SINTAXE DA LÍNGUA PORTUGUESA TERMOS INTEGRANTES OBJETO DIRETO E INDIRETO CLASSIFICAÇÃO DOS MEMBROS SINTÁTICOS TERMOS BÁSICOS FRASE SUJEITO E PREDICADO TERMOS INTEGRANTES COMPLEMENTOS – DIRETO, INDIRETO, OBLÍQUO, ADVERBIAL, NOMINAL, AGENTE DA PASSIVA TERMOS ACESSÓRIOS ADJUNTO ADNOMINAL, ADVERBIAL, VOCATIVO, APOSTO Selecção dos argumentos • Dentro do sintagma verbal, o verbo combina-se como termos integrantes, os quais integram, ou completam o sentido e sem os quais o predicador não poderia formar uma frase semanticamente coerente e completa. Assim, por exemplo, na frase: Eu vou lavar os dentes. • o verbo lavar, na função do predicado, combina-se com o argumento externo representado por eu e por um argumento interno os dentes sem o qual o verbo lavar não formaria nenhuma frase. A relação semântica estreita que existe entre um predicador e os seus argumentos chama-se selecção. Assim diz-se que um predicador selecciona os seus argumentos. • ENARIDADE • O número de argumentos seleccionados por um predicador chama-se enaridade do predicador ou valência. Nas línguas humanas, a maioria dos predicadores seleccionam de 1 a 3 complementos verbais. De acordo com o número de argumentos que o predicador seleciona, dividimos os predicadores em: predicadores de zero lugares, de um lugar (predicadores unários), de dois lugares (predicadores binários), de três lugares (predicadores ternários), de quatro lugares (predicadores quaternários). ENARIDADE PREDICADO R de 0 lugares de 1 lugar predicadores unários de 2 lugares predicadores binários de 3 lugares predicadores ternários de 4 lugares predicadores quaternários Predicadores de um lugar (predicadores unários) Entre os predicadores de um lugar (predicadores unários) contam-se verbos que admitem sujeito, mas não seleccionam argumentos integrantes: adormecer, dançar, desmaiar, espirrar, explodir, ladrar, morrer, nascer. Relembre-se que também nomes e adjectivos podem fazer parte do predicado nominal (ou de assim chamada predicação secundária). Assim sendo, adjetivos como triste, grande, esperto e nomes de profissão como médico e pedreiro, pertencem também a este grupo: Exemplificação: O menino nasceu. Sou professora. Ele é inteligente. Predicadores de dois lugares (predicadores binários) Os predicadores que seleccionam dois argumentos, chamados predicadores de dois lugares (predicadores binários), incluem a grande maioria dos verbos: amar, assustar, coser, detestar, ler pensar, temer, visitar, votar. Exemplificação: Nós votamos contra os nazí. Eu li o jornal. Também nomes como amigo, irmão, pai, ou adjectivos como contente, fiel, interessado pertencem aos predicadores relacionais seleccionando um argumento: contente com o trabalho, interessado no trabalho, fiel ao António, amigo do João. Os predicadores de três lugares (predicadores ternários) Os predicadores de três lugares (predicadores ternários) incluem os verbos ditransitivos. Entre estes predicadores contam-se verbos como dar, entregar, pôr, entre muitos outros: Exemplificação: A Joana deu um livro à Maria. O Pedro colocou o livro na pasta. (Nós) entregámos os trabalhos à professora. • Predicadores de quatro lugares Os predicadores de enaridade maior que três são apenas predicadores de quatro lugares (denominados predicadores quaternários). A este grupo de verbos pertencem os verbos que denotam movimento (atirar, levar, passar, transferir, trazer) ou transacções (p.ex.comprar, trocar, pagar, vender). Exemplificação: O Pedrinho trouxe a bola do jardim para a rua. A Isabel comprou um livro ao Luís por vinte escudos. COMPLEMENTO DIRETO Chama-se complemento directo ao constituinte da oração que integra o sentido de um verbo transitivo directo, exprimindo o ser para o qual se dirige a acção. Os verbos que seleccionam um argumento com a função de complemento directo são verbos transitivos e as frases que contêm um complemento directo são denominadas frases (orações) transitivas. COMPLEMENTO DIRETO O complemento directo não é introduzido tipicamente por uma preposição, quer seja sintagma nominal quer seja uma oração. O objecto directo pode exprimir-se por meio de: • um sintagma nominal: Comi um bolo., • uma oração subordinada finita: Digo que não posso ir ao cinema. • uma oração infinitiva: Diz estarem esgotados os bilhetes. • pronome pessoal oblíquo átono: (me, te, nos, vos, os, as, o, a). o qual pode substituir, ao mesmo tempo, o sintagma nominal na função do objeto direto. Comi-o. Digo-o. Di-lo. • pelo pronome interrogativo o que, que, quem, eventualmente, a quem, tendo a preposição um valor estilístico expressivo: O que compraste? Quem encontraste ontem? Assim as respostas na forma nominal funcionam como objectos directos: Comprei um livro. Encontrei o João. COMPLEMENTO DIRETO ● F SV V SN D N ● SN DN ● ● ● A Maria (sujeito) cantou uma canção (predicado) (complemento ● directo) Transformação da ativa para a passiva O complemento directo de uma oração transitiva corresponde tipicamente ao sujeito de uma frase na voz passiva: • O Zeca Afonso compôs a canção Grândola Vila Morena [objecto directo]. • • A canção Grândola Vila Morena [sujeito] foi composta pelo Zeca Afonso Apenas os verbos cujo sujeito é o agente (O Zeca Afonso) e o objecto um paciente ou tema (canção) admitem a transição para as versões passivas. Caso o sujeito seja um possuidor, esta transição resulta impossível (Temos um filme novo.* O filme é tido por nós). • custar, durar, medir, pesar Existem verbos que, formalmente, poderiam ser interpretados como transitivos e o seu argumento como o complemento direto. Trata-se dos verbos custar, durar, medir, pesar: A reunião durou duas horas. O Joãozinho mede já um metro. A filha do Zé já pesa 6 quilos. A casa custa 6 milhões de euros • Estas frases, contudo, não manifestam as mesmas características típicas de um complemento directo, ou seja • não são substituíveis pelos clíticos acusativos, • nem podem ocorrer com o sujeito de uma frase passiva, • nem respodem a uma pergunta iniciada pela locução interrogativa o que. Estas expressões são chamadas complementos oblíquos não preposicionados Os verbos medir e pesar, no entanto, Transformação da ativa para a passiva no caso dos verbos medir, pesar -podem ser passivizados, -podem selecionar um objeto direto na forma do pronome clítico acusativo -podem ter um uso transitivo, no qual o sujeito é agente e o complemento direto é paciente: -e também podem conter respostas às perguntas A avó mediu a criança em casa. A criança foi medida pela avó. A avó mediu-a. O carniceiro pesou as costeletas. As costeletas foram pesadas pelo carniceiro O carniceiro pesou-as.; A quem mediu a avó. O que pesou o carniceiro? Posição do objeto direto A posição típica (canónica) do objeto direto na oração é imediatamente à direita do verbo, antecedendo os restantes complementos: O Pedro colocou o livro na mesa. Esta ordem canónica do complemento direto ocorre tipicamente em contextos informativos neutros. No entanto, o complemento direto pode também sofrer alterações: por exemplo, surge à direita do complemento indireto se este for um pronome clítico ligado ao verbo ou também na forma complexa contraída dos dois complementos, o clítico acusativo surge depois do dativo: Dei-lhe o dinheiro./Dei-lho. • O complemento direto surge à direita do indireto também no caso em que se exprime por um sintagma nominal mais longo do que os outros complementos ou adjuntos da frase: Disse-lhe que não estou em casa. Levei para casa o jogo do Monopólio que a Ana me ofereceu. • COMPLEMENTO DIRETO PREPOSICIONADO o complemento direto não é introduzido por uma preposição. No entanto, existem contextos especiais em que um complemento direto é introduzido pela preposição a. Nestes casos, o complemento direto é denominado complemento directo preposicionado, tem sempre um traço humano e além das perguntas de controle introduzidas pelo pronome interrogativo quem ou a quem, referidas acima, podemos encontrar o uso de a nos seguintes contextos: COMPLEMENTO DIRETO PLEONÁSTICO • A preposição a ocorre obrigatoriamente com o complemento direto quando este é um pronome oblíquo tónico que acompanha um pronome clítico e tem um efeito estilístico enfático: Conheço-os a eles. As formas os e eles têm o mesmo referente. A frase neutra equivalente à sua contrapartida enfática é utilizada sem o pronome tónico enfático: Conheço-os. Contudo, é impossível a substituição do pronome clítico pelo pronome tónico nestas frases. Assim, resultaria agramatical a frase *Conheço (-) a eles • A preposição a ocorre facultativamente com o complemento direto quando este representa o tópico em posição inicial da frase: Ao Pedro, nunca (-) encontro na rua. Ao Pedro, nunca o encontro na rua. O Pedro, nunca o encontro na rua. O Pedro, nunca (-) encontro na rua. • • O complemento directo precede o verbo, formando um grupo prosódico distinto. Como vemos, pode ser ou não retomado por um pronome clítico.Quando é retomado, trata-se do objecto directo pleonástico. • A preposição ocorre com o complemento directo no caso dos verbos afectivos, como amar, louvar, temer: amar/louvar a Deus, amar ao próximo. Tipologia de funções semânticas – a lista mínima A lista mínima dos papéis temáticos é: 1. paciente 2. experienciador 3. Meta 4. Estímulo Paciente O papel semântico de paciente apresenta dois tipos diferentes: paciente afectado (que representa uma entitade afectada de algum modo por uma acção iniciada por um agente e paciente resultante (que representa a entidade criada como resultado do evento descrito pelo predicado: Exemplificação: A Teresa convidou os amigos para a festa. (paciente afectado) O Martim desenhou uma ovelha branca. (paciente resultante) . Experienciador = função semântica do argumento que designa a entidade a quem é atribuída uma propriedade não dinâmica, que é sede psicológica ou física de uma dada propriedade ou relação. O papel semântico experienciador ocorre com os verbos que exprimem estados psicológicos de natureza emocional (p. ex. aborrecer, alegrar, assustar, preocupar, surpreender). Neste casos, o complemento direto representa a entidade animada que se encontra nesse estado Exemplificação: A Ana assustou o filho. Essa notícia desgostou toda a gente. . Meta O papel semântico de meta ocorre com verbos que denotam movimento (p.ex. abarrotar, atafulhar, atestar, carregar, encher). Nesse caso o complemento directo denota um lugar que é meta ou destino final de um movimento. Exemplificação: O Zé carregou a carroça de lenha. (meta) Carla encheu a estante de livros. (meta) Estímulo O papel semântico de estímulo ocorre com verbos que significam percepção (p.ex. escutar, ouvir, sentir, ver) ou com verbos de natureza estativa que denotam uma actitude afectiva causada por algo ou alguém externo ao experienciador (p.ex. adorar, odiar, temer, conhecer. Exemplificação: Odeio o egoísmo. (estímulo) Conheci o João na festa. (estímulo) OBJETO INDIRETO O complemento indireto caracteriza-se por ser unido com o verbo por meio de uma preposição formando, portanto, um sintagma preposicional cujo núcleo é a preposição a/para. Exemplificação: Escrevi à Ana. Ofereci uma prenda ao Pedro. • OBJETO INDIRETO No caso de o complemento direto ser um pronome, este realizase através das formas oblíquas clíticas dativas me, te,lhe, nos, vos lhes. Esta também pode substituir o complemento indirecto com o núcleo nominal. Assim, as frases acima mencionadas poderiam ser substituídas por: Exemplificação: Escrevi-lhe. (à Ana). Ofereci-lhe (ao Pedro) uma prenda. • OBJETO INDIRETO • Caso esta substituição não seja possível, o sintagma preposicional não pode ser interpretado como complemento indireto mas sim como advérbio locativo (adjunto adverbial de direção), como se vê na seguinte frase: Exemplificação: Cheguei à reunião./*Cheguei-lhe. • OBJETO INDIRETO O complemento indireto responde tipicamente a perguntas iniciadas pelo sintagma preposicional a quem: Exemplificação: A quem é que escreveste? Escrevi à Ana. • COMPLEMENTO INDIRETO ● F SV V SN Prep. Det. N escrevi à ● SN Pron ● ● ● Eu Ana POSIÇÃO DO COMPLEMENTO INDIRETO • ocorre tipicamente à direita do complemento directo: Enviou o dinheiro ao Pedro. • No entanto, o complemento indireto na forma clítica segue imediatamente o verbo e precede o complemento direto: Cantou-lhe uma canção. • Ccaso o complemento direto seja representado por uma oração subordinada ou por um sintagma nominal longo ou estruturalmente complexo, o complemento indireto ocorre imediatamente a seguir o verbo: A Fátima disse-lhe que vai chegar atrasada ao jantar. O Pedro ofereceu-me o livro que tinha escrito sobre o Teatro Revista. • Dativo de posse // Dativo ético Há dois casos em que o complemento indireto pode ser de carácter expressivo-pragmático. São os chamados dativos de posse e dativos éticos. Trata-se de complementos indiretos introduzidos pela preposição a e pelo pronome clítico. • COMPLEMENTO INDIRETO – dativo de posse • O dativo de posse ocorre na construção em que o complemento indireto se manifesta na forma de um pronome dativo. É utilizado quando o falante pretende perspetivar a entidade representada pelo dativo de posse como afetada de modo subjetivo pelo evento realizado por alguma pessoa contextualmente determinada como se pode observar na seguinte frase: • A mãe conhece-nos as manias. (no sentido de as nossas manias). COMPLEMENTO INDIRETO – dativo ético O dativo ético é sempre um pronome dativo que remete para uma entidade, embora não corresponda a um participante da ação descrita pela frase. É de alguma maneira afetada por ele. Esta construção usase em frases exortativas ou exclamativas, facto pelo que as formas mais comuns em que o dativo ético aparece, são a 1ª e a 2ª pessoa: Exemplificação: Não me toques no José! Abre-me este diccionário! O meu filho adoece-me sempre que começam as aulas em Setembro. Tipologia de funções semânticas – a lista mínima A lista mínima dos papéis temáticos é: 1. Origem 2. Fonte 3. Beneficiário Fonte/Origem = função semântica do argumento que designa a entidade não controladora que está na origem de uma dada situação. O papel temático de origem (fonte) ocorre, por exemplo, com os verbos comprar, roubar, tirar: Exemplificação: Comprei a saia à Ana. (destinatário/ou origem) Destinatário O papel temático de destinatário ocorre com os verbos transitivos indirectos que denotam geralmente um indivíduo a quem se destina a entidade transferida. Estes verbos são denominados verbos de transferência e entre eles contam-se: dar, comprar, entregar, oferecer, vender. dizer, explicar, falar, sorrir.: Exemplificação: Sorriu à Ana. Deu uma prenda à Fátima. Beneficiário = função semântica do argumento que designa a entidade para a qual foi algo transferido, em sentido literal ou alargado. O papel temático de beneficiário ocorre com verbos que têm alguma coisa a ganhar ou a perder com a transferência.Habitualmente, o complemento indirecto no papel temático de beneficiário, é introduzido pela preposição para: : Exemplificação: Dei-lhe um cheque. (destinatário ou beneficiário) O João ofereceu um livro à Maria. Comprou um carro ao/para o filho. (destinatário ou beneficiário) Caso o beneficiário e a origem co-ocorrerem numa frase, o papel temático de origem é introduzido pela preposição a e o beneficário pela preposição para: Comprou um carro ao vizinho[origem] para o filho. [destinatário/beneficiário]. COMPLEMENTO INDIRETO COM VERBOS DIRETIVOS Outros verbos que selecionam o complemento indireto são os verbos diretivos (p.ex. ordenar, pedir, propor, rogar, sugerir, suplicar) entre outros, que denotam ordens, pedidos, recomendações, conselhos dirigidos pelo(s) agente(s) a um indivíduo ou a um grupo de indivíduos: Exemplificação: Proponho-te fazeres um orçamento aceitável. Sugeri à Ana que fosse ao médico COMPLEMENTO INDIRETO COM VERBOS INTRANSITIVOS EXISTENCIAIS Também pertencem ao grupo dos verbos que se podem ligar com o complemento indireto verbos intransitivos existenciais (p. ex. bastar, chegar, faltar, sobrar, constar, ocorrer, parecer), verbos psicológicos (p. ex. agradar, apetecer, aprazer, convir, custar, desagradar, doer, importar, interessar, repugnar) e o verbo de posse (p. ex. pertencer): Exemplificação: Sobrou-me algum dinheiro. Falta-lhe o interesse pelo trabalho. Chegam-me 20 euros para a viagem. Não me parece que esteja preocupado. COMPLEMENTO INDIRETO COM VERBOS INTRANSITIVOS DE OBEDIÊNCIA E SOBREVIVÊNCIA • Outro grupo dos verbos intransitivos que selecionam um complemento indireto são os verbos desobedecer obedecer, resistir, sobreviver. Nestes casos, o complemento indireto pode representar uma entidade não humana. Exemplificação: Sobrevivemos à catástrore. O João não conseguiu resistir à tentação. Obedeça-se às leis. •