exercem a funcäo de adjunto adnominal, o qual pode funcionar: 62 4. PERIODO SIMPLES • como modificador adjectival do nome modificando o nome (como adjectivos ou locucöes adjectivais formadas por um sintagma preposicional): bola vermelha, leite magro, valoracrescentado, olhos de gata, forca deleäo, aneldeouro); ou • como especificador adjectival sendo expressos por determinantes (artigos e pronomes demonstrativos e quantificadores) que, habilitam o sintagma nominal a representar entidades do discurso que possuem as propriedades denotati-vas expressas pelo nome: os livros, uma rapariga, esse banco; muito trabalho, pouco dinheiro, bastante energia, mais livros, qualquer pessoa, cada dia, que tempo, qual trabalho, cuiofilho, vinte euros, o primeiro dia). ^^^^ SN SV A DN V SP A P SN - -Sadj l\ / \ D N Esp. Adj. A corrida foi ganha pelo galgo mais veloz. (sujeito) (predicado) (agente da passiva) (adjunto adnominal) Os modificadores adjectivais expressam valores circusntancias da predicacäo nominal e podem ser livremente omitidos, ao contrario do complemento nominal obliquo. Quando representados por um adjectivo, ocorrem tanto ä esquerda do substantivo (bom dia) como ä sua direita (bola vermelha). Quando se encontra numa posicäo pös-nominal, o adjectivo restringe o significado do nome, ou seja, tern uma significacäo restritiva: de todas as bolas e a bola que corresponde com a propriedade adicional vermelha. Este significacäo do adjectivo posposto e denominada tambem leitura restritiva.186 Em contrapartida,com o adjectivo na funcäo pre-nominal, esta restricäo de significado näo sucede, pelo que esta leitura e chamada de leitura näo restritiva.187 Na expressäo: "Bom dia" näo e so o dia que e bom de que falamos. E de destacar que alguns adjectivos podem ocupar ambas as posicöes, mudando ou a sua leitura ou a expressividade. Por exemplo, o adjectivo falso, na leitura 186 Gramätica do Portugues (2013: 1433). 187 Gramätica do Portugues (2013: 1440). 63 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA restritiva (intensional) qualifica o valor de verdade da proposicäo veiculada pelo nome ou pela oracäo: informacäo falsa significa uma informacäo que näo possui o valor de verdade, como ilustram os seguintes casos:188 Isto efalso.= Isto näo e verdade. Por outro lado, na posicäo pre-nominal, o adjectivo falso veicula a ideia de que a entidade näo pertence ä classe denotada pelo nome, ou seja, nega a sua autentici-dade: falsas pestanas, falsa solucäo, falso Renoir, falos medico, falso culpado, etc.189 De um modo semelhante funciona o adjectivo verdadeiro, o qual, na posicäo pös-nominal, veicula um sentido de "autenticidade: amigo verdadeiro, urn Renoir verdadeiro. Na posicäo pre-nominal, a leitura de autenticidade, contudo, e a mesma, mas näo exatamente identica. Nesta posicäo, o falante usa os adjectivos para intensificar as propriedades que caracterizam o sentido do nome (urn verdadeiro/autentico dia de primavera). Outro exemplo que abona esta polivalencia adjectival e o adjectivo ünico. Na posicäo pös-nominal, (p.ex.: umapessoa ünica) o adjectivo exprime a ideia de que algumas propriedades se manifestam nesta pessoa de uma forma especial. Na posicäo pre-nominal, em contrapartida, o adjectivo tern uma dimensäo quan-tificacional, exprimindo que, no contexto relevante, näo ha quaisquer outras pes-soas que satisfacam o seu sentido: A ünica pessoa quepode ajudar neste momento, es tu. Existem ainda outros adjectivos, cuja significacäo se deriva da sua posicäo. Per-tencem, entre eles: serio, pobre, rico, bom, grande, antigo, caro, franco, leve, maior, menor, novo, proprio, etc.190 E necessario distinguir os adjectivos e locucöes adjectivais (modificadores adjectivais) da funcäo dos predicativos do sujeito e do objecto (chamada tambem predicacäo secundaria de base adjectival). Na funcäo predicativa, os adjectivos säo unidos com o sujeito atraves do verbo copulativo e näo podem ser omitidos da fräse sob pena de afectar a sua boa formacäo semäntica, como se ve na seguinte fräse: Ela e bonita. /*Ela e (-). 188 Gramätica do Portugues (2013: 1394). 189 Idem, ibidem. 190 Svobodovä (2014: 100). 64 4. PERIODO SIMPLES Neste caso falamos de adjectivos seleccionados, ao contrário dos adjuntos que náo sáo seleccionados, uma vez que náo sáo indispensáveis para a boa formacáo semántica da oracáo, como ilustra a seguinte frase: Conheci uma mulher bonita. I Conheci uma mulher (-). 4.3.3. Aposto Aposto e um constituinte que se junta a outro de valor substantivo ou pronominal para explica-lo ou especifica-lo melhor.191 Esta separado dos demais constitu-intes da oracäo por virgula, dois-pontos ou travessäo, como se ve, por exemplo, na seguinte frase: Ontem, segunda-feira, assistimos ao concerto de Mariza. segunda-feira e aposto do adjunto adverbial de tempo ontem. Dizemos que o aposto e sintaticamente equivalente ao elemento a que se relaciona porque pode-ria substitui-lo. Apös a eliminacäo de ontem, portanto, o substantivo segunda-feira assume a funcäo de adjunto adverbial de tempo, como exemplifica o seguinte caso: SN • > N SN N Ontem, segunda-feira, assistimos ao concerto da Mariza. (sujeito) (aposto) (predicado) (complemento obliquo) O aposto pode referir-se ainda a outras funcöes, por exemplo, ä de complemento obliquo, ä de complemento directo e ä de aposto, entre outros. O aposto que se refere ao objecto indirecto, complemento nominal ou adjunto adverbial pode aparecer precedido de preposicäo. Äs vezes, o aposto pode vir precedido de expressöes explicativas do tipo: a saber, isto e, por exemplo: 191 Kury (2002: 57). 65 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Estava deslumbrada com tudo: com a aprovacäo, com o ingresso na universi-dade, com as felicitacöes. (aposto precedido de preposicäo) Eu gosto de todos os tipos de música: samba, bossa-nova, rock, blues. (aposto de complemento obliquo) Fuifalar com o meupatrno, pai do Pedro, meu amigo da escola. (aposto do aposto) Alguns alunos, a saber Marcos, Rafael e Bianca näo entraram na sola de aula após o recreio. (aposto introduzido por a saber) De acordo com a relacäo que estabelece com o elemento a que se refere, o aposto pode ser classificado em:192 • aposto explicativo: "A Maria, filha do nosso medico defamilia, casou"; • aposto enumerativo: "Eu e tu, temos muitas temas em comum: amor trabalho, flccao."; • aposto resumidor ou recapitulativo: "Vida digna, cidadania plena, igualdade de oportunidades, tudo isso está na base de um pais melhor"; • aposto comparativo: "As estrelas, grandes olhos curiosos, fixaram-se por muito tempo na baia anoitecida"; • aposto distributivo:"Drummond e Guimaräes Rosa säo dois grandes escritores, aquele na poesia e este na prosa"; • aposto de oracäo: "Ela correu durante uma hora, sinal de preparo físico." Alem desses, há o aposto especificativo, que difere dos demais por näo ser marcado por sinais de pontuacäo (vírgula ou dois-pontos). O aposto especificativo individualiza um substantivo de sentido genérico, prendendo-se a ele directamente ou por meio de uma preposicäo, sem que hajá pausa na entonacäo da fräse: cidade de Roma, mar Mediterräneo. Destaque-se que näo se pode confundir o aposto de especificacäo com adjunto adnominal. Enquanto o adjunto adnominal é substituível pelo adjectivo, o aposto näo o é: A obra de Camöes/camoniana é símbolo da cultura portuguesa. O poeta Luis de Camöes/*camoniano morreu pobre. 4.3.4. Vocativo O vocativo é o termo da oracäo que usamos frequentemente na linguagem falada quotidianas para invocar ou interpelar o interocutor. O vocativo näo se relaciona sintacticamente com nenhum dos constituintes frásicos . Geralmente, direcci- 192 Idem. 66 4. PERIODO SIMPLES ona-se á segunda pessoa do discurso. O uso do vocativo apresenta, na frase, as seguintes características: • O vocativo sempře está entre vírgulas: - „Filha, vem cá á máe". • Muitas vezeš é acompanhado pela interjeicáo: Ó- „Ó minhafilha, isso náo se diz!" • Faz muitas vezeš parte da oracáo exclamativa.- „Buda, senta!"; " Buda e Pacha, juntos!" • Também serve para substituir, pragmaticamente, o nome original. "Diz-lá, meufofinho." „Pare com isso, malandro!" SN F SV N V Buda, (vocativo) senta! (predicado) 67 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA 5. PERÍODO COMPOSTO O periodo composto é constituído por mais de uma oracäo. As relacöes existentes entre elas säo de dois tipos: de coordenacäo ou de subordinacäo. No caso das frases compostas por coordenacäo, as unidades oracionais säo inde-pendentes e säo denominadas paratácticas. A relacäo entre as oracöes coordenadas denomina-se parataxe. Tém o mesmo estatuto estrutural e semántico no periodo, e encontram-se ao mesmo nível sintáctico como ilustra o seguinte exemplo: F+193 O Joäo cantou e o Francisco chorou. relacäo de coordenacäo Quando as oracöes säo compostas por subordinacäo, säo denominadas hipo-tácticas. A relacäo existente entre elas chama-se hipotaxe. As oracöes subordi-nadas dependem estrutural e semanticamente de outras unidades oracionais. As oracöes compostas por subordinacäo encontram-se a níveis sintácticos distintos, como mostra o seguinte diagrama: 193 F+ - símbolo de frase subordinante mais alta (no nosso caso de todo o periodo). 194 F- símbolo de frases que fazem parte de um periodo sejam independentes sejam subordinadas. 68 5. PERÍODO COMPOSTO F+ SN A D N V SV Conj 0 Pedro falou quando o interrogaram. 0 Pedro falaria se o interrgassem 0 Pedro falou porque o interrogaram. 0 Pedro falaria ainda que o interrogassem 0 Pedro falou como se o interrogassem 0 Pedro falou para que esclarecesse o assunto. (sujeito) (predicado) (adjunto adverbial circimstancial de tempo, de condicäo, de casa, de fim, de concessäo, de modo) A oracäo regente é chamada oracäo principal e dela depende semäntica e estruturalmente a unidade oracional regida, isto é, a oracäo subordinada, como ilustram os esquemas gráficos abaixo apresentados. Ao mesmo tempo, é posível que uma oracäo subordinada tenha outra depen-dente dela, em relacäo ä qual é principal. Quando num único periodo há relacöes paratácticas e hipotácticas ao mesmo tempo, o periodo é denominado periodo misto. As relacöes paratácticas e hipotácticas podem existir náo apenas entre a oracäo subordinante mais alta e a oracäo subordinada, como também entre as próprias oracöes subordinadas. Coordenacäo entre as subordinadas: F+ SN / \ D N SV. V Sadv S Adv Conj Fi- conj F2- O Pedro falou quando o interrogaram, embora näo quisesse. 69 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Subordinacäo entre as oracöes subordinadas: I + ^ SN SV /\ / ' \ D N V SN / \ Conj Fi- // ' Pr V ^^SN 1 V D N conj F2- O Pedro disse que (ele) vai comprar o livro que viu na Feira. As oracóes subordinadas podem ser finitas (desenvolvidas) e náo finitas (reduzidas). No primeiro caso, a oracáo contém um verbo conjugado, enquanto que no segundo caso, o verbo encontra-se na forma nominal (gerundiva, participial ou infinitiva). Observe os seguintes casos: • Oracäo finita: Enquanto o Pedro cantava, a Maria tocava piano. • Oracäo näo finita: Apesar de ele näo saberfalar línguas estrangeiras, consegue sempře comunicar com aspessoas no estrangeiro. 5.1. ORACÖES COORDENADAS As relacöes paratácticas, podem existir tanto entre os sintagmas de uma frase, como entre as unidades oracionais. Estas säo caracterizadas por um maior grau de independéncia, comparativamente äs oracöes subordinadas, no sentido em que podem ser usadas como frases independentes, sem qualquer tipo de relacäo sintáctica com a outra como exemplifica o seguinte caso: A temperatura baixou e o céu está carregado de nuvens. A temperatura baixou. O céu está carregado de nuvens. Apesar de estas frases evidenciarem um alto grau de independéncia, no que ä mobi- 70 5. PERÍODO COMPOSTO lidade dentro do periodo diz respeito, nem sempře podem ser deslocadas dentro do periodo. Děste ponto de vista, classificam-se em simétricas e assimétricas.195 Quando a mobilidade das oracóes coordenadas dentro de um periodo é possí-vel, diz-se que os termos coordenados sáo simétricos. O Joáo comprou livros e dicionários. O Joáo comprou dicionários e livros. O Toáo e a Maria foram jogar tenis. A Maria e o Toáo foram jogar tenis. Quando a inversáo da ordem das frases coordenadas é impossível, trata-se de coordenacáo assimétrica, i.e., a organizacáo sintáctica das frases coordenadas vé-se restringida por factores pragmáticos ou lógico semánticos. A coordenacáo assimétrica ocorre também quando as proposicóes das unida-des oracionais sáo relacionadas cronologicamente. A sua inversáo resultaria iló-gica, como manifestam os seguintes exemplos: Eles saíram as oito horas e foram jantar ao restaurante. *Foram jantar ao restaurante e eles saíram as oito horas. As conjuncóes que conectam os termos coordenados, sáo denominadas con-juncóes coordenativas196 (e, mas, nem...). Existem ainda os chamados conecto-res coordinativos197 (porém, todavia, contudo...), os quais sáo caracterizados por uma maior liberdade no que á mobilidade dentro do periodo diz respeito. A relacáo paratáctica pode envolver dois ou mais termos; no primeiro caso, a coordenacáo é binária198, no segundo caso, múltipla.199 Quando as unidades coordenadas sáo conectadas por uma conjuncáo ou por um conector, falamos de coordenacáo sindética.200 Quando os termos coordenados ocorrem justapostos, sem a conjuncáo ou sem o conector, falamos de coordenacáo assindética.201 O seu uso é, porém, limitado pelos factores pragmático-estilísticos. No caso da coordenacáo correlativa, todos os termos sáo introduzidos por uma das partes da conjuncáo ou da locucáo 195 Gramätica do Portugues (2013: 1771). 196 Gramätica da Lingua Portuguesa (2003: 558). 197 Gramätica da Lingua Portuguesa (2003: 559), Gramätica do Portugues (20013: 1779). 198 Idem, ibidem. 199 Idem, ibidem. 200 Gramätica do Portugues (20013: 1779). 201 Idem, ibidem. 71 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA correlativa, incluindo o primeiro termo. Neste caso a coordenacäo e chamada polissindetica.202 Observe-se os seguintes exemplos para cada um dos tipos de coordenacäo: Vesti o casaco e sai. Coordenacäo binäria, sindetica O meufilho nem come nem Coordenacäo mültipla, sindetica bebe nem dorme. Aqui estou,(-) aqui vivo, Coordenacäo mültipla, assindetica (-)aqui morrerei. A coordenacäo mültipla cujas ultimas duas unidades säo conectadas por uma conjuncäo coordinativa, säo consideradas sindeticas pela sintaxe portuguesa. O aluno escreveu o ditado, (-) entregou-o ä professora efoi-se embora. As conjuncöes coordenativas podem ocorrer numa construcäo unaria como e, nem, ou, mas ou numa construccäo binaria - correlativa, como näo so...mas tam-bem, tanto....como, ou....ou, ora....ora, nem....nem, quer....quer, etc. No primeiro caso, as conjuncöes säo chamadas conjuncöes coordenativas simples203, no segundo caso, conjuncöes coordenativas relativas.204 A relacäo coordenativa e de tres tipos: coordenacäo copulativa, disjuntiva ou adversativa.205 5.1.1. Coordenacäo copulativa A coordenacäo copulativa consiste no valor basico semäntico aditivo que carac-teriza a relacäo existente entre os termos coordenados. Estes säo ligados por uma conjuncäo copulativa206 ou aditiva207 que pode ser simples ou composta. A conjuncäo aditiva simples mais tipica e a conjuncäo simples e e nem: O meufilho voltou dasferias e trouxe-me uma recordacäo. Näo vou ao cinema nem vou ao teatro. 202 Idem, ibidem. 203 Gramätica da Lingua Portuguesa (2003: 563). 204 Idem, ibidem. 205 Gramätica da Lingua Portuguesa (2003: 565). 206 Gramätica da Lingua Portuguesa (2003: 566); Gramätica do Portugues (2013: 1793). 207 Idem, ibidem. 72 5. PERÍODO COMPOSTO As conjuncóes copulativas compostas (correlativas) sáo, por exemplo, náo só.... mas também, náo só......como, tanto.....como. A omissáo de um dos seus ele- mentos resultaria inaceitável, como exemplificam as seguintes frases:. Vou ler náo só o livro mas também a revista. *Vou ler o livro mas também a revista. Tu náo só náo estudas como náo deixas os outros estudar. *Tu náo estudas como náo deixas os outros estudar. 5.1.2. Coordenacáo adversativa A coordenacáo adversativa consiste numa relacáo contrastiva ou contrapositiva, estabelecida entre os termos coordenados, conectados por conjuncóes adversati-vas ou contrajuntivas.208 A conjuncáo mais típica děste tipo de coordenacáo é a conjuncáo mas e senáo. O Joáo viu o livro na montra mas náo o comprou. Náo come senáo chocolate. Existem também os chamados conectores adversativos209 como porém, toda-via, contudo que, tradicionalmente sáo classificados como conjuncóes, mas que, de facto, se afastam delas por térem uma relativa liberdade no que á mobilidade dentro da frase diz respeito. Estes conectores podem ocorrer dentro do membro coordenado, sendo sempře separados do resto da frase por vírgulas, como exemplificam os seguintes casos: Ela está cansada, todavia/porém/contudo, os trabalhos impedem-na de tirarférias. Ela está cansada, os trabalhos, todavia/porém/contudo,impedem-na de tirar férias. Os conectores contrastivos podem co-ocorrer no periodo com uma conjuncáo, desde que a sua combinacáo seja semanticamente compatível. Veja-se o seguinte exemplo: Ela está cansada e, porém, náo pode tirarférias. Poupou bastante dinheiro, mas, porém, náo chega para pagar um carro novo. 208 Idem, ibidem. 209 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 566). 73 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA 5.1.3. Coordenacáo disjuntiva A coordenacáo disjuntiva implica o valor de alternativa entre os termos coor-denados, sendo as unidades coordenadas conectadas, tipicamente, por uma con-juncáo disjuntiva210 ou alternativa que pode ser simples (ou) ou correlativa (pu...ou, nem....nem, ora....ora seja....seja, quer....quer, já...já.). Náo se recomenda combinar nestas conjuncóes correlativas os elementos ou, nem, ora, seja, quer, já, embora ocorram com menor frequéncia. Existem dois tipos de disjuncáo: exclusiva e inclusiva. Se a escolha implica a seleccáo de um termo em detrimento do outro, falamos da disjuncáo exclusiva211, como exemplifica o seguinte caso: A crianca ora está a rir ora está a chorar. Oufazes o que te digo ouficamos zangados. No caso da disjuncáo inclusiva, os termos em alternativa sáo compatíveis, como ilustram as seguintes frases: Quer o gato quer o cáo detestam ver estranhos em casa. Ele esquece-se sempře ora da carteira ora das chaves ora do telemóvel. Alem destes trés tipos de coordenacáo, geralmente mencionam-se mais dois: coordenacáo explicativa e coordenacáo conclusiva. 5.1.4. Coordenacáo explicativa A coordenacáo explicativa exprime o motivo de se ter realizado a proposicáo da oracáo anterior. Podem ser sindéticas ou assindéticas. Quando sindéticas, sáo introduzidas pelos conectores explicativos212, pois, que, porque, porquanto que atribuem á oracáo o valor semántico de efeito, causado pela proposicáo da prime-ira oracáo coordenada. Náo recebi o ordenado hoje, pois/porquanto náo vou trabalhar amanhá.2i3 Náo troces dele: está apaixonado. 210 Idem, ibidem. 211 Idem, ibidem. 212 Gramätica da Lingua Portuguesa (2013: 569). 213 Idem, ibidem. 74 5. PERÍODO COMPOSTO Do ponto de vista semäntico, estas oracóes coordenadas explicativas aproxi-mam-se das oracóes adverbiais explicativas. Distinguem-se delas, contudo, pelas seguintes restriccóes sintácticas: • impossibilidade de ocorrerem em posicäo iniciál: *Pois/porquanto näo vou tra-balhar amanhä, näo recebi o ordenado hoje. • impossibilidade de haver duas coordenadas explicativas: *Nao recebi o ordenado hoje, pois/porquanto näo os vou ajudar amanhä e porquanto näo vou trabalhar. • impossibilidade de colocacäo pré-verbal dos pronomes clíticos em oracóes fini-tas: *Nao recebi o ordenado hoje, pois/porquanto näo vou trabalhar amanhä e pois näo os vou ajudar. Já as oracóes adverbiais explicativas podem encontrar-se em posicäo iniciál, podem apresentar estruturas de coordenacäo e podem ter o pronome clítico na colocacäo pré-verbal, como mostram os seguintes casos: • possibilidade de ocorrerem em posicäo iniciál: Como estava mau tempo, ficá-mos em casa. • possibilidade de haver duas coordenadas explicativas: Ficámos em casa porque estava mau tempo e, também, porque näo nos apetecia sair. • possibilidade de colocacäo pré-verbal dos pronomes clíticos em oracóes finitas: Ficámos em casa porque estava mau tempo e, também, porque näo nos apetecia sair. Já que te conheco, näo me admira a tua atitude. 5.1.5. Coordenacäo conclusiva Quando a segunda oracäo coordenada exprime conclusäo ou consequéncia logica da primeira proposicäo, fala-se da coordenacäo conclusiva.214 Os conectores conclusivos logo, pois, assim, portanto, por isso, por conseguinte, por consequéncia atribuem ä oracäo coordenada conclusiva o valor de conclusäo, o qual se depreende da situacäo reportada pela outra oracäo. Este tipo de conectores aproximam-se de expressóes adverbiais ou preposicionais que funcionam como adjuntos frásicos ou verbais com valor consecutivo ou resultativo. Destas diferem, contudo, pelo uso dos conectores. Nas oracóes subordinadas adverbiais consecutivas säo usados outros conectores: de forma que, de modo que, de maneira que que näo permitem a livre mobilidade no periodo. Compare-se os dois casos seguintes: Ele näo conhece bem o caminho, pode, pois/ assim/por conseguinte/ 214 Idem, ibidem. 75 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA por consequencia/concomitantemente, enganar-se. (coordenacdo conclusiva) Ele ndo conhece bem o caminho, de modo quepode enganar-se facilmente. (subordinacdo resultativa) 5.1.6. Polissemia das conjundoes Algumas conjuncoes podem, para alem do seu valor por excelencia (o valor basico) apresentar ainda outros significados que resultam essencialmente do con-texto linguistico. Por exemplo, a conjuncao e , para alem do valor por excelencia aditivo, adquire, contextualmente, os seguintes possives significados: • s. conclusivo: "A empresa declarou falencia e as accdes desceram 50% na Bolsa."; • s. condicional: "Ndo comes a sopa e eu ndo te levo ao cinema."; • s. temporal de sequencialidade: "Cheguei a casa efiz ojantar."; • s. temporal de simultaneidade: "A Joana estava a cantar e o Rui estava a tocar piano."; • s. adversativo: "Apresentei-lhe o projecto e ele recusou-o"; A conjuncao mas mostra, igualmente, uma semelhante diversificacao interpre-tativa, tambem dependente do contexto linguistico. Assim, para alem do valor por excelencia, que e o adversativo, pode apresentar, tambem o valor aditivo, como mostra a seguinte frase: Eu gosto de chocolate mas o Rui gosta de bolachas. O mas pode apresentar ainda dois significados importantes: o focalizador que consiste em delimitar o foco contrastivo de uma accao atraves de mas+ser (con-jugado na 3a p.sg, cujo tempo coincide com o do predicador), e o enfatico, pelo que se destacam algumas propriedades do sujeito da proposicao:215 Ele vai mas e_ao cinema ndo ao teatro (valor focalizador) Eu vou mas e embora. (valor focalizador) A crianca estava mas era doente. (valorfocalizador) Esta crianca corre mas corre. (corre muito) (valor enfatico) Edificio era alto mas alto (mas mesmo alto). (valor enfatico) 215 Gramatica do Portugues (2013: 1804). 76 5. PERIODO COMPOSTO 5.2. ORACÓES INTERFERENTES As oracóes ou períodos interferentes apresentam um tipo particular de conexáo em que uma frase acrescenta algum tipo de informacáo sobre outra oracáo independente ou sobre uma expressáo nominal da outra oracáo, sem que, no entanto, as duas oracóes estejam sintacticamente dependentes. Este tipo de conexáo cha-mamos suplementacáo.216 Á oracáo que introduz o comentário chamamos suple-mento217 e á oracáo ou á expressáo nominal dessa oracáo, sobre a qual incide o comentário veiculado pelo suplemento, chamamos áncora.218 Na linguagem escrita, estas construcóes separam-se por vírgulas, parénteses ou travessóes: Veja-se o seguinte exemplo em que a construccáo sublinhada é o suplemento e a náo sublinhada, áncora: O Pedro, se náo estou em erro, já náo trabalha neste banco. A oracáo que contém esta suplementacáo, é denominada oracáo hospedeira219 (interferente ou intercalada, ou também parentética) e pode ser introduzida por uma conjuncáo. Um dos tipos das oracóes hospedeiras sáo as estruturas de enunciacáo220, que poderiam ser caracterizadas como estruturas adverbiais periféricas, as quais náo apresentam uma relacáo semántica directa entre os dois conteúdos proposicionais: Se bem me lembro, iam á praia todas as tardes. (suplementacáo) Se quisessem, iam (iriam) á praia todas as tardes. (subordinacáo) Como vemos, a relacáo de conectividade semántica e sintáctica existente entre elas, é muito fraca, o que se reflecte também na independéncia temporal das duas oracóes. Este tipo de oracóes pode ter vários valores semánticos. Aos mais frequentes pertence o valor de comentário, final, condicional, concessivo ou conformativo, como ilustram os seguintes exemplos:221 216 Gramática do Portugués (2013: 1783). 217 Idem.Ibidem. 218 Idem.Ibidem. 219 Idem.Ibidem. 220 Gramática do Portugués (2013: 2013, 2024, 2038). 221 lbem, ibidem. 77 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Para set sincere nao penso que esta equipa seja a melhor. (final) Naquela altura, se bem me lembro, a Casa da Musica ainda estava aberta. (condicional) Ao miudo ocorreu a ideia de, sei la porque, roubar na loja o chocolate. (comentdrio) Segundo o iornal apurou, a principal razao da construcao da linha ferrovidria foi a de ligar a cidade ao litoral. (conformativo) Que eu saiba, nao pedi registo de patente nem reivindiquei qualquer originali-dade. (concessivo) 5.3. ORACOES SUBORDINADAS A relacáo de subordinacáo implica a ordenacáo hierárquica (hipotáctica) das frases. Ao contrário da parataxe, a hipotaxe é o relacionamento sintagmático de termos dependentes entre si. Na subordinacáo sempře há um termo subordi-nante (também chamado regente, determinado ou principál) e um termo subor-dinado (também chamado regido, determinante ou dependente). A relacáo hipotáctica pode ser oracional (suboracional) ou superoracional. Sáo exemplos do primeiro caso as seguintes construccóes cujos termos subor-dinados sáo sublinhados e, os subordinantes, náo: aluno estudioso, o aluno estuda, estudar gramática, gostar do filme, chegar á escola* etc. Dentro de um periodo, na subordinacáo superoracional, uma oracáo depende de outra. Assim, no exemplo seguinte: Espero que vocés seiam felizes. a oracáo iniciada pelo complementador é subordinada e a outra, principál. O periodo composto por subordinacáo é iniciado ou por um complementador, por um pronome relativo ou por uma conjuncáo subordinativa. Assim, existem as oracóes: 1) substantivas ou completivas ou integrantes (iniciadas por uma conjuncáo inte-grante); 2) adjectivas ou relativas (iniciadas por um pronome relativo); 3) adverbiais ou cireunstanciais (iniciadas por qualquer tipo de conjuncáo subordinativa, salvo a integrante). 78 5. PERÍODO COMPOSTO Na subordinacäo completiva ou integrante (chamadas substantivas de acordo com a tradicäo luso-brasileira), as oracöes subordinadas completam a informa-cäo veiculada por um verbo transitivo da oracäo principal. Estas oracöes constituent argumentos seleccionados e podem exercer a funcäo de sujeito ou de complement© do predicador da oracäo principal. As oracöes subordinadas säo, na maioria das vezes, introduzidas pelos complementadores. Na subordinacäo relativa (chamada, de acordo com a tradicäo luso-brasileira também adjectiva), a oracäo subordinada tem a funcäo de modificador do nucleo nominal da oracäo principal. Na subordinacäo adverbial chamada por alguns linguistas circunstancial, as oracöes subordinadas säo designadas oracöes subordinadas adverbiais, e desempenham a funcäo de adjunto adverbial, näo sendo seleccionadas pelo predicador da oracäo subordinante. Constituem um argumento näo seleccionado e podem apresentar diferentes valores semänticos, como o de tempo, de causa, de finalidade, de condicäo, de modo, entre muitos outros. 5.3.1. Subordinacäo completiva A subordinacäo completiva222 (substantiva223 ou integrante ou argumental) apro-xima-se äs expressöes nominais (sintagmas nominais) que desempenham a mesma funcäo sintáctica. Assim, na seguinte fräse, o SN na funcäo de objecto directo é substituível por uma oracäo completiva que, concomitantemente, desempenhará a mesma funcäo sintáctica do objecto directo: O Pedro, no Dia das Mentiras, inventou uma mentira. O Pedro, no Dia das Mentiras, inventou que tinha mil euros na lotaria. Nesta fräse, o sintagma nominal, uma mentira e que tinha mil euros na lotaria desempenham a mesma funcäo do objecto directo. As oracöes completivas säo seleccionadas pelo predicador da oracäo subordinante cujo núcleo pode ser verbal, adjectival ou nominal. Consequentemente, a complementacäo denomina-se complementacäo nominal224 (ter a ideia de que + F) e complementacäo adjectival225 (ser capaz de+F) e complementacäo verbal226 (prometer que + F). 222 Gramática da Lingua Portuguesa (2003:595); Gramática do Portugués (2013:1825). 223 Kury (2002: 71-78); Cunha, Cintra (1999: 596). 224 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 596). 225 Idem. Ibidem. 226 Idem. Ibidem. 79 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA As oracôes completivas podem ser finitas, caso o verbo conjugado ocorra nos modos indicativo ou conjuntivo, ou näo finitas, caso o verbo ocorra no infinitivo flexionado ou näo flexionado, como se pode observar nos seguintes exemplos: 5.3.7.7. Classificagao sintdctica De acordo com a funcao sintactica da oracao completiva, estas classificam-se, tradicionalmente, em: subjectivas, objectivas (directas, indirectas, objectivas obliquas), predicativas, apositivas e com a funcao de agente da passiva. 5.3.1.1.1. Oracoes completivas de sujeito As oracoes completivas de sujeito227 (tradicionalmente denominadas subjectivas228) exercem a funcao de sujeito e podem ser substituidas ou por um sintagma nominal na mesma funcao, ou por um pronome demonstrative invariavel (isso, isto, aquilo), mas nunca por um pronome pessoal clitico, como mostram as seguintes frases: E claro que nao tenho medo. E claro isso.; ou: Isso e claro. Este tipo de oracoes pode ocorrer em posicao pre-verbal ou pos-verbal. No pri-meiro caso, as oracoes comportam-se como ilhas fortes229 e ocorrem tipicamente quando sao seleccionadas por verbos inferenciais e causativos, como: demonstrar, ilustrar, indicar, mostrar, reflectir, revelar, significar, sugerir, entre outros com um sentido semelhante. Veja-se o seguinte exemplo e o seu respectivo diagrama: Queria quefizesses um bolo de chocolate. Pedi-lhe para fazer um bolo de chocolate. (oracäo finita) (oracäo näo finita) *É claro-o. SN sv con] F" V SN Que haja desinteresse, (sujeito) reflecte (predicado) o näo envolvimento de todos neste projecto. (objecto directo) 227 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 606). 228 Kury (2002: 74); Cintra, Cunha (1999:596). 229 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 470; 606-607). 80 5. PERIODO COMPOSTO A posicäo pre-verbal nestas construcöes reflecte a ordem tipica das palavras na oracäo, que, normalmente, e iniciada pelo sujeito, seguido de predicado e complemento directo. Estes exemplos citados säo substituiveis pelo sintagma nominal com o nücleo nominal facto como exemplifica o seguinte par de frases: O facto de que tenham aparecido tantas pessoas na manifestacäo, indica o grau do descontentamento dos trabalhadores. Que tenham aparecido tantas pessoas na manifestacäo, indica ograu do descontentamento dos trabalhadores. As oracöes completivas de sujeito na posicäo pre-verbal pertencem, de acordo com a sintaxe luso-brasileira, tambem as que säo introduzidas pelo pronome relativo quern como ilustra o seguinte exemplo. Quern canta, seus males espanta. Quem sabe, näo esquece. A sintaxe portuguesa, contudo, considera estas frases como relativas com ante-cedente näo expresso (ver mais adiante: oracöes relativas livres). As oracöes completivas de sujeito, encontram-se predominantemente em posicäo pös- verbal, funcionando como ilhas fracas ou frases extrapostas.230 Esta posicäo pös-verbal, contudo, näo reflecte a posicäo canönica (pre-verbal) do sintagma nominal na mesma funcäo. Veja-se os seguinte exemplo e o seu esquema grafico: E possivel que o Toäo näo venha äfesta. E verdade que o Toäo estä doente. F SV SN V conj F E possivel E verdade (predicado) que que o Joäo näo venha ä festa. o Joäo estä doente. (sujeito) 230 Gramätica da Lingua Portuguesa (2003: 606-607). 81 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Para identificar a funcao de sujeito das frases completivas, e possivel aplicar os mesmos testes de controle que existem para a identificacao da funcao do sintagma nominal. Didaticamente, podem ser utilizadas as perguntas: Quern e que...? ou O que e que.....? A resposta a esta pergunta sera o sujeito. Assim, no periodo: identificaremos a oracäo completiva de sujeito ao responder ä pergunta O que é que épossivel?, obtendo a resposta em que se abona a funcäo de sujeito: que o Toäo näo venha á festa. 5.3.1.1.2. Oracöes completivas de objecto directo As oracöes completivas de objecto directo231, denominadas tradicionalmente objectivas, säo sempre seleccionadas por verbos transitivos e podem ser substitu-idas por um pronome demonstrativo neutro isso em posicäo pós-verbal ou pelo pronome clitico acusativo -o. O Joäo sähe que estamos ä espera dele. O Joäo sähe isso. O Joäo sabe-(h Em geral, estas oracöes completivas säo seleccionadas por verbos transitivos directus ou (bi)ditransitivos, ocorrendo, consequentemente, em posicäo pós-verbal, como mostra o seguinte esquema gráfico: É possivel que o Toäo näo venha á festa. F SN SV D N V SN conj F O Joäo (sujeito) sähe que estamos ä espera dele. (predicado) (objecto directo) 231 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 608); Gramática do Portugués (2013: 1859). 82 5. PERÍODO COMPOSTO Muito esporadicamente estas oracöes podem ocorrer também em posicäo pré--verbal. Estas construccöes tém um valor enfático, estilisticamente marcado, sendo pouco habitual na linguagem corrente. A sua posicäo atípica pode levar a confundir a sua funcäo de objecto com a de sujeito. Oue elafez o exame, todos sabemos. As oracöes completivas säo, tipicamente, introduzidas por um complementa-dor que, como ilustram os casos acima mencionados. Ao mesmo tempo, quando säo seleccionados por verbos de inquiricäo (investigar, perguntaf), verbos decla-rativos (dizer, decidir) ou epistémicos (sabef), podem igualmente ser introduzidas pelo complementador se:232 O teste de sangue vai mostrar se o condutor conduziu sob o efeito de álcool. A Irene pergunta se pode trazer os filhos para a festa. A polícia ignora se o condutor se adormeceu ao conduzir o autocarro. Algumas oracöes completivas de objecto directo podem ser introduzidas por conjuncöes adverbiais ou pronomes indefinidos: quando, como, qual, de onde, etc. Estas oracöes, contudo, säo interpretadas como relativas livres, de acordo com a sintaxe portuguesa (ver o capítulo de Oracöes relativas). Sei como eleperdeu a vida. vs. Sei-a Detesto quem mentě. vs. Detesto-a Perguntou-me quando foi isso. vs. Perguntou-mci Nalguns casos, quando a oracäo completiva está no modo conjuntivo, ocorre a supressäo do complementador. Este uso verifica-se, quase exclusivamente, na escrita, sobretudo em correspondéncias formal (linguagem comercial, jurí-dica, etc), como ilustram os seguintes casos:233 Requeiro (-) seja enviado o Processo a outra inštancia.234 Solicito (-) me seja enviado o parecer por correio. Para alem da supressäo, verifica-se, curiosamente, na linguagem coloquial, 232 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 597, 612). 233 Gramática do Portugués (2013: 1869); Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 620). 234 Idem, ibidem. 83 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA o fenómeno de reduplicacäo do complementador235 na oracäo subordinada, que consiste na repeticäo do complementador que ä direita do sujeito da oracäo subordinada ou ä direita de uma expressäo adverbial. Eu acho que ele que näo tem uma grande queda para estudar. Acho que uma pessoa que deve desfrutar da vida. Estavam convencidos de que lá fora que se vivia melhor.236 5.3.1.1.3. Oracöes completivas de objecto indirecto As oracöes completivas de objecto indirecto, denominadas oracöes substantivas objectivas indirectas237 segundo a terminológia tradicional, säo incluidas, pela sintaxe portuguesa, entre as oracöes relativas livres, já que contém um pronome relativo. Estas oracöes säo seleccionadas por verbos transitivos indirectos e podem ser substituídas por um pronome clítico dativo me, te, Ihe, nos, vos, Ihes. Canonica-mente, estas oracöes, tal como o seu sintagma nominal homólogo, encontram-se em posicäo pós-verbal. " 1 SN SV M / \ D N V SN F O livro foi enviado a quem o tinha pedido. (sujeito) (predicado) (objecto indirecto) 5.3.1.1.4. Oracöes completivas oblíquas As oracöes completivas oblíquas säo intepretadas, de acordo com a tradicäo luso--brasileira, como oracöes completivas indirectas238, näo sendo tornáda em conta a diversificacäo das construcöes prepositivas. Säo introduzidas por uma prepo-sicäo (salvo a e para), regida pelo verbo da oracäo principál e a conjuncäo que. 235 Gramática do Portugués (2013: 1869); Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 620-621). 236 Idem, ibidem. 237 Kury (2002: 76), Cunha e Cintra (1999: 596). 238 Idem, ibidem. 84 5. PERÍODO COMPOSTO F SN SV /\ D N V SNp /I \ P conj F O Pedro (sujeito) concorda com que a Maria o acompanhe. (predicado) (objecto oblíquo) Estas oracöes podem ser substituídas pelas formas tónicas de um pronome demonstrativo neutro (isso, isto, aquilo), a única compatível com as preposicöes. Nunca podem ser substituídas por um pronome clitico dativo ou acusativo, como ilustram os seguintes exemplos: O Joäo concordou com que a Maria o acompanhe. O Joäo concordou com isso. *0 Joäo concordou-o. Entre as preposicöes que introduzem oracöes completivas obliquas, pertencem, entre outras, as seguintes:239 • preposicäo a: regida pelos verbos acostumar-se , arriscar-se, aspirar, atender, conduzir, dever-se, habituar-se, inclinar-se, levar, opor-se, resistir, tender; • preposicäo com: regida pelos verbos concordar, conformar-se, contar, contentar--se, fazer; • preposicäo de: regida pelos verbos aperceber-se, arrepender-se, discordar, duvidar, envergonhar-se, esquecer-se, gostar, lembrar-se, precisar, queixar-se, recordar-se; • preposicäo em: regida pelos verbos acreditar, apoiar-se, assentar, basear-se, con-fiar, insistir, consistir, residir, estar interessado; • preposicäo por: regida pelos verbos ansiar, bater-se, esforcar-se. Em contextos muito exactos, as preposicöes podem ser, facultativamente, suprimidas. Muito frequentemente é omitida a preposicäo de, como ilustram os seguintes casos:240 239 Gramática do Portugués (2013: 1870). 240 Gramática do Portugués (2013: 1888-1889), Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 619). 85 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Portas discorda que a direccäo do partido de liberdade de voto aos militantes . Passados 11 anos, convenceu-se que viverä muitos mais . Mas o treinador do FC Porto concorda que a sua equipa «näofez nadaparaganhar». Este fenömeno de supressäo pode ser explicado pelo facto de que a preposicäo de tem um contributo semäntico muito reduzido na oracäo, e, na maioria dos contextos e praticamente desprovida do significado. No caso de outras prepo-sicöes, cujo valor semäntico e significativo, estas näo se suprimem, com a exce-pcäo de alguns casos muito limitados, como säo os seguintes: insistir, confiar, ansiar. Este fenömeno e chamado queismo e e facultativo: O ärbitro insistiu (em) que ojogo prosseguisse. Confio (em) que a morte näo acontece. Anseiam (por) que o novo treinador consiga transformar as derrotas da equipa em vitörias; Por outro lado, na linguagem falada, observa-se com alguma frequencia a ocorrencia de uma preposicäo que antecede a oracäo completiva obliqua. Uma vez que a preposicäo desnecessariamente presente e, geralmente, a preposicäo de, este fenömeno e denominado dequeismo.241 Contudo, o dequeismo pode afectar tambem outras preposicöes e a sua ocorrencia pode ser explicada pelo seu uso no sintagma preposicional: *Penso de que o ärbitro favoreceu os nosso adversärios. Penso na arbitragem dojogo de ontem. *Acredito de que os eleitores confiaräo em nös. Acredito numa nova victöria eleitoral. Ao mesmo tempo existem restricöes no que diz respeito äs possibilidades com-binatörias dos verbos regidos por uma preposicäo que seleccionam frases com-pletivas interrogativas introduzidas por uma preposicäo. Nestes casos, a preposicäo do verbo e suprimida.242 *Ele näo se lembra de a que horas chega. Ele näo se lembra (-) a que horas chega. 241 Idem, ibidem. 242 Gramätica do Portugues (2013: 1888-1895). 86 5. PERÍODO COMPOSTO Caso estas oracöes näo sejam introduzidas por uma preposicäo, a preposicäo pode ser facultativamente utilizada:243 Näo me lembro (de) onde pus os óculos. Näo me informaram (de) quantas pessoas vém. 5.3.1.1.5. Oracöes completivas predicativa, apositiva, de agente da passiva As oracöes completivas ainda podem desempenhar a funcäo predicativa, apositiva e a de agente da passiva, como exemplificam as seguintes construccöes:244 Quem mais reclama é quem menos sabe. (funcäo predicativa) Ele disse-me apenas isto: näo me aborrecal (funcäo apositiva) Este trabalhofoi escritopor (funcäo de ag.da passiva) quem entende esta matéria. A primeira e a terceira fräse, contudo, säo interpretadas como oracöes relativas livres com antecedente näo expresso, uma vez que contém o pronome relativo quem. 5.3.1.2. Modo nas oracöes completivas A seleccäo do modo nas oracöes completivas prende-se, directamente, com a modalidade da oracäo principál. Como a relacäo entre a modalidade de dieto e o modo da de ré existente entre as unidades oracionais do mesmo periodo é directa, os romanistas checos atribuíram-lhe o nome de períodos directamente modais.245 Existem quatro tipos de modalidade básicos: 1. o primeiro valor modal indicado designa-se como modalidade epistémica, o qual se prende com diferentes graus de certeza ou com a avaliacäo de proba-bilidade acerca do conteúdo proposicional da frase. Neste pode exprimir-se certeza, ou possibilidade, probabibilidade, dúvida:246 Creio que Deus existe. É provável que Deus exista. É possível que Deus exista. O Pedro duvida que Deus exista. 243 Idem, ibidem. 244 Kury (2002: 77-78), Cunha, Cintra (1999:597). 245 Zavadil, Čermák (2010: 253). 246 Gramática do Portugués (2013: 630-637). 87 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA 2. o segundo valor modal depreende-se da capacidade ou necessidade interna247, psicológica ou fisica, do sujeito de realizar alguma accáo e pode ser expresso pelos verbos seguintes: saber, ser capaz, precisar, necessitar: Ela é capaz de estudar toda a materia num unico dia. 3. o terceiro valor modal é chamado modalidade deóntica248 e implica um acto de permissáo ou autorizacáo, e de imposicáo de uma obrigacáo: Tens de me dizer a verdade. I A professora permitiu aos alunos que fizessem um intervalo. 4. o quarto valor modal é designado como modalidade desiderativa249, e tern a ver com a expressáo de volicáo ou do desejo, como mostram os seguintes exemplos: Eu quero passar asférias no Algarve./Espero que estejas bem. A modalidade pode ser realizada por verbos auxiliares modais {dever, poder, ter que, haver de, desejar, querer, esperar, etc), por adjectivos modais na posicáo pre-dicativa (pbrigatório, permitido, necessário, possível, provável, proibido, bom, desejável, etc.), por advérbios modais, como possivelmente, talvez, eventualmente, dificilmente, certamente, obrigatoriamente, inevitavelmente, oxalá, desejavel-mente, etc.) e também, por modos verbais (conjuntivo, indicativo e imperativo). Os modos do verbo portugués sáo o indicativo, o conjuntivo e o imperativo. O condicional (futuro do passado) e o futuro (futuro do presente) do indicativo também podem veicular certos valores modais epistémicos (de probabilidade, sobretudo). Em oracóes completivas finitas podem ocorrer os modos do indicativo e do conjuntivo. O seu uso é restringido, no periodo, as regras de compatibi-lidade modo-temporal. 5.3.1.2.1. Indicativo O modo de indicativo tern um valor epistémico positivo, podendo ocorrer nas oracóes completivas seleccionadas pelos predicadores nominais, verbais e adjecti-vais que incluem:250 247 Gramática do Portugués (2013: 630-631). 248 Gramática do Portugués (2013: 632-633). 249 Gramática do Portugués (2013: 634-635). 250 Gramática do Portugués (2013: 678-681). 88 5. PERÍODO COMPOSTO • modalidade epistémica expressa pelos verbos "de actividade mental", como aceitar, achar, acreditar, calcular, compreender, considerar, certificar, crer, descobrir, entender, fingir, ignorar, imaginär, pensar, prever, reconhecer, saber e supor, p.ex: "Ele sabe que a Ana mora em Lisboa"; • expressöes declarativas, por exemplo acrescentar, admitir, afirmar, alegar, asse-gurar, assumir, concluir, concordar, confessar, criticar, declarar, decidir, dizer, insinuar, jurar, negar, observar, pedir, pregar, proclamar, prometer, entre outros, p.ex: "Prometo que te vou visitar amanhä"./" O Paulo negou que joi visitar a mäe"; • expressöes que introduzem um cenário imaginário: fingir, imaginär, sonhar, supor, entre outros: p.ex: "Ele sonhou que estava deférias"; • expressöes de crenca: crer, acreditar, ter a certeza, concluir, tirar a conclusäo, confiar, convencer, verificar, ser verdade, ser certo, ser claro, ser evidente, ser lógico, ser óbvio, entre outros: p.ex: "Tenho a certeza de que está em casa." 5.3.1.2.1.1. Consecutio temporum Existem, em portugués, normas de correlacäo, de correspondéncia modo-temporal ou, (em latim, "consecutio temporum"). Normalmente, numa oracäo composta por subordinacäo completiva, estabelece-se uma relacäo modal directa ou paralela entre a modalidade da oracäo principál, cujo verbo se encontra, tipicamente, no modo indicativo, e o modo verbal do predicador da oracäo subordinada, que pode ocorrer no indicativo ou no conjuntivo, sempře respeitando as regras de dependén-cia modo-temporal e de transposicäo temporal que ocorre no discurso relatado. A localizacäo ou ordenacäo temporal do discurso relatado251 ou indirecto252 caracteriza-se pela reproducäo de enunciados já produzidos pelo locutor. Por meio de um discurso indirecto relata-se um discurso directo (uma pergunta, uma resposta, um diálogo, etc.). O discurso indirecto consiste na transmissäo diferida de palavras, em regra, anteriormente pronunciadas. O autor do discurso indirecto incorpora no seu proprio discurso frases suas ou de um outro locutor, construindo oracöes subor-dinadas e alterando a forma como foram inicialmente proferidas. No piano formal, na escrita, o discurso directo é marcado por dois pontos, por travessäo, por mudanca de linha, pelo uso de exclamacöes, interrogacöes, inter-jeicöes, vocativos e imperativos, e pelo uso da l.a e da 2.a pessoa do discurso. No discurso indirecto ocorre o relato do que foi dito, respeitando-se o conteúdo, mas alterando-se a forma. Essa reproducäo é efectuada por uma modalizacäo, a qual 251 Gramática da Lingua Portuguesa (1989: 82-83). 252 Idem, ibidem. 89 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA pode variar desde a reproducáo mais neutra, através dos verbos: dizer, telefonát, avisar, afirmar: A Ana disse que náo conseguiu/tinha conseguido ir ao cinema com os amigos. até uma interpretacáo avaliativa mais forte, expressa pelos verbos de modali-dade deóntica, desiderativa ou de necessidade interna. A Ana receava que náo conseguisse ir ao cinema com os amigos. O discurso indirecto implica também uma transposicáo ao nível da déixis pessoal, temporal e espacial. Seguem-se alguns exemplos desta transposicáo: • Os pronomes pessoais, possessivos e demonstratives na l.a e 2.apessoas grama-ticais no discurso directo passam para a 3.apessoa no discurso indirecto. Ex: Discurso directo: [Ela perguntou: ] Ouer comprar alguma coisa? Discurso indirecto: Ela perguntou se queria compar alguma coisa. • Dependéncia temporal - consecutio temporum: quando os verbos da oracáo subordinante do discurso indirecto sáo em qualquer tempo de preterite (salvo o preterite perfeito composto), as dependéncias temporais afectam gramatical-mente os predicadores da frase completiva do seguinte modo: a) Os verbos no Presente no discurso directo passam a Pretérito Imperfeito no discurso indirecto: Discurso directo: A dona Ana está em casa?- perguntou o Roger. Discurso indirecto: O Roger perguntou se a dona Ana estava em casa. b) Os verbos no Pretérito Perfeito no discurso directo passam a Pretérito Mais-que-Perfeito no discurso indirecto: Discurso directo: A Teresa foi iogar tenis. - disse a Maria. Discurso indirecto: A Maria disse que a Teresa tinha ido (fora) i o gar tenis. c) Os verbos no Futuro do presente no discurso directo passam para o tempo Futuro do Passado (Condicional) no discurso indirecto: Discurso directo: Onde é que voces iráspassar asférias? - perguntou ela. Discurso indirecto: Ela perguntou onde iriapassar asférias. • Os demonstratives este, esta, isto, esse, essa, isso, passam a aquele, aquela: Discurso directo: Comprei este livro.- disse o Roger. 90 5. PERÍODO COMPOSTO Discurso indirecto: O Roger disse se que tinha comprado aquele livro. • Os vocativos desaparecem ou passam a ter a funcäo de complemento indirecto da oracäo subordinante: Discurso directo: Dona Ana, onde pus os óculos? - perguntou o Roger. Discurso indirecto: O Roger perguntou á dona Ana onde tinha posto os óculos. • Os advérbios de lugar aqui, cá no discurso direto passam a assumir no discurso indirecto as formas: ali ali, alem, acolá, lá: Discurso directo: Mäe, deixo-te aqui o dinheiro. - disse o Roger. Discurso indirecto: O Roger disse á mäe que Ihe deixava ali o dinheiro. • Os advérbios de tempo agora, já, imediatamente, hoje, ontem, na véspera, amanhä, logo, terca-feira (e outros nomes dos dias) no discurso directo passam a entäo, naquele momento, logo, naquele dia, no dia anterior, no dia seguinte, depois, na terca-feira (passadalseguinte): Discurso directo: OntemITerca fui ao teatro. - disse o Cleberson. Discurso indirecto: O Cleberson disse que no dia anterior/na terca-feira tinha ido (fora) ao teatro. É de notár que estas transposicöes gramaticais se prendem com o facto de o conteúdo proposicional da frase subordinada ser reproduzido num momento anterior ao momento da enunciacäo. Näo obstante, muitas vezes, estas transposicöes näo säo aplicadas absolutamente, havendo determinadas restriccöes semäntico-temporais. Do ponto de vista da relacäo temporal da frase principal e subordinada com o momento presente, temos que distinguir quatro tipos discur-sivos: 1. No primeiro tipo, o predicador da frase F1 que selecciona a oracäo completiva F2 (a qual ora exprime simultaneidade Fs, ora posterioride Fp, ora anterioridade Fa, relativamente ä frase subordinante F1) está temporalmente localizado fora do momento de enunciacäo P (presente). Neste caso, realizam-se todas as transposicöes gramaticais acima referidas. Säo exemplos desta primeira situa-cäo todos os casos acima citados. __________F1_______________P_______ p 2 p 2 p 2 as p 2. Já na segunda situacäo, o predicador da F1 que selecciona a oracäo completiva F2 (F 2, F2, F 2) está temporalmente localizado dentro do momento de enunci- 91 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA acäo P (presente), apesar de conter o verbo no tempo preterito. Este, contudo, pode parcialmente fazer parte do momento presente (ou da sua parte imedia-tamente anterior). Neste caso, näo se realiza nenhuma das transposicöes gra-maticais acima referidas. p 2 p 2 p 2 a s p Ela disse (agora mesmo) que as dez horas vamos sair. Ela perguntou (agora mesmo) se encontrámos a Maria. Ele acabou de dizer (agora mesmo) quefoi buscar o Pedrinho ao infantário. 3. Sáo exemplos do terceiro caso frases que contém verdades universais (frases gnómicas) que náo sáo afectadas pelas dependéncias temporais, náo se tendo em conta o momento de reproducáo nem a relacáo da proposicáo da oracáo principál com o momento presente: __________F1_______________P= F1_______ p 2 p 2 p 2 a s p Ele disse que Galileu descobriu que a Terra é redonda. O Pedrinho disse que a Terra gira em torno o Sol. 4. No terceiro tipo, as proposicóes das frases Fa2 , Fg2, Fp2 sobrepóem-se ao momento presente apesar de térem sido reproduzidas num momento anterior ao momento presente. P= F1 } 2 p 2 p 2 asp Ela disse (hd dois meses) que no proximo ano vai trabalhar para a Australia. Ela estava a dizer hd um bocado que este ano tirard um curso de lingua portuguesa. A Guida acabou de dizer que este ano comprou um carro novo. Outro tipo do discurso relatado e o discurso indirecto livre253, em que a voz do narrador e a voz do/da personagem se confundem, sendo uma especie de interseccao entre o discurso directo e o discurso indirecto. Trata-se de um enunciado livre de subordinacao sintactica, que nao possui as conjuncoes inte-grantes tipicas do discurso indirecto, o que permite aproxima-lo do discurso directo. Estas construcoes apresentam transposicoes ao nivel da deixis pessoal, temporal e espacial que sao tipicas do discurso indirecto, como mostra o seguinte exemplo: 253 Idem, ibidem. 92 5. PERÍODO COMPOSTO Agora era tarde, pensou. Partia amanhä e näo conseguira desfazer o equívoco. Quando voltasse, napróxima semana, teria uma parte a comunicar-lhe quepres-cindiam dos seus servicos. Estas operacöes enunciativas säo tratadas no quadro da análise do discurso, especificamente ä luz do conceito de polifonia. 5.3.1.2.2. Conjuntivo O modo conjuntivo, por outro lado, é seleccionado por predicadores verbais, nominais e adjectivais que incluem:254 • expressöes volitivas, factivas e causativas, como, por exemplo: desejar, esperar, preferir, pretender, querer, recusar, tencionar e tentar, p.ex: "Deseio/ prefiro/ querol que me leves de carro para o trabalho." • expressöes com um sentido directivo ou declarativo de ordern: exigir, mandar, pedir, sugerir, mandar um pedido, mandar uma sugestäo, p.ex: "Ele disse que entrasses logo." • expressöes avaliativas que implicam uma atitude do falante perante um dado estado de coisas: aborrecer, angustiar, animar, censurar, comover, criticar, culpabi-lizar, deplorar, desagradar, desculpar, desgostar, desinteressar, detestar, emocionar, entristecer, evitar, gostar, humilhar, impressionar, incomodar, lamentar, macar, ofender, perdoar, perturbar, preocupar, reprovar, sagradar, seduzir, suportar, sur-preender, achar bem, achar mal, ser insoportável, lamentável, triste, entre outros, p.ex: "Lamento/é triste/acho mall... que o Joäo tenha decidido sair do pais." • verbos de assercäo mental quando tém algum negador - näo achar, näo estar certo de, descobrir, näo ter a certeza de, näo prometer, como p.ex: "Näo acho que ofilho esteia preocupado com os trabalhos de casa." • expressöes que exprimem dúvida, como p.ex: "Duvido que tenha razäo." • expressöes associadas ao domínio do incerto ou do hipotético: ser provável, ser possível, p.ex: "É possível que tenha mentido."/"É provável que tenhamos que pagar uma multa." Há predicadores associados ä expressäo de valores de crenca que näo tém um comportamento homogéneo, admitindo quer o indicativo quer o conjuntivo na oracäo completiva. É o caso dos verbos como acreditar, imaginär, crer que selec-cionam, tipicamente, o indicativo na coracäo completiva, mas que podem remeter para o domínio de hipótese, certeza näo absoluta ou suspeita. Neste caso, säo clas-sificados como verbos pseudoassertivos.255 Assim, o indicativo indica um elevado 254 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 601-605). 255 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 603-605). 93 SINTAXE DA LÍNGUA PORTUGUESA grau de certeza, enquanto que o conjuntivo indica uma reduzida confianca na vera-cidade da proposicáo expressa, como ilustram os seguintes exemplos: A polícia pensa que a testemunha mentiu. (elevado grau de certeza) A polícia pensa que a testemunha mentisse/tenha mentido. (reduzido grau de certeza) 5.3.1.2.2.1. Consecutio temporum Nas oracóes completivas com conjuntivo, há dois factores mais importantes que determinaráo o tempo gramatical verbal do predicador da oracáo completiva: • o tempo em que se encontra o predicador da oracáo principál F1. • a relacáo temporal que existe entre a oracáo principál e a subordinada. Esta pode ser de trés tipos: simultaneidade, posterioridade e anterioridade. Dividimos este tipo de períodos em dois tipos como mostra o seguinte quadro: oracáo F1 oracáo F2 rinita subordinante modo: indicativo imperativo subordinada modo: conjuntivo 1 presente do indicativo futuro do presente imperativo pretérito perfeito composto 1A relacáo temporal entre F1 F2: simultaneidade ou posterioridade presente do conjuntivo 1B relacáo temporal entre F1 F2: anterioridade pretérito do conjuntivo imperfeito do conjuntivo 2 tempos pretéritos (salvo PPC) futuro do passado (condicional) 2A relacáo temporal entre F1 F2: simultaneidade ou posterioridade imperfeito do conjuntivo 2B relacáo temporal entre F1 F2: anterioridade mais-que-perfeito do conjuntivo 94 5. PERIODO COMPOSTO No primeiro tipo deste periodo (1A e IB), podem ocorrer dois modos na oracao principal: o indicativo (no presente ou futuro) e o imperative O predicador da oracao subordinada, de acordo com a relacao temporal entre as duas frases, ou ocorre no presente do conjuntivo (que exprime a relacao temporal de simulta-neidade ou de posterioridade) ou no preterito, imperfeito ou mais-que-perfeito do conjuntivo (todos os tres exprimem anterioridade mais ou menos afastada), sendo o conjuntivo do imperfeito estilisticamente marcado no sentido de enfati-zar o valor modal do predicador da oracao principal. Lamento que ndo possas vir afesta. (tipo: 1 A) Lamento que ndo tenhas podido/pudesses vir afesta. (tipo IB). Nao se pode confundir o caso de 1A com 1 B sob pena de desinterpretacao temporal. Enquanto a proposicao da frase 1A e temporalmente localizada no momento presente, eventualmente posterior ao momento de enunciacao, a proposicao da frase IB e localizada no momento anterior ao momento de enunciacao, como mostram os seguintes diagramas: Tipo 1A_____________________F1=Presente (Lamento)______________ p 2 p 2 simultaneo posterior (que ndo possas vir afesta.) Tipo IB__________________________F1=Presente (Lamento)_______ F 2 anterior (que ndo tenhas podido/pudesses/tivesses podido vir afesta). No tipo IB, como vemos, existe a possibilidade de utilizar, alem do preterito e do imperfeito do conjuntivo, tambem o mais-que-perfeito do conjuntivo. Observemos, agora, as diferencas estilisticas e temporais entre as variantes tem-porais, que foram verificadas na linguagem oral e escrita, mas que nao consegui-mos apoiar em nenhumas fontes bibliograficas.: Tipo IB__________________________F1=Presente (Lamento)_______ F 2 anterior (que ndo tenhas podido/pudesses) - diferenca pragmatica (o imperfeito do conjuntivo e marcado, mais expressivo do que o preterito do conjuntivo) 95 SINTAXE DA LÍNGUA PORTUGUESA Tipo 1B____________________________F1_Presente (Lamento)_______ F a F 1 anterior anterior (tivesses podido vir á festa I que náo tenhas podido). - diferenca temporal (o mais-que-perfeito do conjuntivo usa-se para exprimir uma proposicáo mais afastada do presente do que o pretérito do conjuntivo, o qual exprime, ante suma proposicáo passada iminente.) No segundo tipo (2A e 2B), o predicador da oracáo principál ocorre no pretérito do indicativo ou no futuro passado (condicional), sendo o predicador da oracáo subordinada utilizado, de acordo com a relacáo temporal entre as duas fra-ses, no conjuntivo do imperfeito (que, neste tipo de periodo, exprime a relacáo temporal de simultaneidade ou de posterioridade) ou no conjuntivo do pretérito perfeito composto (que exprime a relacáo temporal de anterioridade). Lamentava que náo pudesse vir á festa. (tipo: 2A) Lamentava que náo tivessepodido vir á festa. (tipo 2B). Náo se pode confundir o caso de 2A com 2B. Enquanto a proposicáo da frase 2A é temporalmente localizada no momento paralelo, eventualmente, posterior ao do predicador da oracáo principál, a proposicáo da frase 2B é localizada no momento anterior ao do predicador da frase principál. Contrariamente aos casos de 1A e 1B, contudo, a proposicáo da oracáo principál é localizada fora do momento presente, como mostram os seguintes esquemas: Tipo 2A------------------------F1=(Lamentava)------------------------Presente p 2 p 2 simultáneo posterior (que náo pudesses vir á festa.) Tipo 2B-------------------------------F1=(Lamentava)---------------Presente F 2 anterior (que náo tivesse vindo á festa). É de realcar que a interpretacáo temporal do conjuntivo do imperfeito é polivalente: em 1B, o conjuntivo do imperfeito exprime a relacáo temporal de anterioridade, enquanto que em 2 A, exprime a relacáo temporal de simultaneidade, eventualmente, posterioridade: 96 5. PERÍODO COMPOSTO Tipo IB__________________________F1_Presente (Lamento)_______ F 2 anterior (que ndo pudesses vir dfesta). Tipo 2A------------------------¥1=(Lamentava)------------------------Presente p 2 p 2 simultaneo posterior (que ndo pudesses vir dfesta.) 5.3.1.3. Oraqoes completivas nao fin Has No que respeita a sua forma, as oracoes completivas podem ser tambem reduzi-das por infinitivo flexionado ou nao flexionado, tanto na forma simples como composta. O infinitivo simples em ambos os tipos (tanto flexionado como nao flexionado) exprime a relacao temporal de simultaneidade ou posterioridade, enquanto o infinitivo composto sempre exprime a relacao temporal de anteriori-dade. O infinitivo pode substituir o verbo finito tanto no modo indicativo como no modo conjuntivo, de acordo com o seguinte quadro de compatibilidade temporal. O factor mais decisivo, neste caso, nao e o tempo do predicador da oracao principal, como no caso das oracoes completivas finitas, mas sim, a relacao temporal que existe entre F1 e F2. oracao F1 oracao F2 finita subordinante subordinada A relacao temporal entre F1 e F2: simultaneidade ou posterioridade infinitivo simples B relacao temporal entre F1 e F2: anterioridade infinitivo composto De acordo com este quadro mencionamos os seguintes exemplos de reducáo: Caso A: simultaneidade/posterioridade O Jodo garante que tem/vai ter dinheiro para pagar as dividas. O Jodo garante ter dinheiro para pagar as dividas. Lamento que as criancas esteiam cansadas. Lamento (-) as criancas estarem cansadas. 97 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Lamentava que as criancas estivessem cansadas Lamentava (-) as criancas estarem cansadas. Caso B: anterioridade: O Joäo garantiulgarante que tivera/tinha tido dinheiro para pagar as dividas. O Joäo garantiulgarante (-) ter tido dinheiro para pagar as dividas. Lamentava que as criancas tivessem feito tanto barulho. Lamentava as criancas (-) ter em feito tanto barulho. As oracöes reduzidas de infinitivo flexionado ou näo flexionado, podem desem-penhar várias funcöes na oracäo subordinante, de igual modo como as oracöes finitas. Quando o sujeito das oracöes subordinada e subordinante säo correfe-rentes, ou quando a oracäo subordinante tem um predicador impessoal, utiliza--se o infinitivo näo flexionado256. Quando os dois sujeitos remetem, cada um, para um referente diferente, utiliza-se o infinitivo flexionado.257 Apresentam-se estas funcöes, de uma forma sucinta, a seguir, dando um exem-plo com o infinitivo flexionado e um com o infinitivo näo flexionado:258 • sujeito: Agrada-me ver-te feliz.l Aconteceu a Maria fazer anos naquele dia. • complemento directo: Afirmou ter agido correctamente./Afirmou ele ter agido mal. • complemento obliquo. Convenceu-me a estudar.l Concordei em fazermos tudo juntos. • complemento nominal: Tinha a ideia de convidar o Joäo para o jantar./ Tinha a ideia de convidarmos o Joäo para a festa. • complemento adjectival: Ficaram orgulhosos de ganhar o prémio.l Fiquei orgulhosa de o meufiho ganhar o prémio. • predicativo do sujeito259: As criancas saíram a chorar. O nosso desejo é tu estu-dares mais. • predicativo do complemento directo260: Vi o professor a beber cerveja. Encon-trei-os afumar. 256 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 449, 453, 456, 458, 824-825). 257 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 440, 455, 725, 852). 258 Gramática do Portugués (2013: 1916). 259 Este infinitivo é denominado também como infinitivo gerundivo e aproxima-se das oracöes relativas. Dai, este tipo de subordinacäo também ser chamado oracäo pseudo-relativa. 260 Idem, ibidem. 98 5. PERÍODO COMPOSTO As construcöes infinitivas podem ser, também, nominalizadas, como se vé no seguinte exemplo: O ele ter tantos deveres, preocupa-me imenso. O Carlos nunca me perdoou eu ter mentido. 5.3.1.3.1. Tempo dependente e tempo independente Embora o uso do infinitivo flexionado, em muitos casos, seja facultativo, náo pode ocorrer livremente em todas as construccöes. Um dos factores decisivos é, também, o estatuto temporal da frase subordinada. Há oracöes completivas tem-poralmente dependentes e completivas temporalmente independentes do tempo da frase subordinante. No primeiro dos casos, as duas oracöes (principal e subordinada) formám um domínio semanticamente temporalizado. A oracäo subordinada tem um tempo dependente261 da subordinante, facto pelo que o uso do infinitivo se limita ao uso do infinitivo näo flexionado: O Joäo quis ir com a Maria ao cinema. Já no segundo caso, o uso do infinitivo flexionado näo apresenta nenhumas restricöes děste género, uma vez que näo constitui um domínio semanticamente temporalizado, tendo tempo independente.262 Assim säo possíveis construcöes como: O Joäo afirma a Maria ter ido com ele ao cinema. Outro factor que interfere na seleccäo do infinitivo da completiva, é o factor estilístico. De facto, mesmo no caso de a oracäo subordinada ter urn tempo independente, nem sempře os locutores optam pela oracäo näo finita. Pelos vistos, há diferencas estilísticas que se prendem com o uso facultativo e intuitivo de cada falante nativo portugués. Prévios estudos que fizemos sinalizam urn comporta-mento heterogéneo no que respeita as preferéncias individuals. Alguns falantes consideram o uso do infinitivo flexionado mais frequente mas menos correcto na linguagem. 261 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 626, 629-630). 262 Idem, ibidem. 99 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA 5.3.1.3.2. Ordern de palavras nas completivas näo fin i tas Nas oracöes completivas com infinitivo flexionado, nem sempře é possível man-ter a ordern canónica do sujeito - predicado - complemento. Um dos factores decisivos que interferem na organizacäo frásica é a funcáo sintáctica das completivas. O sujeito das oracöes completivas pode ocorrer em posicáo pré-verbal quando desempenha as seguintes funcöes sintácticas:263 • de sujeito: Surpreendeu-me os miúdos térem feito todos os trabalhos de casa. • de objecto directo (sendo seleccionadas por verbos factivos avaliativos): O professor criticou os alunos näo térem feito todos os trabalhos de casa. • de complemento oblíquo: Estou felizpor os meusfilhos térem passado nos exames. Pelo contrario, o sujeito das completivas ocorre em posicáo pós-verbal, quando as completivas sáo seleccionadas por verbos epistémicos e declarativos. Nestes casos, a ordern canónica näo é admitida e o sujeito ocorre imediatamente a seguir ao verbo:264 O secretário-geral afirma ser esta ultima hipótese «a solucäo mais limpa. Ojúri anunciou näo preencherem trés candidatos as condicöes legalmentefixadas. 5.3.2. Oracöes relativas As oracöes adjectivas265, denominadas de acordo com a terminológia actual como relativas266, sáo oracöes subordinadas tradicionalmente introduzidas pelos seguintes constituintes relativos: que, o que, quem, o qual, cujo, quanto. Na oracäo subordinante substituem um modificador de uma expressäo nominal antecedente, como mostra o seguinte esquema que tém o antecedente explícito: F+ SN SV D N + pr.relativo F- V + Pr A notícia <— que me disseste agradou-me. (sujeito) + (oracäo relativa) + ( predicado) 263 Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 627). 264 Idem, ibidem. 265 Kury (2002: 78); Cunha, Cintra (1999: 598-600). 266 Gramática do Portugués (2013: 2061); Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 655). 100 5. PERÍODO COMPOSTO As orales relativas com antecedente nominal explícito säo de dois tipos: restritivas (determinativas)267 e explicativas (apositivas ou näo restritivas)268. Orales relativas restritivas ou determinativas contribuem para a construcäo do valor referencial da expressäo nominal, restringindo o domínio dos possíveis referentes só áquele que condiz com as propriedades descritas na frase relativa, como mostra o seguinte exemplo: Aos alunos que assistiram á palestra de Fátima OHveira em Pram, seräopagos os custos de viagem. Neste exemplo a informacäo implicitamente veiculada é que de todos os alunos só aqueles que foram a Praga para assistir ä palestra de Fátima Oliveira, rece-beráo o dinheiro para a viagem. Näo se podem confundir as oracöes relativas com as oracöes completivas. As oracöes subordinadas relativas restringem o domínio de referéncia da expressäo nominal antecedente, enquanto que as oracöes completivas integram o sentido do predicador da oracäo subordinante, sendo imprescindiveis para a boa forma-cäo semäntica da frase. A ideia que me descreveste é interessante (oracäo relativa). A ideia de organizares o festival Dias da Cultura Portuguesa, agradou-me. (oracäo completiva) As oracöes apositivas ou explicativas que exprimem um comentário do locu-tor relativo ao seu antecedente, tém um carácter parentético, dado na oralidade por pausas e na escrita por vírgulas. Pelo seu carácter, aproximam-se das oracöes coordenadas interferentes/hospedeiras, mas diferem delas pela pela presenca do constituinte relativo (que, o qual, quem). Lisboa, que é a capital de Portugal é uma cidade onde a "Africa" comeca. Dentro děste tipo de oracöes encontram-se as que säo introduzidas pela locu-cäo pronominal relativa o que. Estas frases säo relativamente independentes e podem ser separadas no texto. 267 Gramática do Portugués (2013: 2068); Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 655), Cunha, Cintra (1999: 599); Kury (2002: 78). 268 Gramática do Portugués (2013: 2068); Gramática da Lingua Portuguesa (2003: 671), Cunha, Cintra (1999: 600); Kury (2002: 79). 101 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA A peca teatral de ontem comecou tarde, o que desagradou ao publico. A peca teatral de ontem comecou tarde. Isso desagradou ao publico. As oracöes relativas livres269 säo as oracöes relativas introduzidas pelos pro-nomes relativas quem e o que e pelas pro- formas relativas, onde, como e quando, de natureza adverbial, que veiculam valores semänticos particulares de lugar, modo e tempo e säo utilizadas como parafrase de apessoa que, coisa que, lugar em que, o tempo que, a maneira que. O antecedente destas prö-formas relativas esta, portanto, implicito, mas foneticamente näo representado. Eu elogio alguem que ajuda ospobres na miseria Eu elogio quern ajuda os pobres na miseria. Fui aonde elesforam. Fui ao lugar (sitio) a que elesforam. Aprendi afazer oflan de chocolate como a minha avöfazia. Aprendi afazer oflan da mesma maneira (do mesmo modo) que a minha avö ofazia. Quando estive em Paris, foi o periodo maisfeliz da minha vida. O tempo (o periodo) durante o qual estive em Paris, foi o mais feliz da minha vida. Em todas as frases acima indicadas, existe urn antecedente implicito. Uma vez que näo e foneticamente representado, a interpretacäo sintactica destas frases näo e, contudo, homogenea. Na tradicäo luso-brasileira, estas frases säo interpretadas ou como substantias (no caso de serem introduzidas por quem e que), como vimos no capitulo anterior (oracöes completivas subjectiva e objec-tivas). As oracöes relativas podem fazer parte das estruturas clivadas270 introduzidas por urn pronome relativo, como mostram os seguintes exemplos: Foi o queijo que o corvo comeu. Foi urn acidente que eles viram ontem. O que e que ele respondeu? 269 Gramätica da Lingua Portuguesa (2003: 675). 270 Gramätica da Lingua Portuguesa (2003: 685). 102 5. PERÍODO COMPOSTO A quem é que děste o livro? Onde é que o corvo comeu o queiio. 5.3.2.1.0 modo e os tempos nas oracöes relativas Quanto ao uso do modo nas frases subordinadas relativas, nem sempře a moda-lidade de dictum é relacionada directamente com a modalidade de ré. Por isso, estes períodos säo denominados, pelos romanistas praguenses, como períodos indirectamente modais. Existe, contudo, uma relacäo directa entre o referente do antecedente explícito e a modalidade de ré. Assim, as oracöes relativas oco-rrem com o modo indicativo (quando o referente é real/factual) ou com o con-juntivo (quando o referente é hipotético). O uso dos tempos verbais nas oracöes relativas é submetido äs mesmas regras de consecutio temporum (dependéncia verbal) como nas completivas com a única diferenca que consiste, como veremos, na ocorréncia do futuro do conjuntivo. Caso o referente seja concreto e real, é utilizado o modo indicativo. Assim, nas seguintes frases a), b), c), o referente depessoas é concreto, factual, pelo que tam-bém o verbo exprime uma proposicäo factual. Nestes períodos säo respeitadas as regras de compatibilidade temporal seguintes: Quando os verbos da oracäo subordinante do discurso indirecto säo em qualquer tempo de pretérito (salvo o pretérito perfeito composto), as dependéncias temporais afectam gramaticalmente os predicadores da frase completiva do seguinte modo: a) Os verbos no presente passam a pretérito imperfeito: Ex. Havia pessoas que comiam caracóis. b) Os verbos no pretérito perfeito passam a pretérito mais-que-perfeito: Ex. Havia pessoas que viram/tinham visto o acidente. c) Os verbos no futuro do presente futuro do pretérito (condicional). Ex. Haveria pessoas que iriam ao museu. Caso a oracäo relativa desenvolver um sintagma nominal cujo referente seja hipotético, ocorre nela o modo conjuntivo. Contrariamente äs completivas, é possível utilizar o futuro do conjuntivo para exprimir a existéncia de um possível referente no futuro. 5.3.2.2. Consecutio temporum Nas oracöes completivas com conjuntivo, há dois factores mais importantes que determinaräo o tempo gramatical verbal do predicador da oracäo completiva: 103 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA • o tempo em que se encontra o predicador da oracäo principál F1. • a relacäo temporal que existe entre a oracäo principál e a subordinada. Esta pode ser de trés tipos: simultaneidade, posterioridade e anterioridade. Dividimos este tipo de periodos em dois tipos como mostra o seguinte quadro: oracäo subordinante F1 modo: indicativo/ imperativo oracäo subordinada F2 finita modo: conjuntivo 1 presente do indicativo futuro do presente imperativo pretérito perfeito composto 1A relacäo temporal entre F1 F2: posterioridade futuro do conjuntivo 1B relacäo temporal entre F1 F2: simultaneidade presente do conjuntivo IC relacäo temporal entre F1 F2: anterioridade pretérito do conjuntivo imperfeito do conjuntivo 2 tempos pretéritos (salvo PPC) futuro do passado (condicional) 2A relacäo temporal entre F1 F2: simultaneidade ou posterioridade imperfeito do conjuntivo 2B relacäo temporal entre F1 F2: anterioridade mais-que-perfeito do conjuntivo O modo conjuntivo ocorre sempře que o antecedente da oracáo relativa seja: • indefinido ou indeterminado (náo se sabe se a entidade referida existe ou náo é possível identificá-la): 1A Compra o perfume que quiseres. 1B Precisamos de uma secretária que fale húngaro. 1C Há aqui alguém que tenha visto/visse a Ana? 2A Estava lá alguém que te pudesse ajudar? 2B Estava ali alguém que tivesse visto o acidente? • negativo (para se referir a uma entidade que náo existe): 1A Náo voufazer nada mais do queforpreciso. 1B Náo conheco ninguém que fale húngaro. 1C Náo está aqui ninguém que tenha lido llesse o livro? 104 5. PERÍODO COMPOSTO 2A Näo estava lä ninguem que te pudesse ajudar? 2B Näo estava all alguem que tivesse visto o acidente. • implicito (relativas livres): ha quem, näofalta quem, encontra-se quem. 1A Seja bemvindo quem vierpor bem. 1B Näofalta quem me ajude IC Havia quem tenha ido /fasse ä Äfrica. 2A Näo faltava quem me ajudasse? 2B Havia quem tivesse comido percebes. 5.3.2.3. Oracöes relativas reduzidas/pseudo-relativas As oracöes relativas podem ser näo finitas, reduzidas por infinitivo, por geründio ou por participio. As oracöes relativas com o infinitivo säo interpretadas, por alguns linguistas, como oracöes pseudo-relativas, ou ate como oracöes completi-vas com infinitivo gerundivo. Säo exemplos das oracöes relativas reduzidas os seguintes casos: Vi criancas a jogar futebol. Vi criancas que jogavam futebol. Ouvi um grupo de mulheres cantando. Ouvi um grupo de mulheres que cantavam. (relativa infinitivo) (relativa gerundiva) Quanto as oracóes reduzidas de participio, alguns lingistas defendem a teoria de que o participio, pelo seu valor adjectivo, deve analisar-se como simples adjunto adnominal (atributo ou moificador), uma vez que náo tem o sujeito pró-prio. Outros linguistas, porém, defendem a ideia de o participio ser capaz de reduzir a oracáo subordinada adjectiva: mesmo que persista a falta do sujeito, é mais acentuado o valor verbal do participio, o qual se acentua pela possibilidade de usar o verbo auxiliar eliptico:271 Pus as rosas brancas, trazidas pelo Toáo dos monies, najarra. (relativa participial) Pus as rosas brancas, queforam trazidas pelo Toáo dos monies, najarra. (relativa participial) Pus as rosas brancas, que o Toáo trouxe dos monies, najarra. 271 Kury (2002: 81-82). 105 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA 5.3.3. Oracöes adverbiais A subordinacäo adverbial consiste na relacäo hipotáctica entre o predicador da oracäo subordinante e uma expressäo adverbial na oracäo subordinante seja ela um sintagma adverbial seja uma oracäo subordinada, como podemos observar no seguinte diagrama: SN SV A D N V Sadv/F Adv Eles chegaram ä uma hora/ quando estávamos a almoqar (sujeito) (predicado) (adjunto adverbial) O leque de valores semanticos circunstanciais que as oracoes adverbiais (ou circunstanciais) exprimem, e muito vasto. A tradicao gramatical distingue, normalmente, sete tipos de oracoes adverbiais: temporais, causais, finais, condicionais, concessivas, conformativas e pro-porcionais que podem ter tanto a forma finita como a nao finita. A diversidade semantica destas oracoes, contudo, e muito maior. Na seguinte lista das oracoes adverbiais apresentamos as diferentes classes semanticas, que foram actualizadas pela Gramatica do Portugues (2013)272. tipo de oracáo adverbial de acordo com a classe semantica exemplo oracoes comparativas Elefalou táo baixinho que ninguém ouviu nada. oracoes temporais Come do bolo antes que se acabe. oracoes causais e explicativas Ofilho está felizporque recebeu dopai um carrinho. oracoes Abrimos a janela para arejar a sala. oracoes concessivas Embora estivesse doente, ajudou-me no trabalho. oracoes condicionais Caso te atrases, avisa-me. oracoes de circunstáncia negativa Saí sem que me despedisse. 272 Gramática do Portugués (2013: 1982-1986). 106 5. PERÍODO COMPOSTO oracöes de modo (relativa livre) Preparei tudo como mepediste. oracöes de lugar (relativa livre) Fui (a)onde elesforam. oracöes conformativas Segundo a polícia está tudo em ordem. oracöes de comentário Como é sabido, o portugués é uma lingua mundial. oracöes contrastivas Enquanto o Martinho é louro, o Tomáš é moreno. oracöes contrapositivas Elefoi a pé quando pódia ter apanhado um taxi. oracöes substitutivas Em vez de ele irpara escola,foi ao ZOO. oracöes acrescentativas Para além de saberfalarportugués, esta senhora sabefalar chinés. As oracöes subordinadas adverbiais näo säo semanticamente seleccionadas pelo predicador da oracäo subordinante. Funcionam como termos acessórios do predicado da oracäo principal e podem ser facilmente omitidas. As oracöes subordinadas adverbiais tém muita liberdade de mobilidade dentro do periodo. Algumas oracöes adverbiais podem ocorrer, também, entre o sujeito e o predicado da oracäo subordinante. Neste caso, säo separadas do resto do periodo por vírgulas, como mostram os seguintes casos: A Fátima, quando chegou a casa,foi dar comida ao cäo. O Tiago, apesar de estar a chover, saiu. Os alunos, se estudarem mais, teräo melhores notas. A avó, para conseguir dormir tornou um comprimido. Quanto ao uso do modo, nem sempře o modo verbal da oracäo subordinada se prende directamente com a modalidade da oracäo principal. Por isso, estes perio-dos säo denominados, pelos romanistas praguenses, como periodos indirecta-mente modais.273 Em cada tipo de oracäo subordinada apresentam-se compati-bilidades modais e temporais diferentes. 5.3.3.1. Oracöes comparativas, consecutivas e proporcionais Embora, de acordo com as concepcöes modernas, estas frases sejam tratadas separadamente das trés subordinates, no nosso livro seguiremos a classificacäo tradicional e inclui-las-emos na subordinacäo adverbial.274 Estas oracöes equivalem, tradicionalmente, a um adjundo adverbial de compa-racäo e servem para exprimir o grau que pode ser medido por uma escala de natureza muito diversa, a qual pode ter uma dimensäo fisica, de comprimento, psicológica, de beleza, de interesse, de importäncia, de velocidade, de habilida- 273 Zavadil, Čermák (2010: 260). 274 Gramática do Portugués (2013: 1983-1994). 107 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA des, etc. As oracöes comparativas indicam que um grau é superior, inferior ou igual ao outro, sendo designadas, respetivamente, por oracöes comparativas de superioridade, de inferioridade ou de igualdade. O tipo do grau é indicado pelos opreradores comparativos, aos quais pertencem os seguintes: mais do que, menos do que, täo...como, tanto+N...como, tanto quanto: Ele gastou tanto dinheiro quanto ganhara. (igualdade) Ele gastou menos dinheiro do que a mäe Ihe dera. (inferioridade) Ele gastou mais dinheiro do que ganhara. (superioridade) Äs oracöes comparativas pertencem também outras construcöes comparativas, mas que näo manifestam as mesmas propriedades, uma vez que näo incluem a comparacäo de graus. É o caso das chamadas construcöes pseudocomparati-vas275 que se aproximam äs oracöes relativas livres e que säo denominadas tradi-cionalmente, como comparativas assimilativas - sendo que exprimem uma semelhanca. Estas oracöes säo as únicas deste grupo que tém o verbo no modo do imperfeito do conjuntivo: O Paulo jala francos como se fosse umfalante nativo. Tratam-me como se fosse umfilho deles. Fala como se entendesse o assunto. Do ponto de vista semäntico, estas construcöes implicam, muitas vezeš, uma consequéncia da quantidade da proposicäo da oracäo subordinante, equivalendo, portanto, a um adjunto adverbial de consequéncia. Estas oracöes säo denominadas comparativas consecutivas. Observe-se o seguinte exemplo: Ele gastou tanto dinheiro queficou sem cheta. A este tipo de construcöes pertencem, também, as oracöes designadas, tradicio-nalmente, comparativas proporcionais correlatas, ou, de acordo com a terminológia actual, comparativas correlativas. Estas estruturas envolvem igualmente urna quantiŕicacäo, quer na oracäo subordinada, quer na oracäo principal. Ocorre nelas tipicamente o modo indicativo que reflecte o carácter factual das proposicöes. O único caso onde aparece o conjuntivo constituem as f rases pseudocomparativas. Estas oracöes näo podem ser deslocadas no periodo, sendo a seguinte constru-cäo a única que é gramaticalmente correcta: 275 Gramática do Portugués (2013: 1983-1994). 108 5. PERÍODO COMPOSTO Ouanto maisfalo com ele, mais triste fico. Ouanto menos os vejo, mais vergonta tenho de Ihes telefonar. Ouanto maisfalo, menos vontade tenho de escrever. Ouanto menos trabalho, menos dinheiro recebo. 5.3.3.2. Oraqöes temporals As oracöes temporais equivalem a um adjunto adverbial de tempo, exprimindo diferentes relacöes temporais relativamente ä oracäo subordinante: o de anterio-ridade, posterioridade, sobreposicäo, incoativa, repeticäo, simultaneidade, ter-mino, progresso gradual, etc.276 Podem ser finitas ou näo finitas, sendo possivel a reducäo por meio do infinitivo, geründio e de participio. A relacäo de anterioridade e expressa pelo complementador antes de + infinitivo flexionado ou näo flexionado, ou antes que + conjuntivo. Nas construcöes com o infintivo, e obrigatoriamente utilizado o infinitivo flexionado caso os sujeitos näo sejam correferentes. No caso oposto, e possivel uti-lizar o infinitivo näo flexionado, embora com menor frequencia. Na construcäo antes que + conjuntivo, esta implicito tanto o valor contrafactual como factual. E gramaticalmente incorrecto utilizar o indicativo para exprimir o valor factual, que o evento da oracäo subordinada se realizou. Quanto ä depen-dencia temporal, säo seguidas as seguintes compatibilidades: frase principal antes que +F Come/comerá o bolo antes que se acabe presente/futuro conjuntivo do presente Comeu o bolo antes que se acabasse. pretérito conjuntivo do imperfeito Pedro, come do bolo antes que se acabe. O Pedro queria comer o bolo antes que se acabasse. O Pedro queria ter comido o bolo antes que ele tivesse acabado. A relacáo de anterioridade também pode ser expressa por quando+indicativo. Ás vezeš, a interpretacáo temporal de anterioridade destas oracóes depreendem-se da logica e do nosso conhecimento do mundo._ Ouando construíram a nova ponte, contrataram arquitectos de grande formato. 276 Gramática do Portugués (2013: 1983-1995). 109 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA No caso das adverbiais introduzidas por quando e de carácter hipotético, ocorre o modo conjuntivo. Estas frases encontram-se, tipicamente, em posicáo iniciál, mas admitem também, facilmente, a posicáo final. quando +F frase principal Quando o Rui melhorar a Maria vai visitá-lo. conjuntivo do futuro presente/futuro frase principal quando +F A Maria queria visitar o Rui. quando ele melhorasse. pretérito /imperfeito do indicativo conjuntivo do imperfeito A relacáo de posterioridade é expressa pelo complementador depois de + infi-nitivo flexionado ou náo flexionado, ou depois que + indicativo, sendo, geral-mente, preferida a construcáo com o infinitive Tal como no caso anterior, nas construcóes com o infinitivo, é obrigatório utilizar o infinitivo flexionado caso os sujeitos náo sejam co-referentes. No caso oposto, é possível utilizar o infinitivo náo flexionado, embora náo seja preferfvel. As oracóes introduzidas por logo, assim que e mal exprimem uma relacáo de posterioridade imediata e normalmente tém um carácter pontual, excluindo a pos-sibilidade de combinar estas locucóes com verbos que exprimem processos ou esta-dos. Nestas oracóes subordinadas, o modo verbal seleccionado corresponde á dico-tomia do real versus hipotético, sendo as proposicóes reais relacionadas com o passado e presente expressas pelo indicativo, como mostram os seguintes casos: Assim que cheguei a casa, telefonei-lhe. + real Logo que a situacáo o permitiu, saimos do pais. + real As proposicóes hipotéticas que podiam, hipoteticamente, ter ocorrido no passado ou podem ocorrer, hipoteticamente, no presente ou no futuro, sáo expressas pelo conjuntivo, de acordo com o seguinte quadro de restricáo de compatibili-dade temporal: assim que +F frase principal Assim que chegar a casa telefono-te/telefonar-te-ei/vou telefonar-te conjuntivo do futuro presente/futuro 110 5. PERIODO COMPOSTO frase principal assim que +F Queria telefonar-lhe assim que chegasse para casa imperfeito do indicativo conjuntivo do imperfeito A relacao de sobreposicao277 encontra-se expressa, nas oracoes subordinadas introduzidas pela construcao ao+infinitivo, implicando tanto a sobreposicao temporal (total ou parcial) como contiguidade temporal entre as proposicoes das duas oracoes. Nalguns casos, estas oracoes exprimem tambem e sequencia de eventos pontuais imediatamente seguidos. Devido ao seu caracter pontual e de sequencia imediata, estas oracoes nao ocorrem com o infinitivo composto nem com predicados estativos, contraria-mente ao que ocorre nas oracoes temporais introduzidas por quando. *Ao estar em Portugal, visitei os meus amigos no Porto. Quando estava/estive em Portugal, visitei os meus amigos no Porto. No que ao uso do infinitivo composto nestas construcoes diz respeito, ha casos menos comuns destas ocorrencias, adquirindo a oracao um sentido causal, o que nem sempre e possivel, como mostram as seguintes frases:278 Ao chegar a casa, fui regar asplantas. (sequencia temporal) A.o ter chegado a casa, fui regar as plantas (nao hd relacao causal) Ao ter aberto a caixa. Pandora libertou os males do mundo. (+relacao causal) Ao ser tdo arrogante, o Ze afasta todos os amigos. (+relacao causal) Ao nao responder a questdo, o ministro tornou clara a sua posicdo. (+relacao causal) Quanto a estrutura argumental do predicador das oracoes com ao+ infinitivo, normalmente, o sujeito nao se encontra expresso, porque, como se ve nos casos acima indicados, tipicamente, os sujeitos das duas oracoes (subordinada e principal), sao co-referentes. No entanto, quando os dois sujeitos nao o sao, ou pode ser utilizado o infinitivo flexionado ou o sujeito se encontra em posicao pos-verbal, como ilustram os seguintes casos: Ao entrares no edificio, viras a esquerda. 277 Gramatica do Portugues (2013: 1997-1998). 278 Idem, ibidem. Ill SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Ao chegar o comboio, afilha correu logo ao encontro da máe. A relacáo de sobreposicáo ocorre também no caso das oracóes temporais intro-duzidas por quando, cuja interpretacáo temporal se depreende da logica e do nosso conhecimento do mundo.279 Quando construíram a nova ponte, usaram materials de má qualidade. A sobreposicáo também pode ser expressa nas oracóes subordinadas introduzi-das por enquanto, as quais podem localizar a proposicáo da oracáo principal de dois modos diferentes: ou dentro do tempo em que ocorreu a proposicáo da oracáo subordinada ou numa relacáo concomitante, como mostram os seguintes casos: Enquanto o Pedro estava a lero iornal a Ana chegou. Enquanto eu estava a ler, a Maria estava a tocarpiano. A relacáo incoativa280 ocorre entre duas oracóes unidas por desde que+indica-tivo, locucáo essa que localiza temporalmente a situacáo da oracáo principal no momento iniciál, expresso pela oracáo subordinada. Neste tipo de periodo, exis-tem certas restricóes semánticas, no que á interpretacáo aspectual diz respeito. A oracáo subordinada só pode marcar o início de uma oracáo principal, cuja natureza aspectual seja durativa. Quando a oracáo subordinada marca o momento iniciál de uma subordinante cuja proposicáo implica iteratividade de uma accáo que atinge o momento pre-sente, é muito frequente o uso do presente ou do pretérito composto do indicative, como mostram os seguintes casos: Desde que o bebé nasceu, náo temos dormido nada. O bebé chorá desde que a máe saiu. Quando estas oracóes temporais se encontram em posicáo iniciál, as oracóes principais podem ser também introduzidas pela partícula que, como se ilustra no seguinte caso: Desde que comecou o veráo que o rio está assim. Desde que me levantei que me sinto adoentado. 279 Idem, ibidem. 280 Gramática do Portugués (2013: 2000-2001). 112 5. PERIODO COMPOSTO A relacäo cessativa registra-se em periodos, em que a oracäo subordinada temporal, introduzida por ate+infinitivo ou ate+que+conjuntivo,281 localiza tempo-ralmente a situacäo da oracäo principal num momento final de tempo. Tal como no caso anterior, o caracter aspectual da oracäo subordinada e pontual, enquanto que a natureza aspectual da oracäo principal e, logicamente, durativa ou iterativa (como e o caso de espirrar, por exemplo): Os meufilhos estudaram ate eu chegar. O Joäo espirrou ate sair de sola. Morreram muitas pessoas ate mudarem a sinalizacäo desta estrada. Como foi mencionado, a conjuncäo ate que e obrigatoriamente utilizada com o conjuntivo, de acordo com as seguintes regras de dependencia temporal: frase principal ate que +F Continuem no trabalho ate que vos deem novas instrugöes. indicativo (presente ou futuro)/imperativo presente do conjuntivo frase principal ate que +F Continuaram no trabalho ate que Ihe dessem novas instrugöes. preterito do indicativo conjuntivo de imperfeito Tal como no caso anterior, nas construcöes com o infinitivo, e obrigatörio uti-lizar o infinitivo flexionado caso os sujeitos näo sejam co-referentes. No caso oposto, e possivel utilizar o infinitivo näo flexionado, embora seja preferido o infinitivo flexionado. Trabalhou ateficar cansado. (sujeitos co-referentes) Trabalhou ate eles darem novas instrucöes. (sujeitos näo co-referentes) Quando nas duas oracöes existe o negador näo, a oracäo subordinada pode ser introduzida por enquanto «ao+conjuntivo, de acordo com o seguinte quadro: frase principal enquanto que +F Näo vou pagar o bilhete enquanto näo souber o preco. indicativo (presente ou futuro)/imperativo presente do conjuntivo 281 Idem, ibidem. 113 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA frase principal enquanto que +F Näo queria pagar o bilhete enquanto que näo soubesse opreco. imperfeito do indicativo imperfeito do conjuntivo A relacäo iterativa282 encontra-se nas oracóes onde ocorre a chamada quantifica-cäo temporal sobre situacôes que implica a natureza plural das situacôes. Estas oracóes säo introduzidas por quando+indicativo, sempre que, todas as vezes que, cada vez que+ indicativo e, ocorrem, muitas vezes, quando há uma correlacäo entre duas situacôes que acontecem com a mesma periodicidade, ou em construcôes genéricas: Quando uma crianca nao quer comer, e mau sinal. Sempre que vou a Portugal, visito a minha amiga Cristina. O Pedro canta a Cancao do Mar (de) cada vez que Ihepedem. A propriedade iterativa no caso anterior foi factual. No entanto, quando a natureza repetitiva for hipotética, ocorre o conjuntivo: Sempre que +F frase principal Sempre que quiseres, telefona-me. futuro do conjuntivo indicativo (presente/futuro) ou imperativo Sempre que +F frase principal Sempre que quisesse, podia telefonar-me. imperfeito do conjuntivo imperfeito (pretérito) de indicativo A funcäo narrativa283 é expressa por oracôes subordinadas introduzidas por até que, quando, relatando uma situacäo episódica que interrompe uma outra situacäo de carácter prolongado. Contrariamente aos períodos com a relacäo de sobreposicäo ou de anterioridade, o uso do modo indicativo também é possível. Estas construcôes säo predominantemente narrativas e correspondem a uma situacäo pontual que interrompe uma outra situacäo de carácter prolongado. Neste caso, a oracäo pode ser precedida de ponto final ou ponto e vírgula, tal como ilustram os seguintes casos: Ele estava a ler, quando subitamente rebentou uma trovoada. Pediu siléncio, outra vez, sem sucesso. Até que, j á desesperado, deu um berro na mesa. 282 Gramática do Portugués (2013: 2004). 283 Gramática do Portugués (2013: 2001). 114 5. PERIODO COMPOSTO A relacao proporcional temporal284 e estabelecida entre duas oracoes, quando a subordinada e introduzida por a medida que + conjuntivo/indicativo. O evento da oracao principal exprime a passagem gradual ou proporcional do tempo, ou con-comitancia temporal. Ao mesmo tempo, exprimem um aumento ou reducao de alguma proposicao, que ocorre paralelamente no mesmo sentido ou no sentido contrario ao aumento ou diminuicao da proposicao da subordinante. Nao e possi-vel, contudo, estabelecer a correlacao proporcional entre as medidas nao temporais. *A medida que o Jodo egrande, o Rui epequeno. A medida que ele aprendia portugues, ela esquecia tudo quanto tinha aprendido. Quanto ao modo verbal, a sua seleccao reflecte a dicotomia existente entre a situacao real (expressa pelo indicativo) e hipotetica (expressa pelo conjuntivo), como mostram as seguintes frases: A medida que nos aproximarmos da moeda unica,vai dizer-se muita coisa A medida que aumentam as queixas das empresas ocidentais sobre o mercado asidtico, os responsdveis governamentais tentam obter solucdes para a crise . No caso do uso do modo conjuntivo, tern que ser respeitada a compatibilidade modotemporal, descrita no seguinte quadro: A medida que +F frase principal A medida que nos aproximarmos da moeda unica vai dizer-se muita coisa futuro do conjuntivo indicativo (presente/futuro) ou imperativo A medida que +F frase principal A medida que nosfomos aproximando da moeda unica foi dita muita coisa. preterito do indicativo imperfeito (preterito) de indicativo 5333. Oracoes finals e resultativas As oracoes finals equivalem a um adjunto adverbial de fim, exprimindo uma fina-lidade ou um resultado da proposicao da oracao principal. Estas oracoes sao subdi-vididas em: oracoes adverbiais finals de evento, de enunciacao e resultativas.285 284 Gramatica do Portugues (2013: 2001-2004). 285 Kury (2002: 98-99). 115 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA As oracoes finais de evento286 sao introduzidas por conectores como para+ infinitivo owpara que+conjuntivo, afim de + infinitivo, afim de que + conjuntivo, com ofim de+infinitivo, de forma a que+ conjuntivo, de modo a que+ conjuntivo, de maneira que+ conjuntivo e designam a finalidade de uma determinada situacao, o que pressu-poe um argumento dotado de intencionalidade, com a funcao semantica de agente: O Pedro fechou ajanela da sola para todos poderem ouvir o professor. O Pedro fechou ajanela da sola para que todos pudessem ouvir o professor. O uso do conjuntivo corresponde, outra vez ao seguinte quadro de compatibi- lidade modo-temporal: frase principal para que +F Vou telefonar-lhe para quefaca o jantar. indicativo (presente ou futuro)/imperativo presente do conjuntivo frase principal para que +F Fui telefonar-lhe para quefizesse o jantar. pretérito do indicativo imperfeito do conjuntivo Os conectores de forma a que, de maneira a que, de modo a que á vezeš ocorrem sem a, embora com menor frequéncia. Por isso podem ser confundidas com as oracóes resultativas. Nas oracóes reduzidas de infinitivo, contudo, esta preposi-cáo é sempře conservada: Falou alto de modo (-) que todos ouvissem bem. Preparei toda a bagagem de modo a podermos sairjd . (oracao resultativa) As oracoes finais de enunciacao287 explicam a finalidade de um acto de fala, sendo orientadas para o falante ou para o ouvinte. Comportam-se, sintacticamente, como oracoes perifericas e nao como integradas e so admitem a segunda ou ter-ceira pessoa do verbo finito, ou a primeira pessoa do singular do verbo infinitivo. Para ser sincero, nao gostei do filme. Para que saibas, o Tiago estd internado. As oracoes resultativas ou as oracoes consequenciais288 exprimem um resul- 286 Gramatica do Portugues (2013: 2011). 287 Gramatica do Portugues (2013: 2001-2013). 288 Gramatica do Portugues (2013: 2014). 116 5. PERÍODO COMPOSTO tado, uma consequéncia (náo quantificada) da proposicáo da oracáo principál. Sáo introduzidas pela locucáo de forma que+ indicativo ou porque+ indicativo ou por+infinitivo. No caso dos conectores de forma que, de maneira que, de modo que, como foi acima referido, a preposicáo a nem sempře está presente nos conectores nas oracóes resultativas. O que é importante, contudo, é o uso do indicativo neste tipo de oracóes. Comparem-se as seguintes frases: Valou em voz alta de forma que todos perceberam tudo. (oracáo resultativa) Valou em voz alta de forma que todos percebessem tudo. (oracáo finál) Valou em voz alta de forma a que todos percebessem tudo. (oracáo finál) 5.3.3.4. Oracóes concessivas As oracóes concessivas equivalem a um adjunto adverbial de concessáo, indicando um obstáculo (real ou hipotético) que náo impede nem modifica o conteúdo proposicional da oracáo principál. Nas oracóes concessivas distinguimos as concessóes factuais e concessivas náo factuais, denominadas condicionais-concessivas.289 Apesar desta diver-sificada tipologia, sempře é usado o conjuntivo e nunca indicativo. frase principal embora +F Ela vai ajudar-me no trabalho embora esteja cansada. indicativo (presente ou futuro)/imperativo presente do conjuntivo frase principal embora +F Ela vai ajudar-me no trabalho embora tenha trabalhado muito hoje. indicativo (presente ou futuro)/imperativo c pretérito do conjuntivo frase principal embora +F Ela ajudou-me no trabalho embora estivesse cansada. pretérito do indicativo imperfeito do conjuntivo frase principal embora +F Ela ajudou-me no trabalho embora tivesse trabalhado muito naquele dia. pretérito do indicativo imperfeito do conjuntivo As oracóes concessivas factuais, introduzidas por embora, se bem que, ainda que+ conjuntivo, apesar de+ infinitivo, náo obstante + infinitivo encaram a situa-cáo descrita como verdadeira. Observe-se o seguinte exemplo:290 289 Kury (2002: 92). 290 Gramática do Portugués (2013: 2015-2017). 117 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Embora ela estivesse cansada, ajudou-me no trabalho. Se bem que ele nao saibafalar linguas estrangeiras, nao tern problemas quando viaja. Ainda que o professor nao estivesse na escola, tivemos aulas. Semanticamente, as oracoes concessivas aproximam-se das oracoes coordena-das adversativas, como se ve no seguinte exemplo: Embora ela estivesse cansada, ajudou-me no trabalho. Ela estava cansada mas ajudou-me no trabalho. Tal como acontece nas oracoes finais, tambem as oracoes concessivas podem modificar um acto de fala, sendo orientadas para o falante ou para o ouvinte. Embora nao queiras, tens que ir ao medico. Oracoes nao factuais envolvem uma relacao de condicionalidade. Ao contrario das oracoes concessiva factuais, a oracao subordinada e apresentada como hipo-tetica, facto, pelo que se aproximam das oracoes condicionais. As oracoes nao factuais implicam que a realizacao da situacao se realizara em quaisquer circus-tancias, como exemplificam as seguintes frases: Mesmo que chame a policia, nao vou pagar nada. Ainda que estivesse a chover, foram jogarfutebol ao campo relvado. frase principal mesmo que +F Ela vai ajudar-me no trabalho mesmo que esteja cansada. indicativo (presente ou futuro)/imperativo presente do conjuntivo frase principal mesmo que +F Ela vai ajudar-me no trabalho mesmo que tenha trabalhado muito naquele dia. indicativo (presente ou futuro)/imperativo preterito frase principal mesmo que +F Ela ajudou-me no trabalho mesmo que estivesse cansada. preterito do indicativo imperfeito do conjuntivo 118 5. PERÍODO COMPOSTO frase principal mesmo que +F Ela ajudou-me no trabalho mesmo que tivesse trabalhado muito naquele dia. pretérito do indicativo mais-que-perfeito do conjuntivo Estas oracoes podem ocorrer com os conectores como mesmo que, mesmo se, ainda que+ conjuntivo, como mostram os casos anteriores. Tambem e possivel exprimir a concessao nao factual por uma quantificacao universal ou a chamada construcao condicional concessiva escalar291, de acordo com as formulas abaixo mencionadas: Por + quantiricador + que + conjuntivo, + oracäo principal Por muito que me pegas, näo vou alterar a minha decisäo. Porpouco que seja, aceito a tua oferta. Porpouco que fosse, aceitei a tua oferta. Por + advérbio/adjectivo + que + conjuntivo, + oracäo principal Por muito cansado que esteja, nunca dorme. Por pior que esteja o tempo, saimos. Por muito tarde que chegasses, devias ligar-me. Por + quantiricador + substantivo + que + conjuntivo, + oracäo principal Por mais dinheiro que me oferecam, näo vendo a casa. Por muitos livros que tenha, nunca os le. Por mais dinheiro que me oferecessem, näo vendi a casa. Por muitos livros que tivesse, nunca leu nada. Quem, a quem, de quem+ quer+ que + conjuntivo, + oracäo principal A quern quer que fale, ninguém o ouve. A quern quer que falasse, ninguém o ouviu. Onde, por onde, para onde+ quer+ que + conjuntivo, + oracäo principal Poronde quer que ele vä, sempře tropeca. Poronde quer que elefosse, sempře tropecava. 291 Gramática do Portugués (2013: 2019). 119 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA O que+ quer+ que + conjuntivo, + oracäo principal 0 que quer que eu diga, ninguém me ouve. 0 que quer que eu dissesse, ninguém me ouviu/ouvia. Quando+ quer+ que + conjuntivo, + oracäo principal Quando quer que voltes, telefona-me. Quando quer que voltasses, devias telefonar-me. Qualquer/quaisquer + que + conjuntivo, + oracäo principal Qualquer que seja a tua decisäo, vou respeitä-la. Qualquer que fosse a tua decisäo, sempře a respeitava. Conjuntivo do presente + (pr. relativo) + conjuntivo do pretérito Chegue a que horas chegar, .... Comas o que comeres, .... Estej a onde estiver, .... Facas o que fixeres, .... Ouca o que ouvires, .... Sejam quantos forem, .... Vá poronde for, .... Venha quem vier, .... Estas construcöes säo denominadas oracöes concessivas universais ou inten-sivas292. E para alem destas, existem tambem oracöes concessivas alternativas293, correspondentes äs seguintes estruturas coordenadas alternativas, de acordo com as seguintes formulas: Quer +(F) conjuntivo + quer näo +(F) conjuntivo, + oracäo principal Quer hajafinanciamento quer näo haja, realizar-se-ä o festival. Quer houvesse financiamento quer näo houvesse, o festival ia realizar-se. Quer houvesse financiamento quer näo houvesse, o festival realizar-se-ia. Quer +(F) conjuntivo + quer näo, + oracäo principal Quer queiras quer näo, tens que ir ao medico. Quer quisesse quer näo, tinha que ir ao medico. 292 Kury (2002: 93-94). 293 Gramática do Portugués (2013: 2019). 120 5. PERIODO COMPOSTO (F) conjuntivo, (F) conjuntivo, + oracao principal Seja em minha casa, seja na tua, temos quefestejar a vitoria. Fosse em minha casa, fosse na dele, tivemos quefestejar a vitoria. 5.3.3.5. Oraqoes condicionais As oracoes condicionais equivalem a um adjunto adverbial de condicao ou hipo-tese, exprimem condicao ou hipotese e sao introduzidas por um complementa-dor se, caso, ou por uma locucao conjuntiva desde que, a menos que, a nao ser que, dado que, contanto que, salvo se, quando, etc. A oracao condicional canonica encontra-se anteposta ou posposta a oracao principal. No primeiro caso, a posicao das oracoes condicionais e denominada protase294, no segundo caso, apodose295. As construcoes condicionais sao classificadas consoante a proposicao se tenha realizado, se realize no futuro ou nao se tenha realizado. Quando a proposicao se realizou, a condicao tern uma interpretacao factual ou real.296 Quando se podera vir a realizar no futuro, a condicao e hipotetica.297 Quando nao se realizou, a condicao tern uma interpretacao contrafactual ou irreal.298 As seguintes frases ilustram claramente a diferenca entre os tres tipos de oracoes condicionais: Se o Rui estava doente, a mäe telefonava-lhe todos os dias. Se o Rui estä doente, a mäe telefona-lhe todos os dias. Se o Rui estiver doente, a mäe telefonar-lhe-ä todos os tidas. Se o Rui estivesse doente, a mäe telefonar-lhe-ia todos os dias. II - II Se o Rui tivesse estado doente, a mäe ter-lhe-ia telefonado (factual/real) (factual/real) (hipotetica) (hipotetica) (contrafactual) (contrafactual) A combinacäo dos diferentes tempos e modos no periodo segue os seguintes quadros de compatibilidade formais: F+ F" oracäo subordinada condicional factual/real F" oracäo principal indicativo indicativo Se/caso o Rui estava doente, a mäe telefonava-lhe todos os dias. 294 Gramätica do Portugues (2013: 2020). 295 Idem, ibidem. 296 Idem, ibidem. 297 Idem, ibidem. 298 Idem, ibidem. 121 SINTAXE DA LÍNGUA PORTUGUESA F+ F~ oracáo subordinada condicional hipotética localizada no futuro F" oracáo principál Se+conjuntivo do futuro presente 1 futuro do indicativo Se/caso o Rui estiver doente, a máe telefonar-lhe-á todos os dias. F+ F" oracáo subordinada condicional hipotética localizada no presente F" oracáo principál Caso+conjuntivo do presente presente 1 futuro do indicativo Caso o Rui esteja doente, a máe vai telefonar-lhe todos os dias. F+ F" oracáo subordinada condicional hipotética no futuro F" oracáo principál Se+conjuntivo do imperfeito futuro dopassado (condicional) imperfeito do indicativo Se o Rui trouxesse o filme (á tarde), poderíamos vé-lo hoje á noite. podíamos vé-lo hoje á noite. F+ F" oracáo subordinada condicional contrafactual F" oracáo principál Se+conjuntivo do imperfeito futuro dopassado (condicional) imperfeito do indicativo Se o Rui estivesse doente, a máe telefonar-lhe-ia todos os dias. a máe telefonava-lhe todos os dias. F+ F" oracáo subordinada condicional contrafactual F" oracáo principál 122 5. PERIODO COMPOSTO Se+conjuntivo do mais-que-perfeito futuro dopassado composto (conditional composto) preterito mais-que-perfeito do indicativo eventualmente, imperfeito do indicativo conditional Se o Rui tivesse estado doente, a mäe ter-lhe-ia telefonado todos os dias. a mäe tinha-lhe telefonado todos os dias. a mäe telefonava-lhe todos os dias. a mäe telefonar-lhe-ia todos os dias. Existe um tipo de construcöes condicionais denominadas de condicäo neces-saria299. Säo construcöes introduzidas pelos conectores condicionais se, caso, no caso de, precedido de um adverbio de focalizacäo exclusiva, como so, somente e apenas, que pode ocorrer adjacente ao conector condicional ou integrar a oracäo principal, como exemplificam os seguintes casos: Vou perdoa-lo so se ele mepedir desculpa. So the empresto o carro, se conduzir devagar. Tal como nos casos anteriores, tambem no grupo das oracöes condicionais existem as que säo dirigidas ao falante ou ao ouvinte, sem influenciar o valor de verdade do conteüdo proposicional da oracäo principal. Estas estruturas de enunciacäo300 estäo ligadas ä oracäo principal, formalmente, da mesma maneira como as oracöes condicionais. Näo exprimem, porem, nenhuma condicäo ou hipötese. Funcionam antes como enquadradores discursivos (pragmaticos), sem os quais näo seria afectada a boa formacäo semäntica. O locutor näo se compro-mete em absoluto com a verdade do que diz: Se bem me lembro, o Joäo näo gosta de ervilhas. Se queres ouvir a minha opiniäo, näo gostei de ele se terportado assim. Se amanhä chover temos um outro programa. Alem dos tipos de condicionais acima apresentados, existem, ainda, as chama-das oracöes condicionais de cortesia301. Trata-se de formulas ritualizadas, com elevado grau de fixidez, que ocorrem basicamente na oralidade, como ilustram os seguintes casos: 299 Gramätica do Portugues (2013: 2023). 300 Gramätica do Portugues (2013: 2024). 301 Gramätica do Portugues (2013: 2024). 123 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA Se me per mite, vou dizer a minha opiniao. Vá a outra caixa, sefazfavor/se náo se importa. Quanto te custou este vestido?, se náo é um segredo. As oracóes subordinadas condicionais podem, ao mesmo tempo, ser reduzidas por infinitivo introduzido por A: A continuar a chover desta maneira, náo haverá piquenique. No grupo semántico das oracóes subordinadas condicionais encontra-se o periodo composto por coordenacáo em que a oracáo com interpretacáo condi-cional está sempře em posicáo iniciál do periodo, ocorrendo nela a inversáo de sujeito e predicado. As duas oracóes podem ser ligadas, facultativamente, pela conjuncáo aditiva e, como ilustram as seguintes frases: Soubesse eu quanto custava esse vestido, náo to pediria. Soubesse eu quanto custava esse vestido e náo to pediria. Também outros tipos de construcóes coordenadas podem implicar uma rela-cáo condicional, como, por exemplo: Náo comes a sopa e eu náo te levo ao cinema. =Se náo comeres a sopa, náo te levo ao cinema. 5.3.3.6. Oracóes de circunstáncia negativa As oracóes de circunstáncia negativa sáo introduzidas pela preposicáo sem que+-conjuntivo ou sem+infinitivo flexionado. Estas estruturas caracterizam-se por descreverem uma circunstáncia que náo teve lugar e respeitam as mesmas regras de compatibilidade temporal como as concessivas: frase principal sem que + F A minhafilha vai á discoteca sem que mepeca autorizacáo, indicativo (presente ou futuro)/imperativo presente do conjuntivo frase principal sem que + F A minha filha vai á discoteca sem que me pedisse/tenha pedido autorizacáo. indicativo (presente ou futuro)/imperativo pretérito/imperfeito do conjuntivo 124 5. PERÍODO COMPOSTO frase principal sem que + F Ela ajudou-me no trabalho sem que quisesse. pretérito do indicativo imperfeito do conjuntivo frase principal sem que + F Ela entregou-lhe a chave do escritório sem que tivesse pedido autorizacäo ao seu chefe. pretérito do indicativo imperfeito do conjuntivo 5.3.3.7. Oracöes de modo As oracöes de modo säo tradicionalmente consideradas como oracöes modais que equivalem a um adjunto adverbial de modo, exprimindo a maneira, o meio, pelo qual se realizou o a proposicäo da oracäo principal.302 De acordo com as teorias modernas, contudo, säo caracterizadas como relati-vas com o antecedente implicito (relativas livres). Estas oracöes säo introduzidas pelo conector como, o qual, implicitamente, contém o antecedente maneira. O Ruifez tudo como Ihe ensinaram. O Ruifez tudo do modo como Ihe ensinaram. 5.3.3.8. Oracöes de lug ar As oracöes de lugar, denominadas também como locativas, equivalem a urn complemento adverbial de lugar e säo introduzidas pelo advérbio locativo onde.303 Estas oracöes podem ser também analisadas como relativas livres, com o antecedente näo expresso, mas implicito (lugar que).304 Onde eu moro, toda a gente se conhece. No sitio em que eu moro, toda a gente se conhece. 5.3.3.9. Oracöes conformatívas e de comentário As oracöes conformativas e de comentário exprimem, por meio de um verbo episté-mico, que o falante e o ouvinte está envolvido no conteudo proposicional da oracäo principal. Säo introduzidas pelos conectores como, conforme, consoante e segundo. Nem todos tern, contudo, o mesmo comportamento sintáctico. Por exemplo, como näo se pode utilizar com a estrutura relativa o que: 302 Kury (2002: 100-102). 303 Kury (2002: 100). 304 Gramática do Portugués (2013: 2028-2029). 125 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA *Como o que sabes.... Segundo o que me disseram... As oracóes conformativas aproximam-se das oracóes comparativas, como mostra o seguinte exemplo.305 Cada um colhe conforme semeia. A menina era, como dizia o pai, muito mimosa. 5.3.3.10. Oraqóes contrastivas e contrapositivas As oracóes contrastivas e contrapositivas306 implicam um valor semántico de contraste ou de oposicáo. Sao introduzidas pelo conector enquanto (que) que per-deu o seu valor semántico temporal, e ao passo que. A oracáo introduzida por enquanto que pode ser tanto anteposta como posposta á oracáo subordinante, contrariamente as construcóes com ao passo que que dificilmente podem ser antepostas, como manifestam os seguintes exemplos. Enquanto que no portugués do Brasil o nome componente é do género mascu-lino, no portugués europeu é bigenérico. O André prefere café, ao passo que a Cristina gosta mais de chá. As oracóes com enquanto podem ter um valor tanto contrastivo como temporal. É aconselhável utilizar enquanto que no sentido contrastivo e separar a oracáo contrastiva da oracáo subordinante por vírgulas, como nos casos acima mencionados. As estruturas contrapositivas também podem ser introduzidas por quando náo podendo, neste caso, encontrar-se na posicáo iniciál: O Martim achou o livro aborrecido, quando na realidade é um livro interessan-tíssimo. 5.3.3.11. Oracóes substítutívas e acrescentatívas As oracóes substitutivas e acresentativas equivalem ao adjunto adverbial de troca ou de acréscimo. Sáo introduzidas por em vez de+infinitivo flexionado (no caso das oracóes substitutivas) e por (para) alem de + infinitivo flexionado (no caso das oracóes acrescentativas). 305 Gramática do Portugués (2013: 2025). 306 Gramática do Portugués (2013: 2029). 126 5. PERÍODO COMPOSTO Em vez de ele irpara a escola,foi aofutebol. Para alem de saber falar francés, é capaz de comunicar em chinés. 5.3.4. Oragöes reduzidas de particípio e de gerúndio As oracöes adverbiais podem ser reduzidas por infinitivo, particípio e gerúndio. Enquanto que mencionámos, ao longo do texto, construcöes reduzidas de infinitivo, incluímos, a parte da reducäo participial e gerundiva, num capítulo separado, por abrangerem um leque semäntico mais vasto, muitas vezeš näo unívoco. 5.3.4.1.Oracöes participiais As oracöes partícipiais tém a forma verbal no particípio pas sado e equivalem a um adjunto averbial. Estas frases säo acessórias e a sua omissäo näo afecta a boa formacäo semäntica do periodo. Encontra-se, predominantemente, em posicäo iniciál do periodo, sendo outras posicöes possíveis, mas näo täo naturais com a posicäo iniciál.307 Como se vé nos exemplos abaixo mencionados, a estrutura argumental das oracöes participiais é semelhante ä do verbo finito transitivo directo, ou seja, pode ter um sujeito e um objecto directo. Näo säo admitidas, no entanto, construcöes com clíticos, marcador adverbial de negacäo, verbos auxiliares ou semiauxiliares e sujeitos pronominais (ele, ela, tu...). Quando os referentes dos sujeitos das duas oracöes do mesmo periodo säo idénticos, o sujeito encontra-se expresso apenas na frase principal. Quando os dois sujeitos näo säo co-referentes, o sujeito da oracäo reduzida encontra-se em posicäo pós-verbal. Chegado o momento certo, disse-lhe a verdade. Caída em desuso, a festa do Corpo de Deusfoi retomada no Porto há uns anos. As oracöes participiais tém, tipicamente, uma interpretacäo temporal perfec-tiva, quando descrevem um evento concluído num intervalo de tempo anterior ao da oracäo principal. Näo podem ser reduzidas as oracöes adverbiais com pre-dicados aspectualmente atélicos como: Udo o livro, passeada pelo parque.308 307 Gramática do Portugués (2013: 2038). 308 Idem, ibidem. 127 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA As oracôes participias näo podem ser introduzidas por conjuncôes. Podem, contudo, ser iniciadas pelas locucóes uma vez e depois de:309 Depois de terminada a reuniäo, vamos tomar um café. As oracôes participiais podem reduzir trés tipos de oracôes subordinadas: con-cessivas (reforcadas por mesmo ou embora), condicionais e temporais, como ilus-tram os seguintes casos: Mesmo afastado o perigo, continuámos a ter medo. (concessivas) Lido o romance, perceberás tudo. (condicional) Cumprida a missäo no estrangeiro, o Daniel voltou para o seu pais, (temporal) 5.3A.2.0raqoes gerundivas As oracôes gerundivas, denominadas adverbiais gerundivas, ou podem substi-tuir urna oracäo relativa ou adverbial. Quando tém um valor de subordinacäo relativa, encontram-se sempře em posicäo iniciál. Já quando reduzem as oracôes adverbiais, encontram-se ou em posicäo iniciál ou em posicäo final.310 Quando ocorrem em posicäo iniciál, säo prosodicamente autónomas e säo designadas adverbiais gerundivas periféricas. No segundo caso, quando ocorrem em posicäo final näo säo antecedidas de pausa e säo designadas adverbiais gerundivas integrantes. A estrutura argumental do verbo no gerúndio näo é igual nas duas posicôes. Em posicäo iniciál, o gerúndio pode ter o sujeito expresso obrigatoriamente na posicäo pós-verbal (quando os sujeitos do mesmo periodo näo säo correferen-tes), enquanto que em posicäo final do periodo o verbo ocorre obrigatoriamente sem o sujeito expresso. Estando a Ana no hospital, decidimos visitá-la. Resolvi o assunto telefonando ao meu chefe. As oracôes adverbiais gerundivas podem exprimir diferentes valores temporais: o de anterioridade e sobreposicäo (eventualmente, posterioridade), devido ä existencia das duas formas: simples e composta: Tendo escrito os trabalhos, os alunos puseram-se a descansar. 309 Idem, ibidem. 310 Gramática do Portugués (2013: 2044-2061). 128 5. PERÍODO COMPOSTO Estava a ouvir música dancando. Além deste valor temporal, as adverbiais gerundivas podem exprimir valores semänticos causais, concessivos, condicionais (interpretacäo factual, näo contra-factual) e de modo. Na auséncia de um conector, contudo, a interpretacäo da oracäo gerundiva muitas vezes é ambivalente.311 Tendo chegado atrasado, O Joäo näo conseguiu apanhar o início do filme. (v.causal) Saindo da casa da Jenny, senti-me triste. (valor causal ou temporal) Ouvindo bem o que te digo, vais saber tudo. (valor condicional) Mesmo trabalhando, näo consegue poupar dinheiro para poder comprar uma carrinha (valor concessiva) A Maria conseguiu estudar toda a matéria preparando-se regularmente todos os dias. (valor de modo) As oracöes adverbiais gerundivas näo apresentam as mesmas restriccöes sobre o verbo como as oracöes participiais. Contrariamente äs adverbiais participiais, as gerundivas apresentam as seguintes propriedades sintácticas:312 • podem ocorrer com cliticos (tanto em próclise como em énclise): Cantando-lhe esta cancäo, sentiu-se melhor. Em cantando-lhe esta cancäo, sentiu-se melhor • podem ter o negador "näo", É um moinho de vento sem existencia real, näo correspondendo a nenhum dos modelos de construcäo europeia que estäo efectivamente em debate, (negador näo) • admitem coordenacäo com outra gerundiva adverbial no mesmo periodo: Näo sendo a regionalizacäo imposta pela história, nem pela geografia, näo correspondendo a nenhuma aspiracäo profunda das populacöes, näo sendo necessária do ponto de vista da integracäo europeia, que razäo ou razöes super-venientes de Interesse publico geral terá conduzido os mandatários políticos a retirar do arquivo esta reforma? • admitem construcöes com auxiliares: Mas tendo que escolher entre os dois, confesso que näo hesito: o dissidente é bem mais convincente que o regime . • Admitem sujeitos pronominais, como mostram os seguintes exemplos: Estando a Ana no hospital, decidimos visitá-la. 311 Gramática do Portugués (2013: 2045-2049). 312 Idem, ibidem. 129 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA As oracöes adverbiais gerundivas tambem podem aparecer em expressöes con-sagradas pelo uso, como säo as seguintes: resumindo e concluindo, pensando melhor, parafraseando, sintetizando, etc.. Em alguns dialectos do portugues, o geründio pode ser flexionado e apresentar desinencias de pessoa e nümero: eu vindo, tu vindes, ele vinde, nös vindomos, vös vindeis, eles vindem. Este geründio e chamado geründio flexionado e ocorre, mais comumente, no Sul de Portugal, sendo considerado como um regionalismo. Estas formas näo pertencem ä lingua padräo. Tu querendos, podemos namorar äs descondidas. Em sendem crescidos, levo-os a Lisboa. Onde e que eles mesmo trabalhandem, em ganhando o dinheiro, podiam semear alguma coisinha para eles. Quando sentindim outros animais, espantam-se. E entäo, nessa altura, vieram dois rapazes, fazendem parte, rapazes novos, e eu e mais um outro e que eramos os velhos. ...aquilo, se o hörnern näo arreben-tando...313 313 Maria Lobo, (2000). 130 6. Pontuacao 6. Pontuacao Pontuacao e o recurso que permite expressar na linguagem escrite um espectro de matizes ritmicas e melodicas, caracteristicas da lingua falada, pelo uso de um conjunto sistematizado de sinais graficos e nao graficos. Os sinais de pontuacao sao marcacoes graficas que contribuem significativamente para acoesao e a coerencia textual alem de ressaltar especificidades semanticas e pragmaticas. Encontram-se, entre eles, os seguintes: • Ponto (.) — Usa-se no final do periodo, indicando que o sentido esta complete E tambem usado nas abreviaturas (Dr., Exa., Sr.). Exemplo: Elefoi ao medico. • Virgula (,) — Marca uma pequena pausa no texto escrito e tambem uma separacao de membros de uma frase, nem sempre correspondente as pausas (mais arbitrarias) do texto falado. E usada como marca de separacao para: □ o aposto; o vocativo; o atributo; □ os elementos de um sintagma nao ligados pelas conjuncoes e, ou, nem; a as oracoes coordenadas assindeticas (nao ligadas por conjuncoes); □ as oracoes relativas; □ as oracoes intercaladas; □ as oracoes subordinadas e as adversativas introduzidas por mas, contudo, todavia, entretanto eporem. • Ponto e virgula (;) — Sinai intermediario entre o ponto e a virgula, que indica que o sentido da frase sera complementado. Representa uma pausa mais longa que a virgula e mais breve que o ponto. E usado em frases constituidas por varias oracoes, algumas das quais ja contem uma ou mais virgulas; tambem para separar frases subordinadas dependentes de uma subordinante; como substituicao da virgula na separacao da oracao coordenada adversativa da ora-cao principal. • Dois pontos (:) — Os dois pontos ou dois-pontos indicam um prenuncio, comu-nicam que se aproxima um enunciado. Correspondem a uma pausa breve da linguagem oral e a uma entoacao descendente (ao contrario da entoacao ascen-dente da pergunta). Anunciam: ou uma citacao, ou uma enumeracao, ou um esclarecimento, ou uma sintese do que se acabou de dizer.. • Ponto de interrogacao (?) — Usa-se no final de uma frase interrogativa directa e indica uma pergunta. • Ponto de exclamacao (!) — Usa-se no final de qualquer frase que exprime sen-timentos, emocoes, dor, admiracao, ironia, surpresa e estados de espirito. 131 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA • Reticéncias (...) — Podem marcar uma interrupcäo de pensamento, indicando que o sentido da oracäo ficou incompleto, ou uma introducäo de suspense, depois da qual o sentido será completado. • Aspas (" ") — Usam-se para delimitar citacöes; para referir titulos de obras; para realcar uma palavra ou expressäo. • Parénteses (()) — Marcam uma observacäo ou informacäo acessória interca-lada no texto. • Travessäo (—) — Marca: o o início e o fim das falas em um diálogo, para distinguir cada um dos inter- locutores; o as oracöes intercaladas; a o s sínteses no final de um texto. • Meia-risca (-) — Separa extremidades de intervalos. • Paragrafe — Constitui cada uma das seccöes de frases de um escritor; comeca por letra maiuscula, um pouco alem do ponto em que comecam as outras linhas. • Colchetes ([]) — utilizados na linguagem cientifica. • Asterisco (*) — empregado para chamar a atencäo do leitor para alguma nota (observacäo). Em linguística é usado para marcar uma fräse agramatical. • Barra (/) — aplicada nas abreviacöes das datas e em algumas abreviaturas. • Hifen (-) — usado para ligar elementos de palavras compostas e para unir pro-nomes átonos a verbos ( menor do que a Meia-Risca ) Separatio dos elementos dentro de uma oracäo por virgula A virgula indica uma pausa pequena, deixando a voz em suspenso ä espera da continuacäo do periodo. Geralmente é usada: • nas datas, para separar o nome da localidade; p.ex: Lisboa, 25 de agosto de 2013. • após os advérbios „sim" ou „näo", usados como resposta, no início da fräse; p.ex: Gostou do vestido? Sim, adorei! Näo, näo gostei. • após a saudacäo em correspondéncia (social e comercial); p.ex: Com muito amor, Respeitosamente, Atentamente, Cordialmente, • para separar os termos coordenados em enumeracäo; a conjuncäo „e" substitui a virgula entre o ultimo e o penúltimo termo; p.ex: Vai buscar trés päes, dois pacotes de leite e um quilo de bananas. • para destacar elementos intercalados, como: 132 6. Pontuacäo a) um conector: Ex.: Trabalhamos bastante, portanto, merecemos urna recom-pensa. b) um adjunto adverbial: Ex.: Estas criancas, com certeza, näo väo ficar sozin-has aqui. c) um vocativo Ex: Calma, Guidal d) um aposto: Ex. O Joäo Vasco, o nosso melhor aluno, ganhou a corrida. e) urna expressäo explicativa (isto é, a saber, por exemplo, ou melhor, ou antes, etc.) Ex.: Prečo do protótipo: 3,5 mil milhôes de dólares, isto é, 536,5 milhôes de contos. • para separar termos deslocados da sua posicäo normál na frase; Ex.: O documento de identidade, o senhor trouxe? • para separar elementos paralelos de um provérbio; Ex. Talpai, tal filho. • para destacar os pleonasmos antecipados ao verbo. Ex.: As flores, eu recebi(-as) hoje. • para indicar a elipse de um termo. Ex: O Daniel ficou alegre; eu,(-j triste. • para isolar elementos repetidos. Ex.: Estamos todos cansados, cansadosl • para separar oracôes intercaladas. Ex.: O importante, insistiam ospais, era a seguranca na escola. • para separar oracôes coordenadas assindéticas. Ex.: O tempo pára nas Sete Cidades, toda agente está sentada nos bancos, con-versam, descansam e näofazem nada. Para separar oracôes coordenadas adversativas, conclusivas, explicativas e algumas oracôes alternativas. Esforcou-se muito, porém näo conseguiu o prémio. Vá devagar, que o caminho éperigoso. Estuda muito, pois será recompensado. As pessoas ora dancavam, ora ouviam música. Embora a conjuncäo „e" seja aditiva, há trés casos em que se usa a vírgula: 1) Quando as oracôes coordenadas tém sujeitos diferentes. Ex.: O homem vendeu o carro, e a mulher protestou. 2) Quando a conjuncäo „e" é repetida com a finalidade de dar énfase (polissíndeto). Ex.:£ chorá, e ri, e grita, e salta de alegria. 3) Quando a conjuncäo „e" assume outro valor que näo seja de adicäo (adversi-dade, consequéncia, por exemplo) Ex.: Coitada! Estudou muito, e ainda assim näo foi aprovada. 133 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA 7. Referéncias bibliográficas BARRETO, Mario. De gramática e de linguagem, II. Rio de Janeiro, 1922. BEČKA, Josef. Slovo, jeho význam a užití. SPN Praha, 1968. BECHARRA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37a.edicäo, Rio de Janeiro, 2001. BLIKSTEIN, Izidoro. Linguística e comunicacäo. Cultrix, Säo Paulo, 1970. BUĎA, Jan. Colocacäo do adjetivo. Tese de Mestrado. FFMU, Brno, 2013. CAMARA, Mattoso Junior. Contribuicäo á Estilística Portuguesa. Säo Paulo, 1997. CUNHA, Celso, CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Portugués Contemporáneo. Joäo Sá de Costa, Lisboa, 1999. FONSECA, Joaquim. Linguística e texto/discurso.Teoria, descricäo, aplicacäo, Lisboa, 1992. FONSECA, Joaquim. Pragmática Linguística. Introducäo, Teória e Descricäo do Portugués, Porto, 1994. FONSECA, Fernanda Irene. Gramática e Pragmática. Estudos de Linguística Geral e de linguística Aplicada ao Ensino do Portugués, Porto, 1993. GRADIM, Anabela. Manual de Jornalismo, Livro de Estilo de Urbi et Orbi. Universidade de Beira e Covilhä, 2000. GREPL, Miroslav. Jak dál v syntaxi. Host, Brno, 2011. GREPL, M. a kol., Příruční mluvnice češtiny. Nakladatelství Lidové noviny, Praga, 1995. HAMPL, Zdeněk. Stručná mluvnice portugalštiny, Praga, 1972. HRICSINA, Jan. Vývoj modotemporálních paradigmat u portugalského verba finita z diachronního hlediska (tese de dissertacäo). Faculdade de Letras da Universidade Carolina, Praga, 2006. HRICSINA, Jan. „O estudo diacrónico da evolucäo dos paradigmas modotemporais do verbo portugués". Echo des études romanes, vol. IV/ Num. 1, (pp. 87-88), České Budějovice, 2008, HRISCINA, Jan. "A posicäo do adjetivo no sintagma nominal no portugués contemporáneo: Análise corporal." AUC, Philologica 2/2013, Romanistica Pragensia XIX (Les langues romanes á la lumiére des corpus linguistiques. Praga, 2013. 134 7. Referéncias bibliográficas HUDDLESTON, R., PULLUM, G.K. Longman Grammar of Spoken and Written English. Cambridge: CUP, (2002). JINDROVÁ, Jaroslava. "Modotemporální a aspektuální význam portugalského složeného perfekta. Studie z korpusové lingvistiky" in: Korpusová lingvistika. torno 1, Intercorp, (pp. 219 - 230), Praga, 2011. JINDROVÁ, Jaroslava. Fázové perifráze v portugalštině. Tese de dissertacáo, Faculdade de Letras da Universidade Carolina, Praga, 2013. KRČMOVÁ, Marie. "Mluvenost a psanost jako slohotvorní činitelé" in: Linguistica online, září, 2005. Disponível em: www.phil.muni.cz/linguistica/ art/krcmova/. KURY, Adriano de Gama. Novas licóes da análise sintáctica, Ática, Rio de Janeiro, 2002. LOBO, Maria. „Aspectos da sintaxe nas oracóes gerundivas do portugués dialectal." In: Congresso Internacional 500 Anos da Lingua Portuguesa no Braši. Universidade de Évora, 2000. LEAL, Antonio Carlos da Silva (com a colaboracáo de Luis Filipe de Matos Raposo). Morfos-Sintaxe. Um Modelo Sintagmático e Transformacional do Portugués Contemporáneo. Didáctica Editora, Lisboa, 1981. LUFTMANOVÁ, D. Syntaktická realizace řečového aktu žádosti z hlediska překladu. Faculdade de Letras da Universidade Carolina, Praga, 2000. NEVĚS, Maria Helena de Moura. Guia de Uso do Portugués - Confrontando regras e usos. Editora Unesp, Sáo Paulo, 2003. MADEIRA, Ana. Aquisicáo de L2. In P. Osório e R. Meyer (coord.). Portugués Lingua Segunda e Lingua Estrangeira. Lidel - Edicóes Técnicas, Lisboa 2008. OLIVEIRA, Fátima. „Questóes sobre Modalidade em Portugués" in Cadernos de Semántica n.° 15, 1993. OLIVEIRA, Fátima (coautoria com A. Lopes). „Tense and Aspect in Portuguese" in Thieroff, R. (org.) Tense Systems in European Languages, vol. II, (pp. 95-115). Max Niemeyer Verlag, Tubingen, 1995. OLIVEIRA, Fátima. „Domain Restrictions, Mental Models and Discourse Context" in Atas do 1° Congresso de Linguistica Cognitiva; (pp.165-180). Faculdade de Letras, Porto, 1999. OLIVEIRA, Fátima,, „Some Issues about the Portuguese Modals", in Belgian International Journal of Linguistics. 2000. OLIVEIRA, Fátima, "Sobre os tempos do conjuntivo", in Ofascinio de linguagem. Homenagem a Fernanda Irene Fonseca (109-118), 2003. 135 SINTAXE DA LINGUA PORTUGUESA RAMOS, Joaquim José de Sousa Coelho. Introducáo ao Portugués Juridico. Universidade Carolina em Praga. Karolinum, Praga, 2012. RAMOS, Joaquim José de Sousa Coelho. Presenca ou auséncia de artigo nos sintagmas preposicionais complemento e/ou modificadores de nome. Mestrado em Portugués Lingua Estrangeira. Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2012, SANTOS, Ana Sofia Rodrigues. A influéncia da LI no processo de aquisicáo de L2, XXIV Encontro Nacionál da APL, Lisboa, 2008. SPITZOVÁ, Eva. Sintaxis espaňola, SPN, Praha, 1990. SVOBODOVÁ, Iva. Morfologie portugalského jazyka I, Brno, 2014. SVOBODOVÁ, Iva. Morfologie portugalského jazyka II (Sloveso), Brno, 2015. SVOBODOVÁ, Petra. Verbální flexe v 1. os.j. č. minulého času prostého a její zemepisné varianty na území kontinentálního Portugalska, Faculdade de Letras da Universidade Palacký, Olomouc, 2011. ŠEVČÍKOVÁ, Magda. Funkce kondicionálu z hlediska významové roviny. ÚFAL, Praga, 2009. VILELA, Mario. Gramática de Valéncias: Teória e aplicacáo.Coimbm, 1992. ZAVADIL Bohumil. Čermák Petr. Mluvnice současné španělštiny. Universidade Carolina, Praga, 2010. Obras colectivas: Áreas Críticas da Lingua Portuguesa, Joäo Andrade Peres, Telmo Móia. Lisboa, 1995. Dicionário de Termos Linguísticos, Associacäo Portuguesa de Linguística. Lisboa, 1987. Gramática da Lingua Portuguesa, Maria Helena Mira Mateus, Ana Maria Brito, Inés Duarte, Isabel Hub Paria et col, Lisboa, Editorial Caminho - Coleccäo Universitária / Série LINGUÍSTICA), 1989, 2003. Gramática do Portugués, Fundacäo Calouste Gulbenkianů 2013. Introducáo ä Linguística Geral e Portuguesa. FARIA, Isabel Hub, et. Alii Editorial Caminho, Lisboa, 1996. Gramática - Texto: análise e construcáo de sentido, Maria Luiza Abaurre e Marcela Portara, Editorial Moderna, Säo Paulo, 2006. Dicionário da lingua portuguesa Contemporánea, Academia das Ciéncias de Lisboa e Lisboa, 2001. Linguística. Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto, Porto, 2006. 136 7. Referencias bibliograficas Nova Gramdtica do Portugues Contempordneo.Cunha, Celso a Cintra Lindley, Edicoes Joao Sa de Costa, Lisboa, 1985. Pontudrio Ortogrdfico e guia da lingua portuguesa. Magnus Bergstrom, Neves Reis, Lisboa, 2002. Corpora linguisticos www.linguateca.pt www.corpusdoportugues.org. www.intercorp.cz 137 Sintaxe da Lingua Portuguesa lva Svobodová Vydala Masarykova univerzita v roce 2014 1. vydání, 2014 Sazba: ASTRON studio CZ, Veselská 699,199 00 Praha ISBN 978-80-210-7027-1